O zoroastrismo (ou mazdeísmo) é uma religião que surgiu há três mil anos na antiga Pérsia, atual Irã, que tinha como deus supremo Ahura Mazda (“Sábio Senhor”) e foi fundada, segundo a tradição, pelo profeta Zaratustra ou Zoroastro. Seu livro sagrado é o Avesta. Os zoroastristas acreditavam numa luta entre o bem e o mal, no livre-arbítrio do ser humano e no juízo final. Essa religião teve grande influência na formação de outras crenças monoteístas, especialmente o cristianismo e o islamismo.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre zoroastrismo
- 2 - O que é o zoroastrismo?
- 3 - O que prega o zoroastrismo?
- 4 - Deuses do zoroastrismo
- 5 - Símbolos do zoroastrismo
- 6 - Livros do zoroastrismo
- 7 - O zoroastrismo ainda existe?
- 8 - Zoroastrismo no Brasil
- 9 - Origem do zoroastrismo
- 10 - Exercícios resolvidos sobre zoroastrismo
Resumo sobre zoroastrismo
- Zoroastrismo é uma religião que teve origem na antiga Pérsia, atual Irã, há três mil anos.
- É uma religião monoteísta, centrada na fé em Ahura Mazda, o deus supremo do zoroastrismo.
- Prega que os seres humanos são detentores de livre-arbítrio para escolher qual lado seguir e têm responsabilidade sobre suas escolhas.
- Segundo o zoroastrismo, a existência humana ocorre na disputa entre o bem e o mal.
- O bem é centralizado em Ahura Mazda e o mal é comandado por Arimã, ou Angra Mainyu, entidade criada por Ahura Mazda, conhecida também como o “Demônio” dos zoroastristas.
- Os três pilares do zoroastrismo são bons pensamentos, boas palavras e boas ações, que levam à harmonia com a verdade e o bem.
- O Avesta é o livro sagrado do zoroastrismo.
- O zoroastrismo é a religião monoteísta mais antiga da humanidade.
- Ela influenciou fortemente a formação do cristianismo e, posteriormente, do islamismo.
- O profeta Zoroastro é o fundador do zoroastrismo, segundo a tradição.
- O zoroastrismo ainda existe e é praticado por algumas comunidades no Irã, país de origem da doutrina, e na Índia.
O que é o zoroastrismo?
O zoroastrismo, também conhecido como mazdeísmo, é uma das religiões mais antigas da humanidade e teve origem há três mil anos na antiga Pérsia (atual Irã). Tinha como deus supremo Ahura Mazda, “Sábio Senhor”, e foi fundada, segundo a tradição, pelo profeta Zaratustra (ou Zoroastro). Tem como livro sagrado o Avesta.
Essa religião propunha uma visão ética e espiritual da vida dominada por uma luta entre o bem e o mal, na qual os seres humanos têm livre-arbítrio para escolher qual lado seguir e responsabilidade por suas escolhas, preceitos que influenciaram fortemente as religiões monoteístas posteriores, como o cristianismo. Segundo a historiadora Mary Boyce, o zoroastrismo ajudou a moldar ideias centrais nos monoteísmos ocidentais, especialmente o cristianismo, como céu e inferno, juízo final, anjos, guerra espiritual entre o bem e o mal e a noção de um salvador que virá no fim dos tempos.|1|
O zoroastrismo foi uma religião que inovou por destacar a importância da conduta do indivíduo e na responsabilidade pessoal: como ele vive, fala e age é considerado tão importante quanto acreditar e cultuar os deuses. Enquanto as demais religiões de então demandavam apenas a crença nos deuses do grupo e a realização de rituais exteriores, como sacrifícios e afins, o zoroastrismo exigia uma conduta ética do indivíduo, e seus praticantes passavam a enxergar a vida como um campo de escolhas entre o bem e o mal.
O que prega o zoroastrismo?
No coração dessa religião está a fé em Ahura Mazda, o deus supremo e fonte de toda bondade e verdade. Mas há também a crença na existência do mal, que Mazda permite existir para que o ser humano tenha livre-arbítrio e seja responsável pelas suas ações. A existência humana ocorre então nessa disputa entre o bem e o mal, sendo o bem centralizado em Ahura Mazda e o mal comandado por Arimã (ou Angra Mainyu), símbolo da mentira, do caos, da escuridão e da destruição.
Os zoroastristas acreditavam, então, num único deus supremo criador, Ahura Mazda, sendo uma religião monoteísta, portanto, a mais antiga da humanidade, e não uma religião biteísta (com dois deuses), como alguns afirmam ao observar essa doutrina superficialmente. Arimã não é portanto um “deus do mal”, mas um agente trazido por Mazda para dar livre-arbítrio ao ser humano e fazê-lo responsável pelas suas escolhas.
Outra crença conectada a essas é a de um juízo final, em que Arimã seria derrotado (afinal, ele é inferior em poder e em glória ao deus criador) e os homens julgados a partir das suas decisões. Os que estivessem comprometidos com Arimã pereceriam junto com ele, já os que estivessem conectados a Ahura Mazda por meio de seus pensamentos, falas e ações, viveriam na glória da presença do deus benigno.
A mensagem central da ética do zoroastrismo pode ser resumida em:
- bons pensamentos,
- boas palavras e
- boas ações.
Essa tríade expressa a ideia de que cada ser humano é responsável por suas escolhas e que o sentido da vida está em colaborar com o bem, é ser parte da luta universal pela vitória do bem.
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Deuses do zoroastrismo
O zoroastrismo não apresenta um panteão de muitos deuses como era comum em religiões da Antiguidade. Ao invés disso, ela possui um único deus supremo, Ahura Mazda, criador do Universo e fonte da luz, da vida e da verdade. A doutrina é toda elaborada de maneira a incentivar a devoção do ser humano para essa divindade, devoção que deve ser expressa não em forma de louvores ou rituais externos, mas por meio de boas ações.
No entanto, existe uma segunda entidade muito importante na doutrina do zoroastrismo, que é Arimã (Angra Mainyu). Ele próprio é criado por Mazda para permitir que o ser humano tenha livre-arbítrio e seja responsável pelo seu destino. É muitas vezes referido na cultura popular como “o deus mal” ou “o Demônio” dos zoroastristas (visões limitadas e um tanto simplórias).
Essa entidade simbolizava as forças do mal, da mentira, da escuridão e da destruição, mas existia por um motivo nobre de seu criador: dar ao homem liberdade de escolha, livre-arbítrio. E, no fim, ele seria destruído no juízo final, após ter cumprido o propósito para o qual havia sido criado.
Além dessas duas figuras principais, o zoroastrismo descreve entidades que são ancestrais similares, em alguns aspectos, aos anjos da tradição judaico-cristã. São eles:
- os Amesha Spentas, conhecido como “Imortais Sagrados”, que não são deuses independentes, mas manifestações, atributos de Ahura Mazda, representando altos valores como verdade, retidão, saúde, imortalidade, devoção e afins;
- em uma escala inferior, os Yazatas, que são espíritos benevolentes que ajudam Ahura Mazda na luta contra o mal,
- os Fravashis, que acompanham cada indivíduo (com um “anjo da guarda”) inspirando aquele ser humano a praticar boas ações e buscar a verdade, até no limite permitido por Mazda, que é o de não impedir o livre-arbítrio do indivíduo.
Do outro lado da batalha cósmica entre bem e mal, estão os Daevas, entidades malignas que auxiliam Arimã em seus propósitos. As similaridades com o cristianismo popular são evidentes. É comum os cristãos se sentirem familiarizados com essa luta entre bem e mal do zoroastrismo, isso porque essa religião é anterior e influenciou fortemente a formação tanto do cristianismo quanto, posteriormente, do islamismo.
Símbolos do zoroastrismo
Há diversos símbolos vinculados à tradição do zoroastrismo e que representam seus valores e sua visão de mundo. O mais importante deles é o fogo sagrado. No local mais nobre de todo templo zoroastrista, estava lá a chama, o fogo sagrado. Ele representava a luz de Ahura Mazda, a verdade (no escuro, não se vê nada, não se sabe de nada), a pureza.
Para um observador neutro, os rituais dos zoroastristas pareciam uma verdadeira adoração do fogo como um deus, mas era, na verdade, uma adoração simbólica de Ahura Mazda. É por isso que muitos contemporâneos, como os judeus, gregos e egípcios, referiam-se a eles como “os adoradores do fogo”. Mantida sempre acesa nos templos, com bastante esmero, a chama representava a vitória da luz sobre as trevas, tanto no sentido objetivo quanto no simbólico.
Outro símbolo importante dessa religião é o Faravahar, uma figura humana olhando para a direita com duas asas longas, com três seções de penas e um disco com um anel no centro. Esse símbolo pode ser interpretado como uma representação do espírito humano em sua busca pela sabedoria e pelo bem.
A figura humana no centro representa a alma, a essência do indivíduo, o disco com anel simboliza a eternidade da alma e o ciclo da vida, e as três seções de penas das asas representam os três pilares do zoroastrismo: bons pensamentos, boas palavras e boas ações, que levam à harmonia com a verdade e o bem. O fato de a figura olhar para a direita simboliza a escolha em direção ao bem e à verdade.
Livros do zoroastrismo
O livro sagrado do zoroastrismo é o Avesta. Trata-se de uma coleção de textos que reúne orações, hinos, normas, rituais e ensinamentos atribuídos ao profeta Zaratustra e seus seguidores. Ele não foi escrito de uma só vez, ele foi iniciado por Zaratustra e suas partes foram sendo compostas ao longo de séculos pelos seguidores da religião, preservando tradições orais muito antigas, que só posteriormente foram registradas por escrito nessa obra.
A parte considerada mais importante do Avesta, segundo os fiéis da religião, é o Gathas, um conjunto de hinos que, segundo a tradição, teriam sido escritos pelo próprio profeta Zaratustra. Neles, o profeta se dirige diretamente a Ahura Mazda reforçando os princípios da religião da luta contra a mentira e a valorização da verdade e da responsabilidade ética de cada indivíduo.
Apesar de não serem sagrados, diversos comentários e interpretações dos textos sagrados, conhecidos como Zend, tornaram-se importantes para os praticantes dessa religião. Neles, a doutrina é discutida, esmiuçada, atualizada e dialogada, o que mostra que a tradição zoroastriana sempre esteve em diálogo com os contextos históricos que se sucediam. No entanto, para o zoroastrismo, mais importante do que conhecer cada detalhe do Avesta e dos Zend é viver seus ensinamentos no dia a dia, praticar aquilo que foi ensinado por meio da tríade bons pensamentos, boas falas e boas ações, ou seja, na escola cotidiana, pelo bem.
O zoroastrismo ainda existe?
Sim. Embora com poucos seguidores atualmente. As estimativas atuais apontam para uma população total de cerca de 100 a 120 mil praticantes do zoroastrismo no mundo. O zoroastrismo ainda existe e mantém comunidades ativas especialmente no Irã, país de origem da doutrina, e na Índia, para onde muitos zoroastrianos migraram após a expansão do islamismo na Pérsia/Irã. Os descendentes dos zoroastrianos persas emigrados para a Índia ficaram conhecidos como parsis e até hoje preservam suas tradições e seus templos do fogo.
Apesar do número reduzido de comunidades e de praticantes, eles continuam celebrando suas festas tradicionais, como o Nowruz, que é o ano novo persa, e praticando seus rituais que remontam a três milhares de anos. No entanto, mesmo sendo praticado por uma minoria atualmente, o zoroastrismo, sob um certo ponto de vista, continua vivo nas práticas religiosas de bilhões de pessoas. Diversos fundamentos e tradições dessa religião estão presentes no cristianismo, no judaísmo e no islamismo.
Além disso, para além de sua dimensão religiosa, o zoroastrismo é hoje também reconhecido como uma parte fundamental da identidade do povo persa, dos iranianos, e é respeitada lá como tal, a despeito dos conflitos que tiveram com a maioria islâmica desse país no passado remoto.
Zoroastrismo no Brasil
No Brasil, a presença do zoroastrismo é bastante discreta e restrita a alguns descendentes de imigrantes persas e indianos que mantêm elementos da tradição de forma familiar ou individual. Mas a diáspora zoroastriana é pequena fora de seus centros históricos. No Ocidente, em geral, o zoroastrismo desperta, sobretudo, interesse acadêmico e educativo, por sua relevância histórica e por ter influenciado grandes religiões.
No Brasil, esse conhecimento circula principalmente em universidades, cursos de ciências da religião e livros de divulgação, mas não em práticas religiosas organizadas. Existe aqui mais o interesse no campo cultural e educativo do que na prática religiosa e organizada em larga escala dessa doutrina atualmente.
Origem do zoroastrismo
O zoroastrismo surgiu na antiga Pérsia (atual Irã), cerca de três mil anos atrás. Seu fundador, segundo a tradição, foi o profeta Zaratustra (Zoroastro), uma figura histórica cuja existência real é consenso entre os historiadores, mas cuja data de sua vida ainda gera debates: alguns apontam o segundo milênio a.C., outros levam à data do século VI a.C. Apesar da falta de unanimidade sobre a data exata, há um consenso de que sua mensagem representou uma ruptura nas práticas religiosas dominantes de sua época e entorno.
Zaratustra viveu num contexto em que as religiões eram marcadas pelo politeísmo (culto a muitos deuses) e rituais sacrificiais, especialmente de animais. Suas grandes inovações foram centrar a religião em um único deus supremo, Ahura Mazda, iniciando a tradição monoteísta, e colocar ênfase na orientação ética e moral do ser humano, em vez de focar em rituais externos como se fazia até então.
O coração do zoroastrismo está em pensar a vida como um confronto ético entre o bem e o mal e que cada pessoa tem autonomia para fazer suas escolhas (livre-arbítrio), assim como a responsabilidade sobre as consequências delas. Essa estrutura é a base do pensamento moral dos grandes monoteísmos ocidentais que surgiram depois e que beberam nessa religião, especialmente o cristianismo e o islamismo.
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Exercícios resolvidos sobre zoroastrismo
1. O zoroastrismo, religião fundada por Zaratustra na antiga Pérsia, introduziu conceitos que influenciaram outras tradições religiosas. Entre seus princípios está a ideia de que cada indivíduo deve escolher entre forças opostas: o bem, representado pela verdade e pela ordem, e o mal, simbolizado pela mentira e pela destruição.
Essa concepção religiosa está diretamente ligada à:
a) valorização do livre-arbítrio e da responsabilidade ética do ser humano.
b) rejeição da existência de divindades e consolidação de uma visão ateísta.
c) prática de rituais sacrificiais como forma de garantir a harmonia cósmica.
d) crença em múltiplos deuses ligados às forças da natureza.
Gabarito: A
O zoroastrismo defende que cada pessoa é responsável por suas escolhas, devendo decidir constantemente entre colaborar com o bem (Ahura Mazda) ou com o mal (Arimã). Esse princípio reforça a valorização do livre-arbítrio e da conduta ética individual.
2. No zoroastrismo, o fogo ocupa papel central nos templos e nas cerimônias. Diferentemente de religiões que associavam elementos naturais a divindades, o fogo zoroastriano não é um deus, mas um símbolo da presença de Ahura Mazda.
Esse símbolo religioso expressa principalmente a:
a) crença de que o fogo tem poder mágico para afastar demônios.
b) materialização da luta entre deuses guerreiros rivais.
c) pureza, luz e verdade que orientam o comportamento humano.
d) ideia de que os astros controlam o destino das pessoas.
Gabarito: C
O fogo sagrado no zoroastrismo simboliza a pureza, a luz e a verdade, refletindo a presença de Ahura Mazda e servindo como lembrança visual da conduta justa que os fiéis devem seguir. Não se trata de um culto ao fogo, em si, mas de um símbolo espiritual.
Nota
|1| BOYCE, Mary. Zoroastro: O profeta da antiga Pérsia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Créditos das imagens
[1] Sarasmindset/ Shutterstock
Fontes
BOYCE, Mary. Zoroastro: O profeta da antiga Pérsia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
HINTZE, Almut. Zoroastrianism: A Guide for the Perplexed. London: Bloomsbury Academic, 2014.
ROSE, Jenny. Zoroastrianism: An Introduction. London: I.B. Tauris, 2011.