Solidariedade mecânica e orgânica são dois tipos de ordem social analisados na obra do sociólogo francês Émile Durkheim. A solidariedade mecânica é encontrada nas sociedades mais tradicionais, menos populosas e complexas, com a divisão social do trabalho mais simples. Nessa ordem social, se um indivíduo deixa de cumprir a sua função, outro pode substituí-lo sem maiores problemas, de modo que os sujeitos são intercambiáveis e muito parecidos entre si.
A solidariedade orgânica surge da industrialização da sociedade. A divisão do trabalho, ao assegurar uma interdependência entre as profissões, é o primeiro elemento que caracteriza essa ordem social. É baseada na interdependência das funções como um organismo vivo. Cada elemento, cada órgão executa uma função especializada para que o corpo funcione com saúde e harmonia.
Na solidariedade mecânica, sentimentos e crenças coletivas são capazes de assegurar a coesão social sem maiores dificuldades. Nas sociedades que se industrializam, os fundamentos da moral, da política e da cultura presentes na solidariedade mecânica se dissolvem.
Leia também: Instituições sociais — as relações entre família, escola, trabalho, Igreja e Estado
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre solidariedade mecânica e orgânica
- 2 - Videoaula sobre solidariedade mecânica e orgânica
- 3 - O que é solidariedade mecânica e orgânica?
- 4 - Características da solidariedade mecânica e orgânica
- 5 - Exemplos de solidariedade mecânica e orgânica
- 6 - O que é solidariedade para Durkheim?
- 7 - Exercício resolvido sobre solidariedade mecânica e orgânica
Resumo sobre solidariedade mecânica e orgânica
- A solidariedade mecânica e orgânica são dois tipos de ordem social analisados por Émile Durkheim ao longo de sua obra.
- A divisão do trabalho é o principal elemento caracterizador da solidariedade mecânica e orgânica.
- Nas sociedades de solidariedade mecânica, o indivíduo se percebe como semelhante aos outros e a divisão social do trabalho é simples.
- Nas sociedades de solidariedade orgânica, o indivíduo se percebe como diferente dos outros, o que forma sujeitos mais egoístas e individualistas.
- A solidariedade orgânica é caracterizada por uma divisão social do trabalho complexa e marcada pela interdependência de diferentes profissões.
- A solidariedade orgânica tem crise no sistema de valores e normas morais que asseguram a coesão social, sentindo necessidade de novas narrativas.
Videoaula sobre solidariedade mecânica e orgânica
O que é solidariedade mecânica e orgânica?
Em Da divisão do trabalho social, obra de 1893, Émile Durkheim opõe dois tipos polares de ordem social ou solidariedade. As sociedades de solidariedade mecânica, de um lado, são aquelas mais tradicionais e nas quais o indivíduo se percebe como semelhante aos outros. Por consequência, o indivíduo é uma parcela de um todo e tem, por isso mesmo, apenas uma consciência rudimentar de sua individualidade.
Do outro lado, as sociedades de solidariedade orgânica correspondem a um estágio mais avançado de evolução. Elas emergem nas sociedades industriais, nas quais o indivíduo tende a ser mais individualista, egoísta e consciente de uma essência própria que o diferencia dos outros.
Como efeito disso, na solidariedade orgânica o indivíduo tende a sentir-se isolado do corpo social. Nesse caso, o risco maior é um estado de anomia, consequência das transformações sociais, como a perda de fé na vida e a ausência de normas sociais, promovendo situações de fragilidade e desajustes da sociedade que culminam na diminuição de solidariedade social.
Características da solidariedade mecânica e orgânica
A solidariedade mecânica, ou por semelhança, é típica das sociedades mais elementares, com populações reduzidas e pouco complexas, e a sua principal característica é a simples divisão social do trabalho. Os sujeitos são semelhantes e cumprem papéis sociais simples e parecidos, o que permite a simples substituição de um por outro.
Na solidariedade mecânica, a tradição e a moral, a política e a cultura conseguem dar conta da coesão social porque o sistema de normas e valores é pouco denso. As leis e o direito são repressivos e violentos, mas contam com a aceitação e adesão da comunidade, que respeita a autoridade de onde vem o poder de punir.
A solidariedade orgânica, ou por complementaridade, está nas sociedades industriais a pleno vapor. A ordem social orgânica, conforme Durkheim, é baseada no individualismo, em laços de dependência e de troca criados por uma complexa diferenciação funcional.
A ordem social orgânica é caracterizada por um número muito grande de instituições econômicas, políticas e culturais especializadas, que geram funções cada vez mais específicas para os indivíduos e são insuficientes para assegurar a coesão social. O direito é cooperativo na solidariedade orgânica, e as leis, menos violentas.
A evolução para a solidariedade orgânica desenvolve sujeitos individualistas e egoístas, o que exerce um efeito dissolvente na própria solidariedade. Os antigos laços com a moral, a política e a cultura foram rompidos e se faz necessário produzir uma nova base moral para a ordem social. Mas sob que condições sentem-se solidários uns com os outros sujeitos tão egoístas e individualistas?
Na visão de Durkheim, o Estado deveria interferir na sociedade, regular a economia e abolir os privilégios herdados no acesso a posições na divisão do trabalho. Durkheim enfatizou o papel das corporações ou associações de profissionais como mediadoras entre os indivíduos e o Estado, além de prescrever que elas ocupassem o espaço vazio de normas e valores e assegurassem os novos vínculos entre o indivíduo e a sociedade como um todo, promovendo valores morais laicos e uma educação cívica adequada para a nova ordem social.
Veja também: O que significa um Estado laico?
Exemplos de solidariedade mecânica e orgânica
Encontramos exemplos de solidariedade mecânica em comunidades rurais pequenas em que todos seguem as mesmas tradições e regras, e a coesão social se dá pela semelhança e pela forte moral coletiva. As formas de coerção, apesar de repressivas e violentas, são aceitas e respeitadas pelos membros da comunidade.
Outro exemplo é o ato de vizinhos ajudarem uns aos outros por laços tradicionais, afetivos ou por costumes em comum.
Exemplos de solidariedade orgânica nas sociedades modernas e mais complexas são as interdependências entre profissionais de diferentes áreas, como médico, professor, agricultor, comerciante, transportador, operário, engenheiro, que dependem do trabalho uns dos outros para o funcionamento da sociedade.
Na solidariedade mecânica, a família cumpre papéis que são substituídos por outros especialistas na solidariedade orgânica, como a preparação para o trabalho. A família, por exemplo, que na etapa pré-industrial executava as funções tanto de socialização quanto de produção econômica, após a Revolução Industrial viu-se confinada à criação dos filhos.
Nem sequer da educação dos filhos a família toma conta sem lidar com as normas e regulamentos do Estado. Essa transformação das funções da instituição família ilustra a mudança de uma solidariedade mecânica para uma solidariedade orgânica.
O que é solidariedade para Durkheim?
A solidariedade para Durkheim é um conjunto de mecanismos econômicos, políticos, sociais e culturais que integram os indivíduos à ordem social, instituições que criam funções, normas e valores capazes de tornar compatível a autonomia dos indivíduos com a manutenção de uma ordem social coerente. A solidariedade é um conceito fundamental para a sociologia do francês Émile Durkheim.
Considerado um dos fundadores da Sociologia, o pensamento de Durkheim é muito influente para a análise sociológica da divisão social do trabalho, em especial para as análises que adotam o funcionalismo como ângulo de observação da sociedade. Para essa tradição sociológica, a divisão do trabalho é o resultado de uma diferenciação social ligada à especialização evolutiva de função, em especial como consequência da industrialização.
Portanto, na visão de Durkheim e de outros funcionalistas, a industrialização substituiu instituições multifuncionais por outras mais especializadas, gerando funções cada vez mais especializadas, necessárias para a reprodução da ordem social industrial. A crítica que pode ser feita às explicações de Durkheim da divisão do trabalho é seu determinismo tecnológico, aliado a um descaso quanto às relações entre a divisão do trabalho, a dominação de classe e a subordinação das mulheres.
Saiba mais: Afinal, qual é o papel da mulher na sociedade?
Exercício resolvido sobre solidariedade mecânica e orgânica
1. A divisão do trabalho produz a solidariedade, não apenas por fazer de cada indivíduo um trocador, como dizem os economistas, mas por criar entre os homens um sistema completo de direitos e deveres que os unem uns aos outros de modo durável. Da mesma forma que as similitudes sociais dão origem a um direito e a uma moral que os protegem, a divisão do trabalho dá origem às regras que garantem o concurso pacífico e regular das funções divididas.
(DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. 3ª ed. São Paulo: Martins fontes, 2008. p.429.)
Considerando essa perspectiva teórica da divisão social do trabalho em Durkheim, assinale a afirmação verdadeira.
a) Segundo Durkheim, a divisão social do trabalho nas sociedades industrializadas e urbanas instala conflitos ininterruptos entre os trabalhadores, os patrões e o Estado.
b) A partir da perspectiva durkheimiana, a acentuada divisão do trabalho nas sociedades modernas mantém maior união social por meio da interdependência das tarefas profissionais.
c) Para Emile Durkheim, a divisão social do trabalho dificulta a produção de coesão dentro das sociedades modernas, criando, de outro modo, constantes disputas entre os seus membros.
d) De acordo com Durkheim, quanto maior a divisão social do trabalho dentro das configurações sociais modernas, maior o predomínio dos conflitos de classe entre os homens.
Resposta: B.
Ao analisar a divisão social do trabalho, Émile Durkheim afirmava que esse aspecto era o responsável pela produção de solidariedade social, pois criava um sistema de direitos e deveres completo entre os sujeitos, originando regras para as atividades a serem desenvolvidas. Essa lógica explicaria o porquê de nas sociedades contemporâneas haver uma união social cada vez maior, já que a interdependência de tarefas vem ganhando cada vez mais volume, acentuando ainda mais a divisão do trabalho.
Fontes
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. 3ª ed. São Paulo: Martins fontes, 2008.