A vinda da família real portuguesa para o Brasil ocorreu na passagem de 1807 para 1808 e foi resultado da guerra travada entre França e Reino Unido durante o período napoleônico. A transferência da corte ocorreu pela recusa de Portugal em obedecer às ordens da França e em aderir ao Bloqueio Continental.
Com isso, o regente de Portugal, d. João, filho de d. Maria I, decidiu transferir toda a corte para o Brasil. Assim, o poder português instalou-se no Rio de Janeiro, resultando em transformações que tiveram influência fundamental no desencadeamento do processo de independência do Brasil, alguns anos depois.
Leia também: Como aconteceu a independência do Brasil?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil
- 2 - Videoaula sobre a vinda da família real para o Brasil
- 3 - Por que a família real veio para o Brasil?
- 4 - Embarque da família real
- 5 - Como foi a vinda da família real para o Brasil?
- 6 - Consequências da vinda da família real para o Brasil
- 7 - Vinda da família real e a Independência do Brasil
- 8 - Exercícios sobre a vinda da família real para o Brasil
Resumo sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil
- A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi um evento que se deu em 1807, quando a corte portuguesa se mudou para o Brasil.
- Essa mudança ocorreu no contexto das Guerras Napoleônicas.
- Portugal recebeu um ultimato para aderir ao Bloqueio Continental, mas, como não aderiu, foi invadido por tropas francesas.
- Isso motivou d. João, regente de Portugal, a mudar-se para o Brasil e fugir dos franceses.
- Os relatos contam do desespero e desorganização que tomaram conta de Lisboa nos dias de embarque.
- A vinda da família real proporcionou inúmeras mudanças para o Brasil, antecipando nosso processo de independência.
Videoaula sobre a vinda da família real para o Brasil
Por que a família real veio para o Brasil?
De maneira direta, a vinda da família real portuguesa ao Brasil se deu porque o território português foi invadido e ocupado por tropas franceses em 1807, no contexto das Guerras Napoleônicas. No entanto, é importante, entender o contexto e as condições no qual esse acontecimento marcante se deu.
A transferência da corte portuguesa para o Brasil tem relação direta com os acontecimentos da Revolução Francesa e do período napoleônico. Desde o início da revolução, a existência dos regimes absolutistas na Europa foi severamente ameaçada. Após 10 anos do levante, Napoleão Bonaparte surgiu como governante da França.
Os acontecimentos da revolução reforçaram severamente a rivalidade entre França e Inglaterra na Europa, e isso se refletiu diretamente na relação de Portugal com esses dois países. Internamente, uma divisão muito grande se instalou em Portugal, uns defendendo que o país se aproximasse da França, e outros defendendo a boa relação, estabelecida havia séculos, com o Reino Unido.
Portugal, ainda no período revolucionário, assinou um acordo de proteção militar com os ingleses, mas, ainda assim, buscava manter publicamente uma posição neutra, de forma a não desagradar a nenhuma das nações. Na medida em que a tensão crescia, o que d. João fez como medida cautelar foi reforçar as defesas do país na fronteira com a Espanha, entre 1804 e 1807, segundo pontuam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling.|1|
A ascensão de Napoleão Bonaparte só contribuiu para que a situação fosse agravada, pois o ímpeto expansionista e o desejo de reformular o mapa europeu do general reforçaram a polarização do continente. O regente, d. João (que só se tornou d. João VI em 1816), como mencionado, era constantemente pressionado, pelos apoiadores de franceses e ingleses, a tomar partido.
A partir de 1804, Napoleão “autocoroou-se” imperador francês, o que reforçou seu poder e ampliou a tensão na Europa. Antes disso, a situação já era apreensiva para Portugal, uma vez que os espanhóis haviam se aliado com os franceses, o que representava uma grande ameaça à soberania do território português. Em 1801, uma pequena guerra entre Portugal e Espanha, a Guerra das Laranjas, aconteceu e fez Portugal perder a cidade de Olivença para a Espanha.
Nessa derrota, os portugueses ainda foram obrigados a aceitar o seguinte termo dos franceses: fechar os portos de seu país para embarcações inglesas. O termo foi aceito, mas não foi colocado em prática. Incapaz de invadir a Inglaterra, Napoleão resolveu, a partir de 1806, estabelecer o Bloqueio Continental, o que determinou que os portos das nações europeias ficariam terminantemente fechados para embarcações inglesas.
Com o bloqueio, os portugueses começaram a ventilar a proposta de mudarem-se para o Brasil a fim de fugir do alcance de Napoleão. Portugal não aceitou aderir ao bloqueio porque as relações com os ingleses eram boas e estavam de pé por séculos. A situação estendeu-se até meados de 1807, quando Napoleão realizou um ultimato.
O ultimato de Napoleão determinou que Portugal deveria, até 1º de setembro, realizar as seguintes medidas:
- convocar seu embaixador que estava em Londres;
- expulsar o embaixador inglês de Lisboa;
- fechar os portos para navios ingleses;
- prender os ingleses em Portugal e confiscar os bens deles; e
- declarar guerra à Inglaterra.|2|
Seguiram-se semanas de negociação entre Portugal e França e Portugal e Reino Unido, mas não se chegou a nenhum entendimento. Os britânicos orientaram que, se os portugueses aceitassem integralmente os termos franceses, os dois países entrariam em guerra; já os franceses exigiam o aceite integral dos seus termos, caso contrário invadiriam o território português, dividindo-o com a Espanha.
Como não houve solução, Napoleão ordenou o envio de tropas para invadir Portugal. Em 24 de novembro, d. João informou que as tropas francesas chegariam a Lisboa em até quatro dias e autorizou o início dos preparativos de uma viagem ao Brasil. A corte portuguesa tinha o compromisso dos ingleses de ser escoltada em segurança até o Brasil.

Embarque da família real
O embarque da corte portuguesa aconteceu entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807. Em meio aos preparativos, o governo português realizou a transferência das instituições que administravam o país, portanto era uma missão muito grande para tão poucos dias. Nessa transferência, todas as pessoas que possuíssem algum papel no governo mudaram-se para o Rio de Janeiro com suas famílias.
As naus portuguesas que fizeram a transferência da corte reuniram de 10 mil a 15 mil pessoas, segundo os levantamentos feitos por diferentes historiadores. Lilia Schwarcz e Heloísa Starling dão a real dimensão do que foi essa vinda para o Brasil: “não eram indivíduos isolados que fugiam às pressas, e sim a sede do Estado português que mudava de endereço, com seu aparelho administrativo e burocrático, seu tesouro, suas repartições, secretarias, tribunais, arquivos e funcionários”.|3|
O regente de Portugal autorizou todos os seus súditos a mudarem-se para o Brasil, caso desejassem, mas se não houvesse espaço nas embarcações da corte, eles deveriam procurar meios próprios de vir para o Brasil. Todos os preparativos da mudança foram realizados às pressas, e, por isso, houve correria, pânico e muita desorganização.
Muita coisa que deveria ter sido embarcada foi deixada para trás, e os navios, abarrotados de gente, não tinham suprimentos suficientes para todos. Houve casos de pessoas a bordo que viajaram apenas com a roupa do corpo porque na desorganização do embarque não houve tempo para embarcar os pertences dessas pessoas.

Como foi a vinda da família real para o Brasil?
As embarcações portuguesas iniciaram a viagem para o Brasil no dia 29 de novembro de 1807, e, em alto-mar, encontraram-se com quatro embarcações inglesas, que as escoltaram até o Brasil. Acredita-se que as embarcações que vieram ao nosso país trazendo a corte eram cerca de 15 (há desencontro nas informações). No fim do dia 29, as tropas francesas entravam em Lisboa e eram formadas por cerca de seis mil soldados.
Os problemas na viagem foram muitos. A citada superlotação fez com que alimentos e água fossem racionados; não havia dormitórios e camas para todos, e os problemas de higiene eram muitos. Estes resultaram em um surto de piolhos, que forçou as mulheres a rasparem seus cabelos. Vale destacar também que as embarcações encararam uma forte tempestade no início da viagem. Esses problemas tornaram a travessia do Oceano Atlântico muito mais desafiadora para os passageiros.
Consequências da vinda da família real para o Brasil
A família real portuguesa chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808 e marcou uma série de transformações no Brasil do período. Para começar, a chegada da família real permitiu que fosse estabelecida a abertura dos portos, abrindo o comércio brasileiro para nações amigas de Portugal, sobretudo o Reino Unido.
A abertura dos portos incentivou a economia brasileira, mas, além disso, outras medidas foram tomadas, promovendo o estabelecimento das primeiras faculdades no Brasil. Houve um forte incentivo de d. João VI ao desenvolvimento científico e artístico no Brasil, com a construção de museus, bibliotecas, entre outros.
A cidade do Rio de Janeiro cresceu exponencialmente, foi estabelecida uma imprensa no Brasil, criado o primeiro banco nacional, etc. No campo da política externa, o Brasil expandiu seus territórios ao ocupar a Guiana Francesa e a Cisplatina (atual Uruguai). Por fim, vale destacar a elevação do Brasil à condição de reino.
Na prática, a vinda da família real para o Brasil promoveu transformações políticas, econômicas, culturais, científicas, sociais e permitiu que um grande salto na autonomia brasileira ocorresse, abrindo o caminho para que nossa independência fosse possível.

Vinda da família real e a Independência do Brasil
A Independência do Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1822, sendo resultado de um afastamento que aconteceu nas relações entre Brasil e Portugal. No começo do século XIX, não havia um movimento separatista formado a nível nacional no Brasil, mas o nosso processo de independência foi antecipado por conta do contexto do Período Joanino (período em que a família real esteve no Brasil).
O processo de independência do Brasil começou a se formar após a Revolução Liberal do Porto, movimento organizado pela burguesia portuguesa a partir de 1820. Esse movimento exigia o retorno do rei d. João VI para Lisboa, além da reversão de uma série de medidas, o que, na prática, representariam a recolonização do Brasil.
As reivindicações das Cortes Gerais, instituição criada na Revolução Liberal do Porto, fizeram com que as elites portuguesas e brasileiras entrassem em choque, ocorrendo um afastamento. A irredutibilidade lusa nessas questões fez com que um movimento pela separação do Brasil se estabelecesse, tendo como líder Pedro de Alcântara, filho do rei de Portugal e regente do Brasil.
Em 7 de setembro de 1822, Pedro de Alcântara anunciou a Independência do Brasil em uma viagem para São Paulo. No mesmo ano ele foi aclamado imperador do Brasil, tornando-se d. Pedro I.
![Mapa mental sobre a vinda da família real para o Brasil. Créditos: Gabriel Franco | Brasil Escola. [imagem_principal]](https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/be/2025/08/mapa-mental-vinda-familia-real-brasil.jpg)
Exercícios sobre a vinda da família real para o Brasil
Questão 01
Quem foi a autoridade portuguesa que autorizou a transferência da corte portuguesa para o Brasil:
a) d. Maria.
b) Carlota Joaquina.
c) d. João VI.
d) d. José.
e) Marquês de Pombal.
Resposta: Letra C.
A ordem da transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1807, foi dada pelo regente de Portugal, chamado na ocasião de d. João (ele tornou-se d. João VI apenas em 1816). A ordem foi dada pelo fato de Portugal ser invadido pelos franceses por não aderir ao Bloqueio Continental.
Questão 02
Selecione a alternativa incorreta quando se trata das consequências da vinda da família real portuguesa para o Brasil.
a) Abertura dos portos brasileiros.
b) Criação da imprensa no Brasil.
c) Elevação do Brasil à condição de reino.
d) Invasão do território da Cisplatina.
e) Aquisição do território do Acre.
Resposta: Letra A.
A aquisição do Acre não foi uma consequência da vinda da família real para o Brasil, uma vez que esse acontecimento se deu em 1903 por meio do Tratado de Petrópolis, período em que o Brasil era uma república.
Notas
|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 154.
|2| Idem, p. 157.
|3| Idem, p. 163.
Fontes
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
MENCK. José Theodoro Mascarenhas. D. João VI. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/arquivo/sites-tematicos/200-anos-da-assembleia-constituinte/2018-dom-joao-vi
