Patativa do Assaré é o pseudônimo de Antônio Gonçalves da Silva, agricultor e poeta brasileiro. Ele nasceu na cidade cearense chamada Assaré, no dia 5 de março de 1909. Filho de um pobre agricultor, seguiu o ofício do pai, mas também foi poeta, compositor, cantor e violeiro.
O artista, que faleceu em 8 de julho de 2002, em Assaré, teve apenas alguns meses de estudo formal, suficientes para que ele aprendesse a ler e a escrever. A obra do autor apresenta versos regulares, crítica sociopolítica, linguagem coloquial e elementos da literatura de cordel. A triste partida é um de seus poemas mais famosos.
Leia também: Manoel de Barros — outro poeta que tem como marca o regionalismo
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Patativa do Assaré
- 2 - Quem foi Patativa do Assaré?
- 3 - Por que o pseudônimo Patativa do Assaré?
- 4 - Características das obras de Patativa do Assaré
- 5 - Obras de Patativa do Assaré
- 6 - Poemas de Patativa do Assaré
- 7 - Prêmios e homenagens a Patativa do Assaré
- 8 - Legado de Patativa do Assaré
- 9 - Frases de Patativa do Assaré
Resumo sobre Patativa do Assaré
- Patativa do Assaré foi um grande poeta cearense.
- O escritor também era violeiro, cantor, compositor e agricultor.
- Suas obras são marcadas pela linguagem coloquial, crítica social e lirismo.
- Uma de suas obras mais famosas é o poema A triste partida.
- Ele nasceu em 1909 e morreu em 2002.
Quem foi Patativa do Assaré?
![Patativa do Assaré usando óculos escuros e sorrindo. [imagem_principal]](https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/be/2025/07/patativa-assare.jpg)
Antônio Gonçalves da Silva é o verdadeiro nome de Patativa do Assaré, poeta brasileiro que também foi violeiro, cantor, compositor e agricultor. Ele nasceu na cidade cearense de Assaré, no dia 5 de março de 1909, em uma família pobre. Tinha quatro anos de idade quando ficou cego do olho direito, resultado de complicações advindas do sarampo. Além disso, seu pai morreu quando Patativa tinha cerca de oito anos de idade.
Por essa época, ouviu uma história de cordel, a qual lhe despertou o interesse pela poesia. Mas ele ainda não sabia ler, pois apenas com 12 anos de idade foi alfabetizado nos poucos meses em que frequentou uma escola. Assim, passou a ler e escrever versos. Era ainda adolescente quando começou a tocar viola e cantar.
Durante uma estadia de seis meses no Pará, em 1929, assumiu o pseudônimo de Patativa do Assaré. Então, a vida do poeta e agricultor passou a ser cantar, tocar, fazer versos e trabalhar na roça. Seu casamento com Belarmina Paes Cidrão ocorreu em 1936, mas não alterou a rotina laboral e criativa do artista.
Por volta de 1949, decidiu deixar a música para ter mais tempo para a escrita literária, mas só publicou seu primeiro livro — Inspiração nordestina — em 1956. Já em 1964, seu poema A triste partida foi musicado. A gravação do cantor Luiz Gonzaga (1912-1989) deu maior visibilidade ao poeta nordestino.
No entanto, também ficou sobre a mira da censura do regime militar em vigência no Brasil a partir de 1964. Anos depois, em 1973, Patativa do Assaré foi vítima de um atropelamento em Fortaleza. A fratura na perna forçou o agricultor a se aposentar, mas ele acabou retomando sua atividade na música.
Sua poesia esteve sempre comprometida com a realidade social do país. O poeta tinha forte consciência política e participou, em 1984, do movimento Diretas Já. No final da década de 1980, já era conhecido nacionalmente como poeta, compositor, cantor e músico. Patativa morreu em 8 de julho de 2002, em Assaré.
Veja também: Quem foi Cora Coralina?
Por que o pseudônimo Patativa do Assaré?
O poeta foi comparado a uma ave de belo canto chamada “patativa”, pelo folclorista José Carvalho de Brito. A partir daí, o artista decidiu assinar suas obras com o pseudônimo de Patativa do Assaré, sendo Assaré o nome de sua cidade natal.
Características das obras de Patativa do Assaré
As obras de Patativa do Assaré apresentam elementos satíricos, além de crítica sociopolítica. Seus textos valorizam a memória, a cultura popular e as características regionais. A linguagem coloquial e os temas do cotidiano mostram a realidade nordestina, marcada pela religião e pelo misticismo.
O autor recorre a versos regulares (com métrica e rimas), além de utilizar imagens metafóricas e expressões irônicas. Seus textos também apresentam forte conexão com a literatura de cordel, associada à declamação e à oralidade, de forma a manter viva a literatura popular do Nordeste brasileiro.
Obras de Patativa do Assaré

→ Livros de Patativa do Assaré
- Inspiração nordestina (1956).
- Ispinho e fulô (1988).
- Aqui tem coisa (1994).
- Cordel (2000).
→ Discos de Patativa do Assaré
- Poemas e canções (1979).
- Patativa do Assaré (1985).
- Patativa: 85 anos de luz e poesia (1994).
- Patativa: 88 anos de poesia (1997).
Poemas de Patativa do Assaré
-
Poema A triste partida

O poema A triste partida ficou muito famoso quando foi musicado pelo cantor Luiz Gonzaga. A obra fala de um homem nordestino que, por causa da seca, vendeu tudo que tinha e foi com a família para São Paulo, onde encontrou a saudade e dívidas:
Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.
[...]
Sem chuva na terra descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão.
Entonce o rocêro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
[...]
E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.
Em riba do carro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
[...]
E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Chegaro em São Palo — sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.
Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode, só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.
[...]
Do mundo afastado, sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia, vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!
Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do Su.
-
Poema Ao leitô
O poema “Ao leitô”, do livro Inspiração nordestina, consiste em uma forma de introdução ou dedicatória do livro. Nele, o eu lírico ou o poeta expressa uma espécie de desculpa por sua obra ser simples e rude, e deixa claro que vai falar da realidade, sem qualquer idealização. O lirismo do poema é intensificado pela linguagem coloquial:
Leitô, caro amigo, te juro, não nego,
Meu livro te entrego bastante acanhado,
Por isso te aviso, me escute o que digo,
Leitô, caro amigo, não leia enganado.
É simpre, bem simpre, modesto e grossêro,
Não leva o tempero das arte e da escola,
É rude poeta, não sabe o que é lira,
Saluça e suspira no som da viola.
Tu nele não acha tarvez, com agrado
Um trecho engraçado que faça uma escôia,
Mas ele te mostra com gosto e vontade,
A luz da verdade gravada nas fôia.
Não vá percurá neste livro singelo
Os canto mais belo das lira vaidosa,
Nem brio de estrela, nem moça encantada,
Nem ninho de fada, nem chêro de rosa.
Em vez de prefume e do luxo da praça,
Tem chêro sem graça de amargo suó,
Suó de cabôco que vem do roçado,
Com fome, cansado e queimado do só.
-
Poema O poeta da roça
Do mesmo livro é o poema “O poeta da roça”, em que o eu lírico é um agricultor pobre e mostra a realidade difícil das pessoas socialmente marginalizadas, de forma que seus versos apresentam crítica sociopolítica:
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mio.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça,
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sôdade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
Prêmios e homenagens a Patativa do Assaré
- Diploma Amigo da Cultura (1982).
- Cidadão de Fortaleza (1982).
- Medalha da Abolição (1987).
- Doutor Honoris Causa pela Universidade Regional de Cariri (1989).
- Rodovia Patativa do Assaré (1989).
- Prêmio do Ministério da Cultura (1995).
- Medalha José de Alencar (1995).
- Medalha Francisco Gonçalves de Aguiar (1998).
- Memorial Patativa do Assaré (1999).

- Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual do Ceará (1999).
- Prêmio UniPaz (1999, 2003).
- Cidadão do Rio Grande do Norte (2000).
- Doutor Honoris Causa pela Universidade Tiradentes (2000).
- Troféu Sereia de Ouro (2001).
- Prêmio FIEC (2002).
- Troféu MST (2004).
- Biblioteca Pública Patativa do Assaré, no Piauí (2005).
Legado de Patativa do Assaré
Patativa do Assaré deixou obras poéticas de cunho social, político, regional e popular, que refletem a realidade do povo nordestino. O poeta e agricultor é representante de um grupo social desfavorecido que, além de viver uma realidade de pobreza, também enfrenta a dificuldade de acesso à educação formal e à informação.
Saiba mais: Ariano Suassuna — escritor paraibano cujas obras valorizam a cultura popular nordestina
Frases de Patativa do Assaré
A seguir, vamos ler algumas frases de Patativa do Assaré, retiradas do livro Cordéis e outros poemas. Portanto, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:
- “Será que ser comunista é dar ao fraco instrução?”
- “Quando Jesus Cristo andou pregando sua missão, falou sobre a igualdade, fraternidade e união.”
- “Todo homem tem coragem, o rico, o pobre e o mendigo, no ponto da hora H, insulte um e verá o mais feroz inimigo.”
- “O meu livro é naturá, é o má, o céu e a terra cum a sua imensidade.”
- “Cada um na vida tem o direito de julgar, como tenho o meu também, com razão quero falar.”
- “Eu sou o poeta da roça, tenho mão calosa e grossa do cabo das ferramentas.”
Créditos das imagens
[1] Editora Hedra (reprodução)
Fontes
ASSARÉ, Patativa do. A triste partida. In: ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. 5. ed. Fortaleza: Vozes, 1984.
ASSARÉ, Patativa do. Cordéis e outros poemas. Fortaleza: UFC, 2006.
ASSARÉ, Patativa do. Inspiração nordestina. Rio de Janeiro: Circuito, 2018.
LEONARDELI, Poliana Bernabé. Patativa do Assaré e a identidade sertaneja: oralidade, memória e religiosidade. 2009. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2009.
MELLO, Patrícia Gomes de. Cante lá que eu canto cá: uma abordagem dialógica do estilo da poesia popular de Patativa do Assaré. 2015. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
NÓBREGA FILHO, Antonio; FEITOSA, Fátima (orgs.). Patativa do Assaré: 100 anos de poesia. Fortaleza: INESP, 2009.
NOGUEIRA, Renata de Carvalho. A poética social de Patativa do Assaré. 2017. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
