Você sabe o que é periferia? Periferia é o nome dado às áreas mais afastadas do centro de uma cidade, sendo elas o resultado da segregação socioespacial no espaço urbano. As periferias são densamente povoadas e concentram principalmente a população de mais baixa renda. Elas são marcadas pela escassez de infraestrutura urbana e pela ausência do Estado na elaboração de medidas que visem à melhoria da qualidade de vida nas áreas periféricas.
Em países como o Brasil, a urbanização rápida e desordenada ocasionou o aprofundamento das desigualdades socioeconômicas nas cidades que se refletiu no espaço por meio da expansão das áreas periféricas. As periferias existem, também, em diversos outros países, mas suas características variam de acordo com as particularidades do processo histórico de urbanização em cada um deles.
Leia também: Você sabe o que são as favelas?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre periferia
- 2 - Afinal, o que é periferia?
- 3 - Características da periferia
- 4 - Diferenças entre periferia e favela
- 5 - Exemplos de periferia
- 6 - Periferia no Brasil
Resumo sobre periferia
- Periferia é a área mais distante do centro da cidade, sendo ela o produto direto da segregação socioespacial no espaço urbano.
- A elevada densidade populacional, a concentração de população de baixa renda, a escassez de infraestrutura urbana e a ausência do Estado são características da periferia.
- Periferia não é sinônimo de favela. A favela é um tipo de arranjo habitacional formado por casas simples situadas em áreas irregulares ou de risco e fruto de autoconstrução.
- As periferias incluem, também, as favelas, mas não se limitam a elas. Existem periferias com loteamentos e com conjuntos habitacionais populares.
- O bairro do Bronx, em Nova Iorque, é um exemplo de periferia no mundo.
- No Brasil, as periferias são resultantes do processo acelerado de urbanização a partir da segunda metade do século XX, que provocou a macrocefalia urbana.
- Por causa do seu processo histórico de formação e de aspectos da estrutura socioeconômica brasileira, uma parcela significativa da população da periferia é preta ou parda.
- Apesar das periferias do Brasil serem mais evidentes nas grandes cidades, elas podem ser encontradas em todo o território nacional.
Afinal, o que é periferia?
Periferia é um conceito muito amplo e complexo, mesmo no escopo da ciência geográfica. Trabalharemos, nesse texto, com a periferia a partir da ótica da Geografia Urbana, que se dedica ao estudo do espaço urbano e da evolução das cidades.
Nesse sentido, e considerando exclusivamente os limites físicos dos arranjos espaciais, a periferia é a área que se encontra mais afastada do centro das cidades. Ela não é tão distante a ponto de não ser considerada como parte daquele núcleo urbano, como acontece no caso das áreas periurbanas. Entretanto, ela está posicionada longe o suficiente para ter dinâmicas socioespacial e econômica próprias que diferem do restante da cidade.
Assim, a periferia pode ser compreendida como sendo a área que está na margem da cidade. Quando falamos em margem, tratamos não somente do espaço físico, mas, em especial, da maneira como a população que vive nessas áreas está inserida no meio social. É na periferia que as desigualdades sociais e econômicas se materializam no espaço físico de forma mais evidente. Nela, manifesta-se, também, a negligência do Estado.
Por causa disso, nem sempre a periferia urbana é a região mais longínqua do centro em termos de distância física. O termo pode ser usado para descrever a área em que habita a população com mais baixa renda, em que as oportunidades são escassas, e a densidade de infraestrutura urbana e normativa é inferior àquela observada em outros segmentos da cidade.
Características da periferia
A periferia é o produto tanto da expansão acelerada do tecido urbano quanto da perpetuação de uma estrutura social e econômica desigual que faz parte do sistema econômico em que estamos inseridos. A combinação de ambos os fatores resulta na segregação do espaço urbano. Os preços elevados das moradias em áreas centrais expulsa a população mais pobre para terrenos afastados ou, ainda, para áreas de risco desprovidas de segurança e de infraestrutura básica. Nessas localidades é que vive a maior parte da população de baixa renda.
As periferias de diversas partes do mundo são caracterizadas pela elevada densidade populacional, bem como pelos altos dinamismos social e econômico. Nela, vive uma ampla parcela de população que trabalha em diferentes regiões da cidade e realiza, diariamente, longos e cansativos trajetos até o seu local de trabalho. Ao mesmo tempo, pequenos comércios e diferentes tipos de empreendimentos criados por moradores são muito comuns nessa área da cidade e atendem principalmente à comunidade local.
O transporte público na periferia, embora muito utilizado, é limitado. As linhas que alcançam áreas nobres ou mais distantes são restritas e circulam em horários específicos, atendendo, sobretudo, aos trabalhadores. É muito comum que os moradores que necessitam do transporte público em cidades grandes, como as capitais, dependam do uso de diferentes modais (trem, metrô, ônibus) ou de mais de uma condução para se deslocarem até ao trabalho e a outros espaços da cidade. Nas periferias em que essa é a realidade, podemos afirmar que o acesso de seus moradores à cidade é limitado.
Assim como o transporte, as redes de infraestrutura urbana são precárias na periferia. Elas nem sempre atendem a todas as residências dessa área, e não são todos os serviços que estão disponíveis para os moradores, a exemplo de redes de esgoto e da coleta de lixo. Por causa disso, problemas ambientais proliferam-se, a exemplo da poluição dos mananciais e dos solos, o que afeta a saúde e o bem-estar da população. Essa característica evidencia uma ausência parcial do Estado nos bairros periféricos da maior parte das cidades do Brasil e do mundo. Parcial porque ele está presente por meio da força policial e da vigilância como uma forma de conter um problema que também é comum em diversas áreas do meio urbano: a violência.
Entretanto, as políticas públicas que visam à efetiva melhoria das condições estruturais e da qualidade de vida da população são escassas na periferia. As ações que são observadas nesses espaços são resultantes da organização dos moradores e da criação de coletivos populares. Eles auxiliam a expor os problemas enfrentados e a buscar por soluções que sejam compatíveis e que ofertem ao menos o básico para garantir a qualidade de vida dessa população. Assim, a periferia torna-se um espaço de resistência e de luta constante.
Vale ressaltar que as características que elencamos acima são genéricas e podem não se aplicar a todos os bairros e espaços periféricos. A periferia é uma área marcada pelos intensos dinamismos social, econômico, político e cultural, e não existe de maneira isolada no tecido urbano. Mesmo dentro dos limites de uma mesma cidade, especialmente as metrópoles, observamos distinção entre periferias. Por isso, quando falamos nesse tipo de recorte espacial, é sempre importante analisar cada caso individualmente, respeitando as particularidades de cada local e da sua população. Além disso, por causa do avanço da urbanização, a periferia das cidades sempre foi o espaço para a construção de loteamentos e de conjuntos habitacionais populares.
Diferenças entre periferia e favela
Periferia e favela são conceitos distintos na Geografia Urbana, apesar de poderem se sobrepor no espaço quando analisamos a configuração das cidades. Entenda, a seguir, as diferenças entre eles:
- Periferia: designa uma área do tecido urbano que é afastada do centro e que é resultante da segregação socioespacial na cidade, sendo uma habitada pela parcela pobre da população urbana. Uma periferia pode ser constituída por diferentes tipos de arranjos habitacionais. Pode ter alta densidade populacional e enfrenta uma série de problemas infraestruturais. Inclui as favelas, mas não se limita a elas.
- Favela: é o termo usado para designar um tipo de arranjo habitacional formado por casas construídas de modo informal, comumente levantadas pelos próprios moradores ou por pessoas da comunidade. Por causa disso, as redes de infraestrutura são deficitárias. A população de baixa renda é predominante na favela, que é caracterizada, também, pela elevada densidade populacional. As favelas são parte da periferia. Existem autores que defendem a ideia de que, mesmo que a favela esteja situada em uma área diferente da periferia física da cidade, ela pode ser considerada uma periferia por causa da segregação socioespacial que a originou.
Confira também: Você sabe o que é macrocefalia urbana?
Exemplos de periferia
As periferias existem em todo o mundo, mas elas assumem características muito diferentes de acordo com a cidade em questão, com o processo de expansão do tecido urbano, com a cultura e a com forma como as desigualdades socioeconômicas se manifestam sobre o espaço. A seguir, apresentamos três exemplos de periferias famosas ao redor do mundo.
→ Bronx, em Nova Iorque (Estados Unidos)
→ Kibera, em Nairóbi (Quênia)
→ Clichy-sous-Bois em Paris (França)
Periferia no Brasil
A periferia no Brasil expandiu-se com a aceleração do processo de urbanização que aconteceu durante a segunda metade do século XX. Entretanto, seu surgimento enquanto a área pobre da cidade aconteceu ainda ao final do século XIX, com a abolição da escravidão e o deslocamento de pessoas recém-libertas para áreas mais afastadas, uma vez que não tinham fonte de renda para adquirir um imóvel ou para instalar-se no centro das cidades. Esse processo marcou a concepção das favelas no território brasileiro e nos ajuda a entender um dos aspectos demográficos em comum das periferias do país: a elevada concentração de população preta e parda.
A industrialização e a modernização agrícola que transcorreram a partir da segunda metade do século XX condicionaram o êxodo rural e o crescimento acelerado das cidades brasileiras. Sem recursos para manterem-se na região central, uma parte dessa nova população que migrou para as cidades teve de instalar-se em áreas periféricas, muitas vezes sem a devida infraestrutura. Lembremos que o ritmo da urbanização brasileira e a falta de planejamento resultaram no que chamamos de macrocefalia urbana, que nada mais é do que o inchaço do tecido urbano e a ausência de infraestrutura adequada para receber o novo contingente populacional.
Mesmo os programas habitacionais que foram desenvolvidos como uma tentativa de sanar o déficit de moradias tinha a periferia como área prioritária para a construção, reforçando o caráter segregacionista da urbanização brasileira. A clara distinção entre um centro e uma periferia, no Brasil é observada em capitais e nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Manaus, por exemplo. Isso não significa, entretanto, que não exista periferia em cidades médias e pequenas. Elas estão presentes em todo o país, já que as desigualdades socioespaciais que resultam na sua constituição são uma característica do território brasileiro.
Créditos de imagem
[1] Emily Bertazzo / Wikimedia Commons (reprodução)
[2] Josue Marinho / Wikimedia Commons (reprodução)
[3] Chabe01 / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
CANETTIERI, Thiago. Periferias, produção social crítica e urbanização sem salário. Belo Horizonte: Cosmópolis, 2024.
D’ANDREA, Tiaraju. Contribuições para a definição dos conceitos periferia e sujeitas e sujeitos periféricos. Novos Estudos, vol. 39, n. 1, jan.-abr. 2020. Disponível em: https://novosestudos.com.br/produto/116/.
FREIRE, Jussara. Favela é periferia. Dicionário de Favelas Marielle Franco, [s.d.]. Disponível em: https://wikifavelas.com.br/index.php/Favela_%C3%A9_periferia.
JESUS, Likem Edson Silva de. Periferia, um termo crítico: distanciamentos espaciais, sociais e simbólicos nas cidades. Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais, v. 10, n. 1, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/revistamseu/article/view/244989.
MEKARI, Danilo. Periferia reúne espaços de resistência e rebeldia frente ao modelo atual de cidades. Educação e Território, 12 jun. 2015. Disponível em: https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/periferia-reune-espacos-de-resistencia-e-rebeldia-frente-ao-modelo-atual-de-cidades/.
PALLONE, Simone. Diferenciando subúrbio de periferia. Ciência e Cultura, v. 57, n. 2, p. 11-11, 2005. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252005000200006.
