Narrador onisciente: o que é e exemplos - Brasil Escola

Narrador onisciente

O narrador onisciente é aquele que tem o conhecimento total acerca do universo íntimo dos personagens. Esse tipo de narrador pode ser neutro, intruso ou seletivo.

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Narrador onisciente é um tipo de narrador. Ele narra a história em terceira pessoa, já que não participa dos acontecimentos narrados. Assim, apresenta conhecimento total acerca dos fatos narrados e do universo íntimo dos personagens. Esse tipo de narrador pode ser neutro (optar pela imparcialidade), intruso (expressar ideias, opiniões e análises), seletivo ou seletivo múltiplo (narrar a partir da perspectiva de um ou mais personagens).

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Leia também: Gênero narrativo — os elementos característicos desse tipo de texto

Tópicos deste artigo

Resumo sobre narrador onisciente

  • O narrador onisciente é aquele que conhece todos os detalhes da história e o universo interior dos personagens.

  • Esse tipo de narrador utiliza a terceira pessoa e apresenta uma noção completa dos fatos e dos personagens.

  • O narrador onisciente pode ser neutro, intruso, seletivo ou seletivo múltiplo.

O que é narrador onisciente?

Imagem conceitual traz um grande olho que observa tudo ao redor, em referência ao narrador onisciente. [imagem_principal]
O narrador onisciente vê tudo e sabe de tudo.

O narrador onisciente é aquele que conhece tudo acerca dos personagens e da trama. Assim, os personagens não podem ocultar nada desse narrador, o qual conhece todos os seus segredos, desejos e pensamentos íntimos. Além disso, ele é conhecedor de todos os detalhes da trama, sabendo todos os detalhes dos fatos narrados.

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Características do narrador onisciente

O narrador onisciente:

  • utiliza a terceira pessoa;

  • não participa como personagem da história narrada,

  • é onipresente, ou seja, está em todo lugar ao mesmo tempo,

  • tem uma visão completa e detalhada dos fatos e dos personagens.

No entanto, apesar de sua onisciência, o narrador onisciente pode limitar o foco narrativo, como veremos no próximo tópico.

Tipos de narrador onisciente

  • Neutro: nega a si mesmo, isto é, mantém distanciamento da narrativa, mas sem considerar o ponto de vista dos personagens; apesar de onisciente, o narrador se autolimita, de forma apenas a mostrar o que os personagens falam ou fazem.

  • Seletivo: o narrador elege um personagem para, a partir da perspectiva desse personagem, narrar a história; assim, a narrativa fica limitada à perspectiva desse personagem.

  • Seletivo múltiplo: o narrador expande a perspectiva, já que considera o ponto de vista de mais de um personagem ao narrar a história.

  • Intruso: o narrador se manifesta no texto, expressa ideias, opiniões ou faz análises, de forma a colocar o foco sobre a narração.

Diferenças entre narrador onisciente e observador

O que diferencia o narrador onisciente do narrador observador é o nível de conhecimento dos fatos e dos personagens. O narrador que possui a onisciência, ou seja, sabe de tudo, pode escolher a forma de narrar a história. Já o narrador observador é limitado, pois tem uma única opção, narrar da perspectiva de um observador.

Desse modo, o narrador observador não sabe de tudo acerca dos personagens e da história, ele tem uma visão de fora, desconhece o interior dos personagens, e não se confunde com o onisciente neutro. Afinal, o narrador onisciente neutro possui a onisciência, mas opta por não revelar aquilo que sabe.

Leia também: O que é enredo?

Exemplos de texto com narrador onisciente

A seguir, um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, em que se percebe a presença de um narrador onisciente seletivo e intruso ao mesmo tempo, já que narra a partir da perspectiva do protagonista Rubião, mas também analisa, opina e ironiza a situação, ao considerar que Rubião não teria herdado a fortuna de Quincas Borba, caso este tivesse se casado com Piedade (irmã de Rubião):

Capítulo II

Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... — Bonita canoa! — Antes assim! — Como obedece bem aos remos do homem! — O certo é que eles estão no Céu!

MACHADO DE ASSIS. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

No trecho abaixo, do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, o narrador onisciente intruso analisa os fatos e expressa sua opinião:

[...]

Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância completa. O nascimento de Zulmira veio agravar ainda mais a situação; a pobre criança, em vez de servir de elo aos dois infelizes, foi antes um novo isolador que se estabeleceu entre eles. Estela amava-a menos do que lhe pedia o instinto materno por supô-la filha do marido, e este a detestava porque tinha convicção de não ser seu pai.

[...]

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.

Exercícios sobre narrador onisciente

Questão 1 (Enem)

— Não digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma educação muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e não tem podido, por conseguinte, escapar à implacável maledicência dos fluminenses. Demais, está habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o mais caro; em casa arranjam-se ela e a tia sabe Deus como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que apenas começas e não tens ainda onde cair morto. Enfim, és um homem: faze o que bem te parecer.

Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos motivos autorizada, calaram no ânimo do bacharel. Intimamente ele estimava que o velho amigo de seu pai o dissuadisse de requestar a moça, não pelas consequências morais do casamento, mas pela obrigação, que este lhe impunha, de satisfazer uma dívida de vinte contos de réis, quando, apesar de todos os seus esforços, não conseguira até então pôr de parte nem o terço daquela quantia.

AZEVEDO, A. A dívida. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017.

O texto, publicado no fim do século XIX, traz à tona representações sociais da sociedade brasileira da época. Em consonância com a estética realista, traços da visão crítica do narrador manifestam-se na

A) caracterização pejorativa do comportamento da mulher solteira.

B) concepção irônica acerca dos valores morais inerentes à vida conjugal.

C) contraposição entre a idealização do amor e as imposições do trabalho.

D) expressão caricatural do casamento pelo viés do sentimentalismo burguês.

E) sobreposição da preocupação financeira em relação ao sentimento amoroso.

Resolução:

Alternativa E.

O narrador onisciente intruso analisa a situação e, de forma realista, aponta, no segundo parágrafo, que a preocupação financeira se sobrepõe ao sentimento amoroso.

Questão 2 (Enem)

Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero [...].

Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.

ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 9 out. 2015.

No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)

A) indignação face à suspeita do adultério da esposa.

B) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.

C) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.

D) prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio.

E) superação do ciúme pela comoção decorrente da morte.

Resolução:

Alternativa D.

O narrador onisciente, no final do segundo parágrafo, evidencia o prazer de Fortunato (um sádico) diante da dor de Garcia.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

PINHEIRO, Mírian Moema Filgueira. A TV como objeto de leitura da imagem no contexto escolar: uma pesquisa-ação com alunos do ensino médio. 2012. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

PINNA, Daniel Moreira de Sousa. Animadas personagens brasileiras: a linguagem visual das personagens do cinema de animação contemporâneo brasileiro. 2006. Dissertação (Mestrado em Design) – Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Relato de casos para o ensino, com o apoio na literatura. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 4, n. 8, 1997.

SILVA, Mariana Soletti da. De espaços abandonados, de Luísa Geisler (2018): o dialogismo e a narração multipessoal. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, v. 74, 2025.

SOUZA, Luciéle Bernardi de. Walter Benjamin e Machado de Assis: resquícios do narrador clássico. Crátilo, Patos de Minas, v. 9, n. 1, p. 25-31, 2016.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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SOUZA, Warley. "Narrador onisciente"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/literatura/narrador-onisciente.htm. Acesso em 10 de setembro de 2025.
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