Educação sexual

Educação sexual é o ensino e a aprendizagem de temáticas relacionadas à sexualidade humana. É importante para o autoconhecimento e a identificação de situações de abuso e violência.

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A educação sexual é o ensino e a aprendizagem da sexualidade humana necessários para a desconstrução de estigmas a respeito desse tema. São inúmeros os tópicos que podem ser ensinados através dessa disciplina, o que compreende questões como os sistemas reprodutores, as relações interpessoais, o consentimento, os métodos contraceptivos e a gravidez precoce. Em contrário do que se acredita, a educação sexual não é feita através de mídias pornográficas, e ela não incentiva o início da vida sexual.

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Por outro lado, tratar da educação sexual é muito importante para auxiliar as crianças e adolescentes a identificar situações de abuso e violência sexual, ajudando a prevenir esse tipo de crime e a proteger a integridade física e psicológica dos jovens. Para além disso, esse tipo de debate favorece o autoconhecimento e a confiança por meio da apresentação da sexualidade como uma questão natural que é inerente a todos os seres humanos. Abordar a educação sexual é uma tarefa que exige atenção e sensibilidade do educador.

Leia também: Orientação sexual, gênero e sexo biológico — qual a diferença?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre educação sexual

  • Educação sexual é o ensino e aprendizado de temáticas da sexualidade humana.
  • Aborda uma grande variedade de temas, o que inclui: relações interpessoais, sistemas reprodutores, gênero, doenças sexualmente transmissíveis, consentimento, gravidez precoce.
  • A educação sexual não está relacionada com a pornografia ou com a promiscuidade. Ademais, ela não incentiva com o início precoce da vida sexual de crianças e adolescentes.
  • A falta de educação sexual deixa os jovens mais vulneráveis a situações de abuso e violência sexual. Pode, ainda, aumentar casos de gravidez precoce e infecções com DST.
  • O acesso à educação sexual é importante para que os jovens saibam identificar situações impróprias e de risco. Favorece, ainda, o autoconhecimento e a superação de preconceitos.
  • Trabalhar a educação em sala de aula exige o preparo do educador e a sensibilidade para reconhecer temas pertinentes para cada faixa etária e fase de desenvolvimento.

O que é educação sexual?

Alt: Personagens em situações de sala de aula, assédio e instruções de saúde, em alusão aos temas abordados na educação sexual. [imagem_principal]
A educação sexual abrange temas como a construção do gênero, consentimento e violência, saúde sexual e reprodutiva.

Educação sexual é o ato de transmitir informações e instruir indivíduos acerca do sexo e da sexualidade humana, extrapolando as questões unicamente biológicas e reprodutórias. O principal propósito da educação sexual é promover a conscientização e abordar, de forma acessível, um conjunto de temas que são parte da natureza dos seres humanos, mas que, apesar disso, ainda são tratados como tabu pela sociedade.

A educação sexual pretende, com isso, desconstruir a visão preconceituosa e a incompreensão diante de questões fundamentais para o autoconhecimento, o respeito ao próximo e para a construção de relações justas no convívio social.

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O que a educação sexual ensina?

A educação sexual é um campo muito abrangente do ensino que tangencia diferentes áreas do conhecimento, incluindo a biologia, a psicologia e a sociologia. Na definição da Unesco, uma educação sexual abrangente e compreensiva inclui o aprendizado dos aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais da sexualidade humana, e não somente questões atreladas à reprodução, que também são importantes, mas não suficientes dentro desse quadro educativo.

A agência especializada da ONU separa os conteúdos que são parte da educação sexual a partir de oito conceitos-chave. Reunimos todos eles na tabela a seguir, bem como as temáticas que são ensinadas a partir de cada um.

Temas abordados em educação sexual, segundo a Unesco

Conceito-chave

Tópicos

Relacionamentos

Essa abordagem fala sobre as relações no núcleo familiar, respeito, tolerância, inclusão e comprometimento. Inclui, ainda, relacionamentos amorosos e de amizade, além do estabelecimento de limites e da recusa.

Sexualidade, valores, direitos e cultura

Os direitos humanos são fundamentais na educação sexual. Eles estão atrelados a questões como o respeito, aos diferentes valores e às diferenças culturais que permeiam a sexualidade.

Gênero

A construção do gênero no meio social, equidade de gênero, desconstrução de estereótipos de gênero e violência de gênero são tópicos abordados dentro desse conceito.

Violência e segurança

Consentimento, integridade corporal, privacidade e formas seguras de utilizar a tecnologia de informação de comunicação.

Estratégias de saúde e bem-estar

Busca por ajuda, tomadas de decisão com relação ao sexo e à sexualidade, normas do comportamento sexual, direito à recusa, educação midiática acerca de temáticas relacionadas, como forma de desconstruir estereótipos e tabus.

Anatomia humana e desenvolvimento do corpo

Fisiologia e anatomia dos sistemas reprodutivos dos seres humanos, a forma como a reprodução acontece, puberdade e imagem corporal estão inclusas nesse conceito.

Sexualidade e comportamentos sexuais

O ciclo da vida sexual dos seres humanos, o comportamento sexual e a forma como o corpo responde são tópicos abordados, estando o último também relacionado com o funcionamento do organismo humano.

Saúde sexual e reprodutiva

Gravidez e métodos contraceptivos, tratamento e apoio para portadores do vírus HIV e pessoas que desenvolveram a aids, além de métodos de prevenção, reconhecimento e entendimento das doenças sexualmente transmissíveis (DST), incluindo a aids.

Como é possível observar, não é verdade que a educação sexual é uma forma de apresentar pornografia às crianças e adolescentes e, também, não incita a promiscuidade entre os jovens. A inserção dessa disciplina na escola ou em ambientes de ensino e aprendizado tampouco estimula o início precoce da atividade sexual, conforme evidenciou a Unesco em documento datado de 2019|1|.

Veja também: Quais são os riscos da gravidez na adolescência?

ECA e a educação sexual

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma legislação que tem como principal objetivo defender os direitos desse segmento da população brasileira, tendo como base os direitos humanos e as prerrogativas da Constituição Federal de 1988. Como tal, o ECA defende a integridade física e psicológica das crianças e adolescentes, protegendo-os contra maus-tratos, abusos e violências, o que compreende o assédio e a violência sexual. Além disso, o ECA prevê punições a quem produza ou exponha os menores de idade a conteúdos considerados impróprios, incluindo sexuais e pornográficos.

Apesar de não citar de maneira direta a educação sexual, ou mesmo os direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes|2|, uma análise aprofundada do ECA nos permite concluir que essa legislação apresenta artigos que demonstram a importância desse tipo de aprendizado para a proteção de pessoas nessas faixas etárias e asseguração de suas garantias básicas, incluindo a manutenção da infância. Mais do que isso, é importante pontuar que o ECA defende o direito das crianças e dos adolescentes à saúde, à dignidade, ao respeito, à convivência familiar, que são todos temas que fazem parte dos conceitos-chave da educação sexual.

O que a falta de educação sexual pode causar?

A sexualidade é um aspecto inerente dos seres humanos e vai despertar a curiosidade de jovens em algum momento do seu processo de crescimento e desenvolvimento. Longe de conteúdos didáticos e elaborados por especialistas, e diante da facilidade que, principalmente, as crianças e os adolescentes têm de utilizar os meios de comunicação e as redes sociais, é provável que eles busquem informações em locais inadequados, ou acabem sendo expostos a conteúdos impróprios. A falta de educação sexual, além disso, pode causar:

  • Aumento de casos de gravidez precoce ou não planejada;
  • Infecções com doenças sexualmente transmissíveis;
  • Desconhecimento do próprio corpo e dos limites que devem ser impostos, deixando-os mais vulneráveis em caso de assédio e violência sexual;
  • Incompreensão da sua sexualidade, o que pode aumentar a vulnerabilidade psicológica;
  • Vergonha ou receio de conversar sobre temáticas importantes com pais ou responsáveis, prejudicando a sua autoconfiança e as relações interpessoais em seu núcleo familiar;
  • Reprodução de preconceitos e estigmas que estão relacionados com a sexualidade e o gênero.
Ilustração de uma menina grávida e um menino preocupado em texto sobre educação sexual.
A falta de educação sexual pode aumentar os casos de gravidez precoce ou não planejada.

Importância da educação sexual

A educação sexual é uma matéria de extrema importância para o desenvolvimento pessoal de crianças e adolescentes, mas, sobretudo, para a garantia do seu direito à vida, à dignidade e à segurança. O conhecimento acerca do seu próprio corpo, de quem pode ou não pode tocá-los e quais áreas podem ou não ser tocadas é crucial para que os jovens saibam identificar situações impróprias que acabam se tornando casos de abuso e violência sexual.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública|3|, pouco mais de três quartos dos estupros cometidos no Brasil são contra crianças com idade até 14 anos. A maioria deles, que é quase 62%, acontece dentro de casa. Então, a educação sexual é imprescindível para prevenir esse tipo de ocorrência. Além disso, a criança e o adolescente devem ser instruídos acerca de como e para quem realizar a denúncia, o que também é introduzido junto das aulas de educação sexual.

A importância da educação sexual se estende, ainda, para o autoconhecimento e o maior cuidado para com o corpo e a saúde. Por meio dela é possível criar espaços de diálogo seguros e acolhedores para que os jovens aprendam sobre a sexualidade humana sem nenhum tipo de tabu, mostrando ser esse um tema que deve ser, sim, abordado com naturalidade. Até mesmo por isso é que a educação sexual auxilia na garantia do respeito para com o outro com relação ao seu corpo, ao seu gênero e à sua sexualidade de um modo geral.

Saiba mais: O que acontece com o corpo na puberdade?

Como trabalhar educação sexual com crianças e adolescentes?

A abordagem da educação sexual com crianças e adolescentes exige um preparo minucioso do educador. É necessário sensibilidade para identificar o público e o recorte de idade com o qual se está trabalhando, de modo a selecionar os temas mais pertinentes para cada faixa etária e recursos pedagógicos que sejam eficazes e envolventes para os alunos.

Por exemplo, uma reportagem do portal G1|4| trouxe uma atividade realizada com crianças de 3 a 10 anos chamada Semáforo do Toque. Com o auxílio de dois bonecos, um representando um menino e outro uma menina, as professoras responsáveis colaram bolinhas verdes, amarelas ou vermelhas de acordo com a parte do corpo.

A partir disso, foi ensinado para as crianças as áreas do corpo que podem ser tocadas por pais e responsáveis e aquelas que somente podem ser tocadas em momentos muito específicos, como o banho, e outros pontos importantes que auxiliam a identificar situações de assédio e abuso. O estudante fica ciente, ainda, acerca das pessoas em quem ele pode confiar com relação a atividades como a sua higiene básica.

Esse tipo de trabalho pode não funcionar com jovens mais velhos, em especial os adolescentes. O uso de materiais educativos, desde livros e cartilhas, vídeos curtos, e também o convite para que profissionais de saúde, como médicos e psicólogos, participem e tirem dúvidas — que podem ser anônimas, por meio de caixas de perguntas ou formulários online — são maneiras de se trabalhar temas como:

  • autoestima e autoconfiança;
  • transformações que acontecem com o corpo durante a puberdade;
  • sentimentos relacionados ao amor, ao sexo e à sexualidade;
  • saúde e bem-estar, incluindo gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos.

Mais do que conhecer os conceitos-chave a serem abordados, o educador deve buscar referências contemporâneas e que conversem com o cotidiano dos jovens, principalmente a atual geração que passa muito tempo em frente às telas e desenvolve quase toda a sua comunicação em ambientes virtuais.

Notas

|1| BRASIL. Educação sexual não estimula atividade sexual. Presidência da República – Secretaria de Comunicação Social, 01 ago. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake/noticias/2023/08/educacao-sexual-nao-estimula-atividade-sexual.

|2| JIMENEZ, Luciene; ASSIS, Daniel Adolpho Daltin; NEVES, Ronaldo Gomes. Direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes: desafios para as políticas de saúde. Saúde em Debate, v. 39, p. 1092-1104, 2015. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/sdeb/2015.v39n107/1092-1104/.

|3| RIBEIRO, Maiara. Como conversar sobre educação sexual com crianças? Portal Drauzio Varella, 30 out. 2024. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/sexualidade/como-conversar-sobre-educacao-sexual-com-criancas/.

|4| TENENTE, Luzia. Educação sexual nas escolas: entenda por que Unesco e especialistas dizem que ela deve ser tema na sala de aula. G1, 15 set. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/09/15/educacao-sexual-na-escola-pode-evitar-casos-de-abuso-saiba-o-que-as-criancas-devem-aprender.ghtml.

Fontes

BRASIL. Ministério da Saúde. Caminhos para a construção de uma educação sexual transformadora [recurso eletrônico]. Ministério da Saúde, Universidade de Brasília. Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caminhos_construcao_educacao_sexual_transformadora.pdf.

CALIXTO, Tatiane. Sem diálogo e sem proteção: como a falta de Educação sexual afeta as adolescentes. Nova Escola, 14 dez. 2024. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/22039/como-a-falta-de-educacao-sexual-afeta-as-adolescentes.

REDAÇÃO. Educação sexual na escola: para que serve? Todos Pela Educação, 29 mai. 2018. Disponível em: https://todospelaeducacao.org.br/noticias/para-que-serve-a-educacao-sexual-na-escola/.

UNESCO. International technical guidance on sexuality education: An evidence-informed approach. Paris: UNESCO, 2018. Disponível em: https://www.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/ITGSE.pdf

A gravidez precoce provoca bruscas transformações fisiológicas e psicológicas.
A gravidez precoce provoca bruscas transformações fisiológicas e psicológicas.
Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.
Deseja fazer uma citação?
GUITARRARA, Paloma. "Educação sexual"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/sexualidade/educacao-sexual.htm. Acesso em 29 de outubro de 2025.
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