As figuras de pensamento são recursos linguísticos que atuam na forma de organização das ideias, com o objetivo de construir textos mais expressivos, criativos e plurissignificativos. Elas podem gerar diferentes efeitos, como intensidade, suavização, humor, contraste, etc. As figuras de pensamento existentes são a ironia, o eufemismo, a ironia, a prosopopeia, a antítese, o paradoxo e a gradação.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre figuras de pensamento
- 2 - Videoaula sobre figuras de pensamento
- 3 - Afinal, o que é uma figura de pensamento?
- 4 - Quais são as figuras de pensamento?
- 5 - Função das figuras de pensamento
- 6 - Exercícios resolvidos sobre figuras de pensamento
Resumo sobre figuras de pensamento
- As figuras de pensamento são um dos tipos de figuras de linguagem.
- Nas figuras de pensamento, explora-se o modo de organizar as ideias, a fim de ampliar o sentido ou aumentar a criatividade da escrita.
- As figuras de pensamento são muito utilizadas em textos literários, devido ao seu caráter expressivo e criativo.
- As figuras de pensamento existentes são: hipérbole, eufemismo, ironia, prosopopeia, antítese, paradoxo e gradação.
- A hipérbole provoca um exagero intencional, enquanto o eufemismo busca suavizar a mensagem.
- A ironia é o ato de dizer o contrário do que se quer expressar.
- A prosopopeia é a ação de dar vida, comportamento ou sentimentos humanos a seres inanimados ou a outros animais.
- A antítese utiliza a aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
- O paradoxo faz afirmações ilógicas ou impossíveis para dar expressividade ao que se pretende dizer.
- A gradação é o ato de organizar as ideias em uma sequência específica, a fim de dar efeito ascendente ou descendente.
Videoaula sobre figuras de pensamento
Afinal, o que é uma figura de pensamento?
As figuras de pensamento são um tipo de figura de linguagem, por isso podem ser compreendidas como recursos linguísticos utilizados com o objetivo de gerar expressividade do texto. No caso das figuras de pensamento, elas exploram as formas de pensar, apresentando ideias fora de uma lógica literal (sentido denotativo). Essas figuras ajudam a compartilhar os pensamentos de forma expressiva e criativa, por isso são muito comuns nos textos literários.
Exemplos:
Estava cansada, mas mantive um comportamento profissional com todos.
Estava cansada, acabada por dentro, sorridente e educada por fora.
Nos exemplos acima, há duas formas de expressar um mesmo pensamento. Na primeira frase, o locutor indica, de forma objetiva, a oposição entre seu estado interno (cansada) e seu estado externo (profissional). Já no segundo exemplo, o locutor usa da antítese entre as palavras dentro e fora, acabada e sorridente, para mostrar a mesma oposição da primeira frase. A diferença entre elas, portanto, é que a segunda tem mais expressividade, já que utiliza a figura de pensamento, enquanto a primeira é mais objetiva e literal.
Quais são as figuras de pensamento?
As figuras de pensamento ou de ideias são:
- hipérbole,
- eufemismo,
- ironia,
- prosopopeia,
- antítese,
- paradoxo e
- gradação.
→ Hipérbole
A hipérbole é um exagero intencional, ou seja, feito para causar intensidade na mensagem, deixando-a mais expressiva ou impactante, por exemplo.
Estou morrendo de saudades de você, amiga!
“Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade”
(Trecho da canção Exagerado. Composição: Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni)
Nos exemplos acima, a hipérbole é utilizada para expressar sentimentos de forma aparentemente exagerada, mas que visam simbolizar, justamente, a intensidade dessas emoções. Na primeira frase, a expressão morrendo de saudades utiliza o exagero para comunicar uma grande saudade da amiga. Já no trecho da música Exagerado, as expressões Daqui até a eternidade e traçados na maternidade são exageros que revelam a intensidade do sentimento amoroso do sujeito lírico.
→ Eufemismo
É uma suavização intencional de alguma ideia ou sentimento, a fim de atenuar a mensagem, isto é, deixá-la menos impactante.
Ele faltou com a verdade sobre o ocorrido, por isso decidimos terminar.
“Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar”
(Manuel Bandeira)
Nos exemplos acima, o eufemismo aparece em dois contextos diferentes, suavizando o teor da mensagem. Na primeira frase, a expressão faltou com a verdade ameniza o peso da mentira e pode ter sido utilizada para diminuir o teor emotivo da frase ou até para deixar a comunicação mais formal, por exemplo. Já o exemplo do poeta Manuel Bandeira usa o eufemismo na palavra Indesejada para se referir à morte, deslocando parte da densidade dessa ideia, ao mesmo tempo em que mantém seu teor desagradável aos humanos.
→ Ironia
Ironizar é o ato de dizer o contrário do que se quer expressar, com o objetivo de amenizar um sentimento, realçar uma crítica ou gerar humor, por exemplo.
Quem foi o inteligente que deixou a água perto do teclado do computador?
“Bons joalheiros, que seria do amor se não fossem vossos dixes e fiados?”
(Machado de Assis)
Nos exemplos acima, a ironia é utilizada para cumprir diferentes objetivos. Na primeira frase, a palavra inteligente marca a ironia, pois, na verdade, julga-se o ato de deixar a água perto do teclado como algo não inteligente. Nesse caso, a ironia pode ter sido utilizada para amenizar ou reforçar a frustração do locutor. Já no segundo exemplo, a ironia está na pergunta que relaciona a permanência do amor com os dixes (tipo de adorno ou joia) e fiados dos joalheiros. Com isso, critica-se a superficialidade do sentimento amoroso e sua dependência de objetos materiais.
→ Prosopopeia ou personificação
Usamos a prosopopeia para dar vida a seres inanimados (objetos, elementos da natureza, emoções, etc) ou sentimentos e comportamentos humanos a outros animais. Esse tipo de figura de linguagem é muito utilizada, por exemplo, nas animações e desenhos infantis, nos quais, boa parte dos personagens são animais, coisas ou seres fantásticos, mas todos apresentam comportamentos e sentimentos baseados na diversidade humana.
Além disso, a personificação pode aparecer pontualmente em alguns textos, como no exemplo abaixo, em que o poeta João Cabral de Melo Neto atribui ao amor a ação humana de comer, para simbolizar os ganhos e perdas que a experiência amorosa lhe causou, isso também é uma personificação, nesse caso, de um sentimento.
“Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. [...]
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.”
(João Cabral de Melo Neto)
→ Antítese
Aproximação de palavras semanticamente opostas, sem necessariamente apresentar uma contradição. Nessa figura, palavras e frases de sentidos opostos são utilizadas para construir uma determinada ideia.
Por fora, sorrisos. Por dentro, lágrimas.
“Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”
(Ferreira Gullar)
Nos dois exemplos acima, é possível constatar a presença da antítese na construção das ideias. Na primeira frase, as palavras sorrisos e lágrimas possuem significados opostos, assim como dentro e fora, logo, há duas antíteses na frase, elas são utilizadas para expressar a diferença entre a aparência do sujeito e seu real estado interno.
Já no segundo exemplo, o poeta Ferreira Gullar utiliza a antítese entre os vocábulos escuras e branco, amarga e adoço, que apresentam significados opostos, para evidenciar a diferença entre a realidade de quem produz versus de quem consome esse açúcar, realçando, dessa forma, desigualdades sociais do país.
→ Paradoxo
O paradoxo é uma ideia literalmente contraditória, mas que é utilizada de forma simbólica para representar um pensamento ou intensificar a expressividade de alguma ideia.
Não posso viver comigo, estou farta de mim.
“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”
(George Orwell)
Nos dois exemplos acima, é possível identificar ideias aparentemente contraditórias, mas que, na realidade, simbolizam alguns sentimentos e ideias de forma simbólica. Na primeira frase, a contradição presente está na afirmação “não posso viver comigo”, algo que, humanamente, é impossível, mas que, no contexto, pode ser compreendido como o sentimento de insatisfação do sujeito consigo mesmo. Já no segundo exemplo, a contradição está na ideia de que existem animais ‘mais iguais que outros’ em um contexto onde todos seriam iguais; esse paradoxo, na obra, é utilizado para realçar a hipocrisia de um discurso sobre igualdade que disfarçava a desigualdade e opressão do sistema.
→ Gradação
Organização progressiva das ideias, pode ter efeito crescente ou decrescente. O efeito crescente ocorre quando essas ideias ascendem, ou seja, há uma sensação de ampliação ou crescimento. Já no efeito decrescente, as ideias tendem a um movimento de decadência ou diminuição. Observe:
- Crescente (clímax):
Cheguei, tomei banho, comi e comecei a trabalhar.
- Decrescente (anticlímax):
A turma, antes agitada e vibrante, tornou-se parada e, por fim, completamente apática.
Na primeira frase, as ideias seguem uma ordem ascendente, pois há uma noção de ampliação na sequência. A primeira ação (cheguei) representa o começo de uma sequência que alcança o ápice na ação final (trabalhar). Já no segundo exemplo, as ideias seguem uma ordem decrescente, pois a situação inicial (agitada e vibrante) é o ápice e as demais vão diminuindo até o ponto mais baixo da sequência (completamente apática).
O poema E agora, José?, de Carlos Drummond de Andrade, utiliza a gradação decrescente para construir uma sequência de ideias que pode ser interpretada como um esvaziamento dos estímulos e reconhecimentos externos, que vai encaminhar o sujeito lírico a uma condição de isolamento e interiorização.
“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
[...]”
(Carlos Drummond de Andrade)
Função das figuras de pensamento
Por serem recursos linguísticos que exploram os sentidos simbólicos das ideias, as figuras de pensamento podem contribuir para a expressividade e a criatividade da mensagem, pois apostam na construção estética, investindo em formas de dizer que estão fora do convencional. Isso contribui para que o texto cause mais impacto ou sensibilidade no leitor e pode favorecer uma leitura mais envolvente e dinâmica.
Também favorecem a construção de significados amplos, pois trabalham com sentidos múltiplos e, por isso, podem abarcar diversas possibilidades interpretativas e elaborar ideias mais profundas e complexas sobre os temas.
Por fim, as figuras de pensamento contribuem para o desenvolvimento da leitura, visto que estimulam o leitor a exercitar seu raciocínio analítico, comparativo e crítico para desenvolver a interpretação das figuras de linguagem, auxiliando, dessa forma, na manutenção e ampliação da habilidade de leitura.
Saiba mais: Quais são as figuras de som?
Exercícios resolvidos sobre figuras de pensamento
1. (ADVISE 2022)
De acordo com as figuras de pensamento, analise:
“Consiste na aproximação de ideias, palavras ou expressões de sentidos opostos. Exemplo: Quando os tiranos caem, os povos se levantam.”
(Fonte adaptada: Agnaldo Martino: Esquematizado - Português: gramática, interpretação de texto, redação oficial, redação discursiva. Acesso em 30 de junho de 2022)
Com base na citação acima, assinale a alternativa que corresponde à figura de pensamento predominante.
A) Antítese.
B) Antonomásia.
C) Catacrese.
D) Comparação.
E) Gradação.
Resposta: A
Comentário: A figura de linguagem definida na citação e exemplificada na frase é a antítese, que consiste na aproximação de palavras ou expressões com sentidos opostos. No exemplo, essa oposição ocorre entre as palavras caem e levantam.
2. (Objetiva Concursos, 2025)
Assinale a alternativa que indica a figura de linguagem apresentada na imagem.

A) Eufemismo.
B) Hipérbole.
C) Perífrase.
D) Sinestesia.
E) Antítese.
Resposta: B
Comentário: Na tirinha acima, a figura de linguagem presente é a hipérbole, visto que o pai utiliza a expressão “um milhão de vezes” como um exagero intencional, com o objetivo de expressar que já fez o pedido muitas vezes ao filho.
Fontes
LEAL, Luciana Brandão. Estudos sobre a ironia em Memórias póstumas de Brás Cubas: uma fenda na voz do narrador narcisista. Machado de Assis em Linha, v. 15, 2022. DOI: 10.1590/1983-68212022153. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mael/a/rbHFn9npNbHJhbfzVLRRdbh/?format=html&lang=pt.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 49.ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.