A Escola de Frankfurt representa uma corrente de pensamento filosófico e social europeu do século XX. Teve início na década de 1920, na Alemanha. Concentrou seu interesse na análise da sociedade de massa, na qual o avanço tecnológico é colocado a serviço da reprodução da lógica capitalista, enfatizando o consumo e a diversão como formas de apaziguar a sociedade e diluir os seus problemas sociais.
A Escola de Frankfurt apresentou o conceito de “indústria cultural”, termo difundido por Adorno e Horkheimer para designar a indústria do entretenimento veiculado por televisão, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas etc. Adorno e Horkheimer afirmaram que a indústria cultural é violenta na medida em que nega ao indivíduo a autonomia, sem que ele se dê conta disso, pois as pessoas que decidem consumir pensam que escolhem livremente este ou aquele produto. Tudo pode virar um produto, até mesmo as pessoas.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Escola de Frankfurt
- 2 - Videoaula sobre Escola de Frankfurt
- 3 - O que é a Escola de Frankfurt?
- 4 - O que a Escola de Frankfurt defende?
- 5 - Teoria crítica da Escola de Frankfurt
- 6 - Pensadores da Escola de Frankfurt
- 7 - Obras da Escola de Frankfurt
- 8 - Gerações da Escola de Frankfurt
- 9 - Escola de Frankfurt e a indústria cultural
- 10 - História da Escola de Frankfurt
- 11 - Exercícios resolvidos sobre Escola de Frankfurt
Resumo sobre Escola de Frankfurt
- A Escola de Frankfurt teve início, na década de 1920, com a fundação do Instituto de Pesquisa Social na Faculdade de Frankfurt, na Alemanha.
- A Escola de Frankfurt investiga os mecanismos psíquicos que tornam possível que as tensões entre as classes sociais fiquem adormecidas na consciência social.
- A teoria crítica da Escola de Frankfurt preza a emancipação e o progresso por meio do esclarecimento, mas criticando o esclarecimento dos iluministas.
- A razão instrumental é criticada porque atua pelo cálculo eficiente, quer dizer, é totalmente objetiva e procura o meio mais eficaz de atingir seu fim: o lucro.
- A indústria cultural designa a indústria da diversão popular, do entretenimento veiculado por televisão, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas etc.
- A Escola de Frankfurt considera o termo “cultura de massas” tendenciosamente ideológico, pois esconde a lógica comercial presente na transformação da cultura em mercadoria.
- A Escola de Frankfurt afirma que a indústria cultural, ao invés de promover a emancipação existencial do ser humano, fortalece a estrutura de dominação e controle social.
Videoaula sobre Escola de Frankfurt
O que é a Escola de Frankfurt?
A Escola de Frankfurt é uma corrente de pensamento que nasceu nos anos 1930, quando o filósofo Max Horkheimer (1895-1973) assumiu a direção do Instituto de Pesquisas Sociais, fundado em 1923, em Frankfurt, na Alemanha. Graças ao empenho de Horkheimer, vários intelectuais foram trabalhar nesse instituto, entre eles Herbert Marcuse (1898-1979), Theodor W. Adorno (1903-1969), Erich Fromm (1900-1980) e Friedrich Pollock (1894-1970).
Esses nomes formaram a primeira geração da Escola de Frankfurt, dos quais podemos aproximar Walter Benjamin (1892-1940), que, embora não fosse vinculado ao instituto, foi um colaborador da Escola de Frankfurt. Muitos dos intelectuais da Escola de Frankfurt eram de origem marxista e acabaram se destacando pelo que ficou conhecido como teoria crítica, em oposição ao que eles chamavam de teoria marxista tradicional, positivista e cientificista.
A teoria crítica da Escola de Frankfurt prezou pela emancipação e o progresso por meio do esclarecimento, mas sem ser o mesmo esclarecimento dos iluministas, considerado uma instrumentalização negativa do instinto da razão humana.
O programa que orientou o trabalho da Escola de Frankfurt baseava-se num nexo de três disciplinas:
- uma análise econômica da fase pós-liberal do capitalismo (Friedrich Pollock);
- uma investigação sociopsicológica da integração dos indivíduos por meio da socialização (Erich Fromm);
- uma análise cultural dos efeitos da cultura de massa que vieram a se concentrar na recém-surgida indústria cultural (Adorno, Horkheimer e Leo Lowenthal).
A Escola de Frankfurt, portanto, representou uma tentativa de revigorar o pensamento marxista e fazê-lo avançar no século XX. Nesse sentido, ao mesmo tempo que reconheceu a importância capital da contribuição de Karl Marx, essa é considerada pela escola como uma base insuficiente para a compreensão da sociedade contemporânea. Por isso, ela integrou a sociologia política, a crítica da cultura, a psicanálise e outras disciplinas ao seu programa de estudos.
O que a Escola de Frankfurt defende?
A Escola de Frankfurt defende uma teoria crítica contra a situação social existente na sociedade contemporânea. Para Max Horkheimer, o ponto de referência da Escola de Frankfurt é a questão de como operam os mecanismos psíquicos que tornam possível que as tensões entre as classes sociais permaneçam adormecidas na consciência social. Apesar disso, a Escola de Frankfurt defende a possibilidade de acordar dessa espécie de transe social, de experimentar um momento autônomo de pensamento crítico.
Nesse sentido, a Escola de Frankfurt defende a crítica da razão instrumental, que tem origem no projeto de sociedade dos pensadores iluministas. A razão instrumental atua pelo cálculo eficiente, quer dizer, é totalmente objetiva e procura o meio mais eficaz de atingir seu fim. Dentro da lógica capitalista, o progresso econômico é o grande objetivo da razão instrumental, enquanto a melhoria de vida e o bem-estar coletivo ficam em segundo plano.
Sendo assim, a razão instrumental deve ser pensada criticamente, porque ela promove meios de dominação não apenas da natureza, pela ciência e tecnologia, mas também dos homens, vistos como massa de consumo a ser explorada, pondo o progresso técnico e econômico de poucos grupos por finalidade.
No entanto, o que a Escola de Frankfurt defende, é preciso dizer, não constitui uma unidade nem significa a mesma coisa para todos os seus membros e seguidores. Mesmo entre os seus membros fundadores havia importantes diferenças de concepções e pensamentos. Por isso mesmo, a gênese da Escola de Frankfurt é o debate, sendo a sua questão fundamental: o que significa conceber uma teoria com uma intenção prática?
Em outras palavras, a Escola de Frankfurt defende um pensamento crítico voltado para a subversão da dominação capitalista em todas as suas formas; defende uma filosofia que realmente se importa com a transformação prática do mundo, mas sem cair nas armadilhas criadas pela sociedade moderna para aprisionar o pensamento crítico.
Teoria crítica da Escola de Frankfurt
A teoria crítica da Escola de Frankfurt é uma crítica à sociedade moderna, revelando os seus mecanismos cada vez mais sofisticados de opressão e exploração, especialmente via comunicação social de massas — a indústria cultural —, responsável por impedir que as pessoas se tornem conscientes de que são menos livres do que imaginam.
A teoria crítica da Escola de Frankfurt afirma ainda que a comunicação social de massas e a indústria cultural produzem uma degradação de todos os tipos de cultura, seja estética, seja intelectual, sendo usada por organizações comerciais privadas e burocracias públicas para manipular e distorcer a consciência pública das questões sociais e políticas.
Por meio de seus mecanismos, a indústria cultural transforma valores pessoais e culturais em mercadorias, valores que podem ser trocados por riqueza material — apresentada ao público como o maior bem de todos, superior até ao bem-estar geral.
O fracasso do projeto iluminista é apontado pela teoria crítica da Escola de Frankfurt como a principal causa dessa situação. O pensamento do iluminismo estimulou o desenvolvimento de uma razão controladora e instrumental, que predomina na sociedade contemporânea.
Essa razão instrumental facilitou os processos sociais de desencantamento do mundo, de deturpação das consciências individuais e de assimilação dos indivíduos ao sistema social dominante. Essa assimilação levou a uma ausência de consciência revolucionária na classe trabalhadora, que teria sido absorvida pelo sistema capitalista, fosse pelas conquistas trabalhistas alcançadas, fosse pela alienação de suas consciências promovida pela indústria cultural.
A razão instrumental iluminista, no fim das contas, significou a morte do pensamento crítico, asfixiado pelas relações de produção capitalista. Ao invés de emancipar as pessoas e trazer o progresso social, a razão instrumental iluminista levou a uma maior dominação das pessoas em virtude do desenvolvimento e da aliança entre a ciência e a tecnologia.
A razão instrumental atua pelo cálculo eficiente, quer dizer, é totalmente objetiva e procura o meio mais eficaz de atingir seu fim. Dentro da lógica capitalista, o progresso econômico é o grande objetivo, enquanto a melhoria de vida fica em segundo plano. Assim, a razão instrumental promove meios de dominação não apenas da natureza, mas também dos homens, vistos como massa, explorados de forma eficaz para trazer o progresso técnico e econômico para as classes dominantes.
Enfim, a teoria crítica da Escola de Frankfurt tem a função de explorar, analisar e explicar os fenômenos sociais que permitem reproduzir as relações de dominação. Essa teoria pode ser usada para suscitar a consciência crítica em geral na sociedade.
Os resultados esperados pela teoria crítica da Escola de Frankfurt são a emancipação dos sujeitos e uma sociedade em que os indivíduos podem ser verdadeiramente autônomos e cooperar entre si livremente. Apesar disso, os filósofos da Escola de Frankfurt mostravam-se desesperançosos em relação à possibilidade de transformação dessa realidade.
Leia mais: O que é iluminismo?
Pensadores da Escola de Frankfurt

Os pensadores da Escola de Frankfurt consideravam que a sua tarefa era teórica, embora uma teoria crítica cujas ideias serviriam para elevar a consciência da necessidade de transformar a sociedade. Por isso, eles produziram uma obra que ficou conhecida como teoria crítica. Horkheimer, Adorno, Marcuse e Habermas foram aqueles que mais contribuíram para a elaboração de uma teoria crítica da sociedade.
Esses pensadores buscaram desenvolver uma perspectiva de análise de todas as práticas sociais que se preocupasse com a crítica à ideologia, ou seja, a explicações da realidade sistematicamente distorcidas que procuram ocultar e legitimar as relações assimétricas de poder.
Eles se preocuparam com a maneira pela qual os interesses, conflitos e contradições sociais se expressam no pensamento, e com a maneira pela qual se produzem e reproduzem em sistemas de dominação. Pela análise desses sistemas, pretendiam intensificar a consciência das raízes da dominação, minar o poder das ideologias e contribuir para forçar transformações na consciência e na ação da população em relação a esses mesmos sistemas.
Suas pesquisas são marcadas por uma referência em comum: o pensamento de Karl Marx. No entanto, a Escola de Frankfurt é crítica (e não dogmática) em relação ao pensamento marxista, razão pela qual ela também começou a ser chamada de teoria crítica.
Embora suas simpatias fossem para a esquerda, os pensadores da Escola de Frankfurt não tinham qualquer vínculo com um partido político, pelo contrário, costumavam desconfiar das organizações burocráticas e partidárias, fossem os comunistas, fossem os social-democratas, fossem os liberais.
Obras da Escola de Frankfurt
As obras dos pensadores da Escola de Frankfurt buscaram evidenciar as complexas relações e mediações que fazem com que os modos de produção não possam ser caracterizados simplesmente como estruturas objetivas, como coisas que se desenvolvem com autonomia por sobre as cabeças dos agentes humanos.
As obras revelam o seu grande diferencial: utilizar o materialismo dialético sob novas perspectivas filosóficas, literárias, antropológicas, econômicas e psicanalíticas, das quais a Escola de Frankfurt retirou ideias fundamentais para a compreensão do nazismo. Destacamos, a seguir, algumas das principais obras dos principais autores da Escola de Frankfurt.
→ Max Horkheimer
- Eclipse da Razão (1947)
- Dialética do Esclarecimento (1947, em colaboração com Theodor Adorno)
→ Theodor Adorno
- Indústria Cultural (publicada após morte do autor)
- Dialética do Esclarecimento (1947, em parceria com Horkheimer)
→ Herbert Marcuse
- Eros e Civilização (1955)
- A Ideologia da Sociedade Industrial (1964)
- Razão e Revolução (1941, publicado no Brasil em 1978)
→ Jürgen Habermas
- Teoria da Ação Comunicativa - 2 volumes (1981)
→ Walter Benjamin
- A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936)
Gerações da Escola de Frankfurt
As gerações da Escola de Frankfurt são tradicionalmente divididas em duas. A primeira geração organizou-se em torno do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, a partir de 1923, e destacamos a seguir apenas alguns dos seus principais nomes.
→ Primeira geração
- Max Horkheimer (1895-1973): foi um importante filósofo, sociólogo e psicólogo social alemão, diretor do Instituto de Pesquisa Social e um dos principais fundadores da Escola de Frankfurt.
- Theodor Adorno (1903-1969): destacou-se como filósofo, sociólogo e crítico cultural, especialmente na área da música. Teve papel central na Escola de Frankfurt e foi coautor da obra Dialética do esclarecimento.
- Leo Lowenthal (1900-1993): foi um destaque nos estudos sobre literatura, cultura popular e cultura de massa na Escola de Frankfurt, tendo papel importante na análise das transformações culturais do início do século XX. Foi editor da revista do instituto.
- Herbert Marcuse (1898-1979): tornou-se conhecido por unir marxismo e psicanálise em suas reflexões, abordando temas como sexualidade, raça e exclusão social.
- Erich Fromm (1900-1980): foi psicanalista e psicólogo social e buscou aproximar o marxismo da psicanálise, sendo um crítico contundente do totalitarismo e da alienação nas sociedades modernas.
- Walter Benjamin (1892-1940): foi filósofo, crítico literário e cultural. Embora não tenha tido vínculo formal com o instituto, Benjamin pertencia ao círculo externo da Escola de Frankfurt, tendo suas ideias dialogado profundamente com os demais membros do instituto. Para Benjamin, a reprodução técnica da obra de arte (cinema, fotografia, rádio etc.) promoveria a dessacralização dela, ocorrendo aquilo que ele denominava “perda da aura”.
- Friedrich Pollock (1894-1970): era um economista especialista em problemas de planejamento nacional, além de filósofo e cientista social. Foi um dos fundadores do Instituto para Pesquisa Social e responsável por desenvolver a vertente econômica da teoria crítica.
→ Segunda geração
A segunda geração da Escola de Frankfurt nasceu da obra mais recente de Jürgen Habermas, talvez o mais importante filósofo alemão da segunda metade do século XX, que reformulou a noção de teoria crítica.
Após décadas de desenvolvimento da teoria crítica, os fundadores da Escola de Frankfurt estavam pessimistas quanto à possibilidade de progresso humano, de emancipação dos sujeitos. Nesse sentido, Habermas foi o menos desencorajador.
Seu otimismo se baseava na racionalização da vida introduzida pelo projeto iluminista (a razão instrumental) como uma condição prévia, e não um obstáculo, do progresso. Além disso, segundo Habermas, a concepção iluminista da razão não é meramente instrumental, pois ela inclui também uma concepção emancipadora, mais rica, e a razão comunicativa, baseada na interação comunicativa, que surge à medida que as pessoas se aproximam de uma situação discursiva ideal.
Essa é uma situação discursiva em que as influências que distorcem a comunicação interpessoal são superadas, e os participantes de um debate público alcançam aquela autonomia que era o objetivo das aspirações emancipatórias do iluminismo. Se quiser saber mais sobre esse importante pensador, leia nosso texto.
Escola de Frankfurt e a indústria cultural
![Televisores antigos e microfones em referência à indústria cultural, foco de estudo da Escola de Frankfurt. [imagem principal]](https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/be/2025/07/industria-cultural.jpg)
O conceito de indústria cultural foi criado pelos fundadores da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer, na primeira metade do século XX. A indústria cultural designa a indústria da diversão popular, do entretenimento veiculado por televisão, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas etc.
Eles afirmavam que indústria cultural seria um conceito mais correto do que “cultura de massa”, uma vez que este termo sugere algo enganoso: que o movimento da cultura de massa surge espontaneamente da sociedade. Na verdade, a indústria cultural faz uma cultura para a massa, o que promove o modelo de coesão social capitalista bem como a manutenção do status quo da ordem estabelecida mediante o esvaziamento do conteúdo crítico das obras de arte.
Como os intelectuais da Escola de Frankfurt concebiam a arte como um instrumento de libertação do ser humano, eles investigaram exaustivamente as implicações do sistema capitalista na produção artística. O termo indústria cultural nasceu dessas reflexões e mostrou como o capitalismo permeia e molda mentalidades e padrões estéticos e de consumo.
Na indústria cultural, o que impulsiona a produção de cultura para o consumo massivo é o lucro, o grande objetivo do capital. Assim como acontece numa linha de montagem fabril, na indústria cultural tudo que é produzido precisa apresentar características como a fácil absorção pelos consumidores e a alta reprodutibilidade. Toda essa padronização do que é produzido pela indústria cultural contribui para a mercantilização da cultura. A indústria cultural dificilmente tolera aqueles que não se moldam aos seus padrões.
Por fim, vale ressaltar que, segundo os fundadores da Escola de Frankfurt, as consequências desse processo é que o espaço da arte é ocupado pela indústria do entretenimento, que comercializa produtos para ocupar o tempo livre dos trabalhadores, entre uma jornada e outra de trabalho.
Na indústria cultural, não há que se pensar, pois o que é oferecido aos consumidores é a repetição do mesmo, o caráter sempre igual das relações, a passividade diante da realidade, a ausência da crítica e o comportamento subserviente. A Escola de Frankfurt afirma que a indústria cultural reforça a sociedade administrada, a falta de autonomia, o esvaziamento do pensar livre de amarras perante a realidade social. Para se aprofundar mais no tema da indústria cultural, leia nosso artigo.
História da Escola de Frankfurt
![Faixada do atual Instituto para Pesquisa Social, onde se reúnem pensadores integrantes da Escola de Frankfurt.[1]](https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/be/2025/07/instituto-pesquisa-social.jpg)
A história da Escola de Frankfurt é muito conturbada. Ela começou com a fundação do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, em 1923. Max Horkheimer assumiu a direção do instituto em 1930, e, sob sua liderança, ele passou por uma transformação significativa. A disciplina filosofia social foi instalada e teve início um programa interdisciplinar que integrava filosofia, economia, sociologia e psicanálise.
A atuação dos intelectuais da Escola de Frankfurt, coincidentemente, cresceu com a ideologia do partido nazista alemão. Isso permitiu que a ascensão do partido de Hitler também fosse alvo das reflexões da Escola de Frankfurt.
Como os principais nomes da Escola de Frankfurt eram de origem judaica, o instituto foi obrigado a se exilar da Alemanha, em 1933, e passou por diversos países, tais como Suíça e França, antes de atravessar o oceano Atlântico e ser recebido na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A Escola de Frankfurt só retornou e se restabeleceu em Frankfurt em princípios da década de 1950.
A história da Escola de Frankfurt acompanhou os acontecimentos turbulentos na Europa da primeira metade do século XX, um contexto histórico marcado pela derrota dos movimentos proletários de esquerda na Europa Ocidental, após o fim da Primeira Guerra Mundial; pelo colapso dos partidos de massa de esquerda na Alemanha, que se transformaram em partidos reformistas ou social-democratas ou dominados por Moscou; e pela degeneração da Revolução Russa, iniciada em 1917, mas ressignificada pelo stalinismo autoritário e até totalitário.
Os pensadores da Escola de Frankfurt testemunharam a ascensão e a derrota do fascismo, na Itália, e do nazismo, na Alemanha. Finalmente, na década de 1960, a Escola de Frankfurt dialogou com os movimentos sociais e estudantis que emergiram exigindo transformações radicais nas universidades e sociedades europeias.
Após o retorno à Alemanha e encerrada a Segunda Guerra Mundial, o grupo de intelectuais começou a ser chamado de Escola de Frankfurt, ao mesmo tempo que passou por uma diversificação, com o trabalho de Jürgen Habermas elaborando a teoria do consenso com base no agir comunicativo.
Em 1968, tornaram-se evidentes as tensões geracionais e políticas que existiam entre a Escola de Frankfurt e os seus principais seguidores. Inspirados em parte pela teoria crítica, os movimentos sociais e estudantis na década de 1960 denunciavam a passividade e a distância que a escola mantinha das lutas sociais.
Enquanto Adorno tinha uma visão desconfiada dos movimentos sociais e estudantis, criticando o radicalismo dos estudantes universitários europeus (e rompendo publicamente com eles), Herbert Marcuse apoiava os movimentos de contestação e os considerava uma possibilidade real de transformação da sociedade.
Todos esses acontecimentos marcaram a história da Escola de Frankfurt e suscitaram questões fundamentais para aqueles intelectuais que se inspiraram no pensamento social e filosófico marxista, mas olhavam com receio os caminhos que a esquerda socialista estava tomando.
Acima de tudo, alguns pensadores da Escola de Frankfurt consideravam enganosa e perigosa a concepção de que o socialismo era uma tendência inevitável do desenvolvimento da história, assim como a ideia de que a ação política correta resultaria automaticamente da promulgação da linha partidária definida como correta.
A história da Escola de Frankfurt, ao mesmo tempo que revigorou o pensamento de Karl Marx, trouxe o reconhecimento de que o marxismo havia se tornado uma ideologia repressiva em sua versão stalinista. Isso constitui uma das premissas fundamentais da Escola de Frankfurt. Por isso, a história da Escola de Frankfurt pode ser associada diretamente a um radicalismo antibolchevique e a um marxismo aberto e crítico.
Hostis, fossem ao capitalismo, fossem ao socialismo soviético, os escritos dos pensadores da Escola de Frankfurt procuraram manter viva a possibilidade de um caminho alternativo para a evolução da sociedade, valorizando a crítica de questões e problemas como o autoritarismo e a burocracia, por exemplo, que raramente eram tematizados por versões mais ortodoxas do marxismo.
A Escola de Frankfurt se consolidou como uma das principais correntes filosóficas e de pensamento social na Europa do século XX. O seu projeto inicial, programado por Max Horkheimer, foi se diluindo com o passar das décadas, transformando-se em múltiplas correntes de pensamento crítico que continuam muito influentes até hoje.
Exercícios resolvidos sobre Escola de Frankfurt
QUESTÃO 1
Analise a figura a seguir.
Chaplin. Tempos Modernos. (Disponível em: <http://adorocinema. cidadeinternet.com.br/filmes/temposmodernos/temposmodernos01.jpg> Acesso em: 8 ago. 2004.)
“Parece que enquanto o conhecimento técnico expande o horizonte da atividade e do pensamento humanos, a autonomia do homem enquanto indivíduo, a sua capacidade de opor resistência ao crescente mecanismo de manipulação das massas, o seu poder de imaginação e o seu juízo independente sofreram aparentemente uma redução. O avanço dos recursos técnicos de informação se acompanha de um processo de desumanização. Assim, o progresso ameaça anular o que se supõe ser o seu próprio objetivo: a idéia de homem.”
(HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Trad. de Sebastião Uchôa Leite. Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976. p. 6.)
Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos sobre racionalidade instrumental, é correto afirmar:
a) A imagem de Chaplin está de acordo com a crítica de Horkheimer: ao invés de o progresso e da técnica servirem ao homem, este se torna cada vez mais escravo dos mecanismos criados para tornar a sua vida melhor e mais livre.
b) A imagem e o texto remetem à ideia de que o desenvolvimento tecnológico e o extraordinário progresso permitiram ao homem atingir a autonomia plena.
c) Imagem e texto apresentam o conceito de racionalidade que está na estrutura da sociedade industrial como viabilizador da emancipação do homem em relação a todas as formas de opressão.
d) Enquanto a imagem de Chaplin apresenta a autonomia dos trabalhadores nas sociedades contemporâneas, o texto de Horkheimer mostra que, quanto maior o desenvolvimento tecnológico, maior o grau de humanização.
e) Tanto a imagem quanto o texto enaltecem a inevitável instrumentalização das relações humanas nas sociedades contemporâneas.
Resposta: A
Resolução:
Tanto a imagem como o texto indicam a submissão do homem ao progresso técnico. Isto decorre da ambição dos modernos em dominar a natureza para seu bem-estar. A escola de Frankfurt lança mão do conceito de razão instrumental para explicar tal acontecimento; a razão instrumental opera pelo cálculo eficiente, quer dizer, é totalmente objetiva e procura o meio mais eficaz de atingir seu fim. Dentro da lógica capitalista, o progresso econômico é o grande objetivo, enquanto a melhoria de vida fica em segundo plano. Assim, a razão instrumental promove meios de dominação não apenas da natureza, mas também dos homens, vistos como massa, pondo o progresso técnico e econômico por finalidade.
QUESTÃO 2 (Uece 2020)
O trecho abaixo apresentado se refere à influência da indústria cultural e seus produtos, em relação à ordem social e política contemporânea, sob a ótica dos pensadores da Escola de Frankfurt:
“O desenvolvimento da indústria cultural ocasionou a incorporação dos indivíduos numa totalidade social racionalizada e reificada; frustrou sua imaginação e tornou-os vulneráveis à manipulação por ditadores e demagogos. A propaganda fascista necessitou apenas ativar e reproduzir a mentalidade existente das massas; ela simplesmente tomou as pessoas pelo que eram — os filhos da indústria cultural — e empregou as técnicas dessa indústria para mobilizá-las por trás dos objetivos agressivos e reacionários do fascismo.”
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes. Adaptado.
Considerando o trecho acima e o conceito de indústria cultural, atente para o que se diz a seguir e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.
( ) Os produtos da indústria cultural são, geralmente, construções simbólicas impregnadas de estereótipos que suprimem a reflexão crítica sobre a ordem social, podendo abrir espaço para uma visão autoritária.
( ) Aqueles indivíduos que foram capturados pela retórica autoritária do fascismo são os que já haviam sucumbido à influência da indústria cultural e à sua capacidade de manipulação das massas.
( ) Os produtos da indústria cultural desafiam as normas sociais e possuem um caráter antirrealista que se torna fonte de fascínio por parte das massas que aderem ao seu falso caráter revolucionário.
( ) Exemplificada na indústria de entretenimento, a indústria cultural padronizou e mercantilizou as formas culturais, o que resultou em uma arte banal e repetitiva, incapaz de provocar um olhar crítico.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, F, V, F
b) V, V, F, V
c) V, F, F, V
d) F, V, V, F
Resposta: B
Resolução:
O conceito de indústria cultural remonta às análises da Escola de Frankfurt, sobretudo de Theodor Adorno e Max Horkheimer, que viram o desenvolvimento de uma indústria de entretenimento que coincidiu com o declino da crítica e da cultura e a ascensão do fascismo europeu. O desenvolvimento técnico das artes e da indústria do entretenimento não libertava as formas artísticas e as massas criticamente, mas sim era baseada em estereótipos, padronização e repetição de assuntos banais, constituindo um imaginário social que acabou por alienar e reificar as massas que serviram ao fascismo. Nesse sentido, todas as alternativas são verdadeiras, com exceção da terceira, que supõe a indústria cultural afastada das normais sociais — a indústria cultural não esconde seu conservadorismo e reforça o status quo em seus estereótipos e imposição da narrativa padrão.
QUESTÃO 3
Leia o texto a seguir.
As reações mais íntimas das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personality significa para elas pouco mais que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor nas axilas e das emoções. Eis aí o triunfo da publicidade na indústria cultural.
(ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.p.138.)
A respeito da relação entre indústria cultural, esvaziamento do sentido da experiência e superficialização da personalidade, assinale a alternativa correta.
a) A abstração a respeito da própria personalidade é uma capacidade por meio da qual o sentido da experiência, esvaziado pela indústria cultural, pode ser reconfigurado e ressignificado.
b) A superficialização da personalidade e o esvaziamento do sentido da experiência são efeitos secundários da indústria cultural, decorrentes dos exageros da publicidade.
c) A superficialização da personalidade resulta da ação por meio da qual a indústria cultural esvazia o sentido da experiência ao concebê-la como um sistema de coisas.
d) O esvaziamento do sentido da experiência criado pela indústria cultural atesta a superficialidade inerente à personalidade na medida em que ela é uma abstração.
e) O poder de reificação exercido pela indústria cultural sobre a personalidade consiste em criar um equilíbrio entre sensibilidade (emoções) e pensamento (máxima abstração).
Resposta: C
Resolução:
A) INCORRETA. A abstração da qual trata o texto não apenas não implica necessariamente uma reconfiguração da experiência, como, ainda e antes, implica a sua destruição.
B) INCORRETA. A superficialização da personalidade e o esvaziamento da experiência são efeitos inerentes à indústria cultural, podendo ser concebidos como essenciais ao modo de proceder dessa indústria.
C) CORRETA. Conceber a experiência como um sistema de gestão de coisas como a personalidade é tornada superficial, uma coisa entre coisas.
D) INCORRETA. A personalidade não é algo superficial, tampouco abstrato.
E) INCORRETA. Justamente por não haver equilíbrio entre sensibilidade e pensamento é que a personalidade é reificada.
Crédito da imagem
[1] Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
FREITAG, Bárbara. Teoria crítica, ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
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