Metanol: entenda o que é, para que serve e riscos à saúde de substância que causa intoxicação

Casos de intoxicação após ingestão de bebida alcoólica com metanol foram registrados em São Paulo. Especialistas explicam o que é e riscos à saúde.

Em 29/09/2025 17h41 , atualizado em 29/09/2025 17h44

Frasco com líquido do metanol em laboratório
Metanol causa casos graves de intoxicação no estado de São Paulo.
Crédito da Imagem: Foto - Shutterstock
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O metanol foi responsável por casos de intoxicação registrados em São Paulo a partir da ingestão de bebida alcoólica adulterada, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP).

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Também chamado de álcool metílico, o metanol é um tipo de biocombustível altamente inflamável e é utilizado no processo de fabricação de solvente industrial, plástico e biodiesel. 

Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) publicou nota com orientações ao setor privado sobre a compra segura, conferência dos produtos e fortalecimento da rastreabilidade dos produtos. Preços anormalmente baixos, lacres tortos, erros grosseiros de impressão, odor semelhante a solventes e relatos de consumidores com sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa e náusea devem ser tratados como suspeita de alteração, afirma o MJSP.

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Tópicos deste artigo

O que é e para que serve o metanol?

O metanol (CH₃OH), também conhecido como álcool metílico ou álcool de madeira, é uma substância química utilizada na indústria e ciência que consiste em um líquido incolor, volátil, inflamável e com odor característica, explica o professor de Química Wellington Campos, do Sistema de Ensino pH.

Anteriormente era mais obtido na destilação destrutiva da madeira, mas hoje em dia, sua produção é mais comum a partir do gás natural, por meio da reação de monóxido de carbono com hidrogênio sob alta pressão e temperatura, afirma Wellington.

Entre as principais aplicações do metanol, listadas pelo educador, estão:

  • Combustível: é utilizado como combustível em corridas automobilísticas, especialmente na Fórmula Indy, devido à sua alta octanagem e combustão limpa. Também pode ser usado como aditivo em combustíveis convencionais.

  • Matéria-prima química: serve como base para a produção de formaldeído, ácido acético, dimetil, éter e outros compostos químicos importantes na indústria.

  • Solvente industrial: é amplamente utilizado como solvente em tintas, vernizes, resinas e produtos de limpeza industrial, graças à sua capacidade de dissolver uma ampla gama de substâncias.

  • Anticongelante: empregado em sistemas de refrigeração e como aditivo anticongelante em fluidos industriais.

  • Produção de biodiesel: utilizado no processo de transesterificação para produção de biodiesel a partir de óleos vegetais e gorduras.

  • Indústria farmacêutica: serve como solvente e reagente na síntese de diversos medicamentos.

  • Vetor energético em células a combustível, por sua alta densidade energética e facilidade de transporte.

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Wellington Campos
Wellington Campos, autor de Química do Sistema de Ensino pH.
Crédito: Divulgação.

Qual a diferença de metanol e etanol?

Apesar de serem álcoois, o metanol e etanol possuem diferenças fundamentais, destaca o professor de Química. Quanto à estrutura, enquanto o metanol (CH₃OH) possui um átomo de carbono, o etanol (C₂H₅OH) conta com dois átomos de carbono. 

A principal diferença entre os dois compostos está no nível de toxidade. Enquanto o metanol, pequenas quantidades causam danos maiores à saúde como a cegueira, o etanol apesar de também ser tóxico, possui outro processo de metabolização e consegue ser processado de forma mais fácil pelo corpo, completa Wellington. 

Riscos à saúde causados pela ingestão de metanol

O metanol, assim como acontece com o álcool, é rapidamente absorvido pela via oral e sua dose letal varia entorno de 30 a 240 mL, afirma o médico emergencista Felipe Liger, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Atualmente é uma das principais causas de intoxicação por bebidas alcoólicas no mundo, enfatiza Liger.

"O nosso corpo transforma o metanol em substâncias muito agressivas que causam uma acidose metabólica bem séria. Essas substâncias acabam atacando principalmente o sistema nervoso central e o nervo óptico. O risco mais temido, sem dúvida, é a perda permanente da visão, a cegueira. Além disso, a intoxicação pode levar a uma insuficiência respiratória e, nos casos mais graves, é fatal"

Guilherme Zaqueo - Médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital Santa Marcelina 

Guilherme Zaqueo
Guilherme Zaqueo, médico intensivista e coordenador da UTI do hospital Santa Marcelina.
Crédito: Divulgação.

Sintomas da ingestão de metanol

Os sintomas da ingestão de metanol acontecem após 12 a 24 horas após a ingestão, segundo Felipe Liger. Entre as manifestações clínicas apresentadas, estão:

  • Enjoo

  • Vômito

  • Dor abdominal

  • Alterações no nível de consciência

  • Alterações visuais, tais como visão dupla, borrada e redução da acuidade visual. Em casos mais graves, cegueira.

Segundo Guilherme Zaqueo, em casos mais avançados, a pessoa pode apresentar dificuldade em respirar, ter convulsões e pode até entrar em coma. 

Tratamento

O tratamento utilizado depende das manifestações clínicas e estado do paciente, mas de forma geral a intenção é neutralizar a metabolização tóxica do metanol, explica Felipe Liger.

Uma das alternativas para tratar a intoxicação é o uso do etanol que age na saturação da enzima álcool desidrogenase, reduzindo a formação dos metabólicos tóxicos.

Outra forma é por meio do antídoto específico de fomepizol, mas que não é encontrado com facilidade no país. Felipe destaca que esses antídotos são utilizados em casos de pacientes muito sintomáticos que possuem alterações bioquímicas e com concentração sérica do metanol maior que o limite aceito no organismo. 

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Por Lucas Afonso
Jornalista