Literatura gótica: o que é, características, obras - Brasil Escola

Literatura gótica

A literatura gótica é caracterizada pela temática do terror. Essa literatura é de origem inglesa e romântica, e sua obra fundadora é O castelo de Otranto.

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A literatura gótica é de origem inglesa e romântica. Ela surgiu em 1764, com a publicação do romance O castelo de Otranto, do escritor inglês Horace Walpole. O terror, o sublime (a grandiosidade) e a transgressão são as principais características desse tipo de literatura. Escritores britânicos como Mary Shelley e Bram Stoker, além do estado-unidense Edgar Allan Poe, são autores de obras góticas.

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Leia também: O que é literatura fantástica?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a literatura gótica

  • A literatura gótica é composta por obras em que predominam o terror e os elementos sombrios.
  • Além do terror em ambientes assustadores, o gótico está associado à transgressão e ao sublime (grandiosidade).
  • São clássicos da literatura gótica obras como Frankenstein, de Mary Shelley, e Drácula, de Bram Stoker.
  • A narrativa fundadora da literatura gótica é o romance O castelo de Otranto, do escritor inglês Horace Walpole.
  • No Brasil, Álvares de Azevedo é o principal autor de obras góticas, como Noite na taverna e Macário.

O que é literatura gótica?

O gótico é um tipo de ficção surgido no final do século XVIII, na Inglaterra. Portanto, a literatura gótica engloba obras que apresentam características desse tipo de ficção, marcada pelo terror.

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Características da literatura gótica

Estas são as principais características da literatura gótica:

  • caráter romântico;
  • aspecto transgressor e contraditório;
  • elementos estranhos, misteriosos, sobrenaturais;
  • valorização do que é selvagem ou exótico;
  • elementos surreais ou fantásticos;
  • emoções exageradas;
  • elementos sombrios;
  • prolixidade;
  • morbidez;
  • presença do sublime (grandiosidade);
  • presença de monstros;
  • caráter metafórico;
  • elementos que provocam terror;
  • predominância do gênero narrativo;
  • lugares opressores ou assustadores (locus horribilis);
  • ceticismo e pessimismo.

O que diferencia a literatura gótica da literatura fantástica é o terror, o ambiente sombrio e assustador (locus horribilis), o sublime (grandiosidade) e a transgressão. A literatura fantástica apresenta elementos inexplicáveis, sobrenaturais e misteriosos, mas não se limita ao terror.

Por exemplo, Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez (1927-2014), é uma obra fantástica, mas não é gótica, já que não é pautada no terror. Por sua vez, a obra Drácula, de Bram Stoker, pode ser considerada fantástica, mas também gótica. Desse modo, toda obra gótica é também fantástica, mas nem toda obra fantástica é gótica.

Clássicos da literatura gótica

Capa do livro “O castelo de Otranto”, obra fundadora da literatura gótica, publicada pela editora Nova Alexandria. [imagem_principal]
Capa do livro O castelo de Otranto, obra fundadora da literatura gótica, publicada pela editora Nova Alexandria. [1]
  • O castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole
  • As aventuras de Caleb Williams (1794), de William Goldwin
  • Os mistérios de Udolpho (1794), de Ann Radcliffe
  • O monge (1796), de Matthew Gregory Lewis
  • Wieland (1798), de Charles Brockden Brown
  • Os elixires do diabo (1815), de E. T. A. Hoffmann
  • Frankenstein (1818), de Mary Shelley
  • Infernaliana (1822), de Charles Nodier
  • Memórias e confissões íntimas de um pecador justificado (1824), de James Hoog
  • O morro dos ventos uivantes (1847), de Emily Brontë
  • Wagner, o lobisomem (1847), de George W. M. Reynolds
  • A casa das sete torres (1851), de Nathaniel Hawthorne
  • Histórias extraordinárias (1859), de Edgar Allan Poe
  • Carmilla (1872), de Sheridan le Fanu
  • O médico e o monstro (1886), de Robert Louis Stevenson
  • O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde
  • Drácula (1897), de Bram Stoker

Acesse também: Frankenstein análise dessa obra da literatura gótica escrita por Mary Shelley

Autores da literatura gótica

  • Horace Walpole (1717-1797) — Inglaterra
  • William Goldwin (1756-1836) — Inglaterra
  • Ann Radcliffe (1764-1823) — Inglaterra
  • James Hoog (1770-1835) — Escócia
  • Charles Brockden Brown (1771-1810) — Estados Unidos
  • Matthew Gregory Lewis (1775-1818) — Inglaterra
  • E. T. A. Hoffmann (1776-1822) — Alemanha
  • Charles Nodier (1780-1844) — França
  • Mary Shelley (1797-1851) — Inglaterra
  • Nathaniel Hawthorne (1804-1864) — Estados Unidos
  • Edgar Allan Poe (1809-1849) — Estados Unidos
  • Sheridan le Fanu (1814-1873) — Irlanda
  • George W. M. Reynolds (1814-1879) — Inglaterra
  • Emily Brontë (1818-1848) — Inglaterra
  • Bram Stoker (1847-1912) — Irlanda
  • Robert Louis Stevenson (1850-1894) — Escócia
  • Oscar Wilde (1854-1900) — Irlanda

Confira também: O retrato de Dorian Gray análise dessa obra da literatura gótica escrita por Oscar Wilde

Literatura gótica no Brasil

O grande nome da literatura romântica gótica brasileira é o escritor Álvares de Azevedo (1831-1852). Elementos góticos estão presentes em sua novela ou livro de contos Noite na taverna (1855), obra precursora das narrativas brasileiras de horror, provocado por temas como necrofilia e assassinato.

O escritor também é autor da peça teatral Macário (1855), na qual o horror e o sobrenatural sobressaem. Ambas as obras trabalham com o aspecto sombrio e transgressor da literatura gótica.

História da literatura gótica

A princípio, a palavra “gótico” faz referência à língua falada pelos godos, ou seja, a primeira língua germânica escrita de que se tem notícia. Mais tarde, após a queda do Império Romano, os italianos consideravam a arquitetura produzida pelas tribos germânicas como gótica — uma arquitetura medieval, grotesca e desagradável, que teve destaque no século XII.

Tal arquitetura foi criticada durante o Renascimento, já que se opunha à harmonia renascentista. Nessa época, o termo “gótico” era pejorativo. Desse modo, o gótico se mostra como oposto ao clássico. Daí ser chamada de gótica a literatura que tematiza o grotesco, o estranho, o sombrio, o irracional, o medieval.

Por isso, a literatura gótica é romântica, já que se opõe ao iluminismo árcade ou neoclássico. Tal literatura foi criada por Horace Walpole, na Inglaterra, quando esse escritor publicou o romance gótico O castelo de Otranto, em 1764. A partir daí, o termo “gótico” assumiu uma nova perspectiva, já que foi associado ao nacionalismo e à valorização da origem ou da ancestralidade britânica relacionada aos godos.

Exercícios resolvidos sobre literatura gótica

Questão 1

O conto A máscara da Morte Vermelha, de Edgar Allan Poe, possui elementos góticos, como o sublime e o terror. Essa segunda característica está evidenciada no fragmento do conto em destaque na alternativa:

A) “O lugar possuía uma estrutura extensa e magnífica, criação de um príncipe com gosto excêntrico, porém majestoso. Muralhas fortes e elevadas protegiam o castelo. O acesso era através de portões de ferro.”

B) “Aquele baile foi um acontecimento exuberante. Mas, primeiro, deixe-me falar sobre as dependências em que ele ocorreu. Eram sete salas, que formavam uma suíte imperial. Em muitos palácios, quando as portas dobradiças entre as salas são abertas, tais suítes formam um único salão comprido. Assim, a vista de toda a extensão do salão é praticamente desimpedida.”

C) “Era nessa sala, também, que ficava um gigantesco relógio de ébano, apoiado na parede do lado oeste. Seu pêndulo balançava de um lado para o outro com uma batida monótona, pesada, melancólica; e, quando o ponteiro dos minutos completava a volta, e uma hora cheia seria anunciada, vinha, dos pulmões de bronze do relógio, um som que era claro, alto, profundo e extremamente musical, mas de uma nota tão particular que, a cada hora, os músicos da orquestra eram compelidos a parar de tocar, momentaneamente, para escutar esse som.”

D) “Uma outra câmara ostentava decorações e tapeçarias na cor púrpura, e ali os vidros eram purpúreos. A terceira sala era totalmente verde, assim como as janelas. A quarta era decorada e iluminada em laranja, a quinta em branco e a sexta em violeta. A sétima câmara era totalmente recoberta por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto, cobriam as paredes e caíam em grandes dobras sobre o carpete de material e tonalidade idênticos.”

E) “E assim foi percebida a presença da Morte Vermelha. Ela havia chegado como um ladrão na noite. E, um por um, caíram os convivas no chão, umedecido de sangue, em que festejavam. E morreram todos na posição desesperada em que tombaram. E a vida do relógio de ébano se esgotou junto com a do último convidado. E as chamas dos braseiros expiraram.”

Resolução:

Alternativa E.

Todas as alternativas evidenciam o sublime, ou seja, a grandiosidade. A alternativa E, porém, apresenta uma cena terrível, causada pela Morte Vermelha.

Questão 2

Leia o seguinte fragmento do livro Noite na taverna, de Álvares de Azevedo:

[...]

Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém: saiu. Eu segui-a.

A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão.

Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.

O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

[...]

Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta!... e aqueles traços todos me lembraram uma ideia perdida. — Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo...

[...]

ÁLVARES DE AZEVEDO. Noite na taverna. Disponível em: https://objdigital.bn.br/objdigital2/Acervo_Digital/livros_eletronicos/bndigital0073/bndigital0073.pdf.

Nesse fragmento, sobressaem as seguintes características da literatura gótica, EXCETO:

A) Elementos sombrios.

B) Monstruosidade.

C) Morbidez.

D) Locus horribilis.

Resolução:

Alternativa B.

O trecho apresenta morbidez, um lugar assustador e uma atmosfera sombria típica da literatura gótica. Outra característica da narrativa gótica é a presença de seres monstruosos, o que não é evidenciado no fragmento da questão.

Crédito de imagem

[1] Editora Nova Alexandria (reprodução)

Fontes

ARAÚJO, Lorena Amaral. A influência de Byron e do Romantismo Gótico em Álvares de Azevedo, Fialho de Almeida e Apollinaire. 2023. Monografia (Licenciatura em Letras) – Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília, 2023.

CAMPIGOTTO, Lucas Monteiro. O arquétipo do medo na literatura gótica: de Walpole a Stoker. 2023. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2023.

POE, Edgar Allan. A máscara da morte vermelha. In: POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. Tradução de Antonio Carlos Vilela. São Paulo: Melhoramentos, 2006.

ROSA, Dione Mara Souto da. Noite na taverna (1855) de Álvares de Azevedo: amor e morte emoldurados por sombras góticas. 2016. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) – Centro Universitário Campos de Andrade, Curitiba, 2016.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Deseja fazer uma citação?
SOUZA, Warley. "Literatura gótica"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/literatura/a-literatura-tradicao-gotica.htm. Acesso em 10 de setembro de 2025.
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Exercício 1

São elementos da literatura de tradição gótica:

a) enquanto movimento artístico, compreende a tendência literária da primeira metade do século XVIII.

b) a observação da realidade, fazendo uma análise crítica da vida social.

c) Predominância do subjetivismo, o culto do eu predomina sobre a perspectiva do outro.

d) Ruptura com os padrões literários vigentes, afronta ao racionalismo, fundindo instintos de vida e de morte, libido e terror.

e) a idealização no modo de apresentar as personagens e o uso da natureza como reflexo dos sentimentos do narrador.

Exercício 2

(CEFET-PR) O excerto a seguir foi extraído da obra Noite na Taverna, livro de contos escritos pelo poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo (1831-1852).

“Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite…” (São Paulo: Moderna, 1997, p. 23)

Com relação ao fragmento acima, afirma-se:

I) Acentua traços característicos da literatura romântica, como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, e despreza o nacionalismo e o indianismo, temas característicos da primeira geração romântica.

II) Idealiza figuras imaginárias, mulheres incorpóreas ou virgens, personagens que confirmam o amor inatingível, idealizado na literatura ultrarromântica. Dessa forma, no 1º parágrafo, o amor platônico não é superado pelo amor físico.

III) Tematiza a morte, presente em grande parte da obra do autor.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas I está correta.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I e II estão corretas.
d) I, II e III estão corretas.
e) Apenas I e III estão corretas.

Exercício 3

(UFSM-RS) Leia o soneto a seguir:

Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Augusto dos Anjos, Eu, Rio de Janeiro, Livr. São José, 1965.

A partir desse soneto, é correto afirmar:

I. Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao limite inferior da materialidade biológica, pois, pensando em termos de átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito.

II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se intacta.

III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável.

Está(ão) correta(s):

a) apenas I e III.
b) apenas III.
c) apenas I e II.
c) apenas II.
e) apenas II e III.

Exercício 4

Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens tiveram ligações com a prosa de tradição gótica, exercendo forte influência sobre a literatura do gênero produzida posteriormente. São características desses escritores:

a) exaltação dos símbolos nacionais, defesa dos sentimentos de amor à pátria e da formação de uma identidade brasileira.

b) rigidez quanto à forma, exaltando a arte literária pela arte literária.

c) predomínio da objetividade, da racionalização da existência e uma visão cientificista sobre a vida.

d) buscam na antiguidade clássica o modelo de literatura ideal.

e) A busca da transcendência, a preponderância do símbolo entre as figuras e o cultivo de um vocabulário ligado às sensações.