Imigração japonesa para o Brasil

A imigração japonesa para o Brasil foi iniciada, oficialmente, em 1908. Os imigrantes japoneses foram trazidos para trabalhar nas fazendas de café em São Paulo.

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A imigração japonesa para o Brasil foi oficialmente iniciada em 18 de junho de 1908, quando pouco mais de 700 japoneses desembarcaram na cidade de Santos por meio do navio chamado Kasato Maru. A imigração japonesa fez de nosso país aquele com a maior comunidade japonesa fora do Japão no mundo.

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Os imigrantes japoneses vieram ao Brasil à procura de uma condição melhor de vida, uma vez que o Japão passava por uma crise de superpopulação, havendo poucas oportunidades por lá. O Brasil, por sua vez, tinha uma grande demanda por trabalhadores precarizados para trabalhar nos cafezais.

Leia também: Imigração no Brasil — veja como esse processo marcou a história de formação do Brasil

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a imigração japonesa para o Brasil

  • A imigração japonesa se iniciou em 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru desembarcou 781 japoneses em Santos.

  • Os imigrantes japoneses vieram ao Brasil à procura de terras e emprego para melhorar de vida.

  • O Brasil, por sua vez, incentivou a vinda de imigrantes para garantir mão de obra barata nos cafezais.

  • Atualmente, o Brasil possui a maior comunidade japonesa fora do Japão.

O que foi a imigração japonesa para o Brasil?

Família japonesa em Bastos, São Paulo, 1930, no contexto da imigração nipônica para o Brasil. [imagem_principal]
Família japonesa em Bastos, São Paulo, 1930, no contexto da imigração nipônica para o Brasil.

A imigração japonesa para o Brasil se iniciou oficialmente em 18 de junho de 1908, quando 781 japoneses desembarcaram no Brasil por meio do navio Kasato Maru. Esses trabalhadores desembarcaram em Santos, sendo posteriormente direcionados para fazendas de café no interior paulista.

A imigração japonesa foi responsável pela chegada de mais de 240 mil japoneses ao Brasil, que buscavam melhores oportunidades de vida. Apesar de os primeiros japoneses terem chegado aqui somente em 1908, um longo processo de negociações diplomáticas foi realizado por Brasil e Japão para garantir a chegada dos japoneses.

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Quais as causas da imigração japonesa para o Brasil?

A imigração japonesa se explica tanto pelo contexto brasileiro como pelo japonês. O que explica a imigração japonesa no caso do Japão foi a necessidade do governo japonês de se livrar do excedente populacional de pobres que não tinham oportunidades e nem terra no país. Além disso, para essas pessoas, a imigração era uma possibilidade de conquistar uma vida com melhores oportunidades.

No caso do Brasil, a imigração japonesa supria a necessidade de mão de obra barata para trabalhar nos cafezais. Havia certo preconceito com as populações asiáticas no Brasil, entretanto, com a limitação da vinda de imigrantes italianos a partir de 1902, a vinda de japoneses se tornou o meio para suprir a demanda dos cafezais.

Contexto histórico da imigração japonesa para o Brasil

No final do século XIX, o governo japonês enfrentava um excedente populacional de camponeses pobres, pois o país sofria com um quadro de superpopulação. Além disso, o país passou por um processo de mecanização da agricultura que tirou o emprego de milhares de camponeses.

Com isso, essa grande soma de camponeses desempregados se mudou para as grandes cidades, superlotando-as. Havia também muitos camponeses que perdiam suas terras porque não conseguiam pagar os altos impostos cobrados pelo governo japonês. Todo esse cenário estabeleceu um grande número de trabalhadores miseráveis que não tinham oportunidades e nem acesso à terra.

O governo japonês queria se livrar desse excedente populacional de pessoas pobres, enviando-os como trabalhadores imigrantes para fora do Japão. O governo japonês negociou a ida de japoneses como imigrantes para diversos países da América, como os Estados Unidos, México e Peru. O Brasil se tornou uma possibilidade de imigração no final do século XIX.

No caso do Brasil, a imigração japonesa surgiu como uma opção no contexto de abolição da escravatura. Os cafezais brasileiros tinham uma enorme demanda por trabalhadores com baixos salários e, com a Lei Áurea, o trabalho nesses locais passou a ser preenchido pelos italianos. A vinda dos italianos supria a demanda por trabalhadores e se enquadrava nos interesses de “embranquecer” a população brasileira.

No final do século XIX, havia um forte preconceito contra os trabalhadores asiáticos em geral, mas o governo italiano proibiu a imigração de italianos ao Brasil de maneira subsidiada — como as fazendas de café contratavam seus trabalhadores imigrantes — em 1902. Isso fez com que o Brasil precisasse de uma alternativa de trabalhadores.

Leia também: Ciclo do café — como o café se tornou o principal produto da economia brasileira

Como aconteceu a imigração japonesa para o Brasil?

As relações diplomáticas entre Brasil e Japão só foram estabelecidas em 1880 e, a partir de 1882, as negociações para a chegada de imigrantes japoneses no Brasil se iniciaram. Essas negociações viveram altos e baixos, mas melhoraram significativamente depois de 1905.

Havia muito preconceito em relação à vinda dos asiáticos, havendo até iniciativas parlamentares para barrar os japoneses. No entanto, as negociações avançaram após 1905 e o governo brasileiro estabeleceu a Lei de Imigração e Colonização, que regularizou a vinda de imigrantes para o Brasil. Em 6 de novembro de 1907, foi assinado um acordo do governo japonês com o governo paulista para trazer 3000 imigrantes para o Brasil.

Apesar de ser registrada a presença de japoneses antes de 1908, a historiografia considera que a imigração japonesa se iniciou oficialmente em 1908, quando 781 japoneses chegaram a Santos por meio de um navio chamado Kasato Maru. A viagem do Japão ao Brasil era financiada por cafeicultores que contratavam os imigrantes com a obrigação de que fossem ressarcidos.

A viagem realizada pelos japoneses não acontecia nas melhores condições. Antes de embarcar, eles passavam por uma testagem médica simples e recebiam lições de português. Durante o percurso, não tinham acomodações luxuosas, sendo obrigados a se manter em condições muito simples. Uma vez desembarcados, eram levados à Hospedaria dos Imigrantes, onde eram direcionados aos seus postos de trabalho.

Em 1914, a presença de japoneses no Brasil já era calculada em 10 mil pessoas. As condições que os japoneses encontraram no Brasil, no entanto, não foram das melhores. A adaptação cultural já era algo que custava muito aos japoneses, mas, aqui, além de tudo, encontraram trabalho duro e salários baixos.

As promessas de riqueza e as ilusões de enriquecimento logo ruíram diante da realidade do trabalho nos cafezais. Os baixos salários se reduziam ainda mais porque os trabalhadores japoneses precisavam pagar as despesas dos cafeicultores com a viagem de vinda ao Brasil. A dureza do trabalho fez com que alguns japoneses cogitassem o retorno, mas a grande maioria dos imigrantes permaneceu no Brasil.

Com o tempo, alguns dos imigrantes conseguiram comprar suas próprias terras, permitindo que fosse possível uma certa ascensão social. Nas décadas de 1910, 1920 e 1930, a imigração japonesa seguiu em alta, e estima-se a chegada de mais de 150 mil japoneses a Brasil. O fluxo de imigrantes aumentou consideravelmente depois de 1924, quando os Estados Unidos proibiram a entrada dos asiáticos em seu território.

Com a Segunda Guerra Mundial, a imigração japonesa diminuiu consideravelmente, sendo retomada a partir da década de 1950. Nessa década, também se consolidou um grande êxodo rural, com a população japonesa e seus descendentes abandonando as zonas rurais e se estabelecendo nas grandes cidades brasileiras.

Imigrantes japoneses no Brasil durante a década de 1930.
Imigrantes japoneses no Brasil durante a década de 1930.

Regiões onde os japoneses se fixaram

Inicialmente, os imigrantes japoneses que vinham para o Brasil eram enviados para o estado de São Paulo para trabalhar nos cafezais. Nesse estado, espalharam-se por diversas cidades do interior. A partir da década de 1950, essa população passou a se estabelecer na cidade de São Paulo, abandonando o interior.

Sendo assim, o estado de São Paulo foi o que concentrou a grande maioria do fluxo imigratório de japoneses. A partir da década de 1950, a Região Sul também passou a receber uma grande quantidade de imigrantes japoneses, sobretudo no estado do Paraná. Nas décadas seguintes, a quantidade de japoneses e seus descendentes também aumentou nas outras regiões, sobretudo no Centro-Oeste.

Liberdade, o “bairro japonês” estabelecido na cidade de São Paulo.[1]
Liberdade, o “bairro japonês” estabelecido na cidade de São Paulo.[1]

Cidades com mais japoneses no Brasil

Atualmente, o IBGE leva em consideração a raça amarela para se referir à população de japoneses, chineses e coreanos no país. Segundo o Censo de 2022, as cinco cidades com o maior número proporcional de habitantes amarelos (que incluem os japoneses) são:

  • Assaí (PR);

  • Bastos (SP);

  • Uraí (PR);

  • São Sebastião da Amoreira (PR);

  • Pereira Barreto (SP).

Já as cidades com o maior número absoluto de habitantes de raça amarela são as seguintes:

  • São Paulo (SP);

  • Londrina (PR);

  • Mogi das Cruzes (SP);

  • Maringá (PR);

  • São Bernardo do Campo (SP).

Influência da cultura japonesa no Brasil

Estima-se que existam mais de dois milhões de japoneses e seus descendentes no Brasil, o que torna nosso país aquele com a maior comunidade japonesa fora do Japão. Uma presença japonesa tão significativa gerou grandes impactos na cultura brasileira. Uma das influências mais perceptíveis é a culinária.

A culinária japonesa é muito popular no Brasil e há milhares de restaurantes japoneses no Brasil que trazem diversos pratos típicos da culinária japonesa.

Há também forte influência da cultura japonesa nos esportes, pois milhares de brasileiros se dedicam a esportes populares no Japão, como o aikidô, o caratê e o judô.

Existe também influência japonesa na religião, com muitos brasileiros aderindo a religiões tradicionais do Japão. Por fim, vale destacar a popularidade da cultura popular japonesa, sobretudo por meio dos animes e mangás.

Leia também: Qual o significado da bandeira do Japão?

Curiosidades sobre a imigração japonesa para o Brasil

  • Depois de certo tempo, muitos japoneses faziam um acordo de trabalho com os cafeicultores chamado “lavoura de parceria”, no qual faziam o trabalho de iniciar uma plantação de café, recebendo a primeira colheita como pagamento.

  • Foi a partir da década de 1920 que o bairro da Liberdade, em São Paulo, tornou-se um reduto de japoneses.

  • No final da década de 1940, surgiu uma organização terrorista criada por japoneses no Brasil. A Shindo Renmei assassinava japoneses e seus descendentes que acreditavam nas notícias da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.

  • A cidade de Assaí, no Paraná, tem um castelo japonês que foi construído em homenagem aos 110 anos da imigração japonesa no Brasil.

Créditos da imagem

[1] Iara Faga | Shutterstock

Fontes

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

HAYASHI, Bruno Naomassa. A Imigração Japonesa nas Fronteiras entre o Pensamento Social e a Política Parlamentar: A Eugenia de Pacheco e Silva e a Sociologia de Gilberto Freyre. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/LpFtt7MVYNHWnTxb4sXd9Wk/?lang=pt

CROQUER, Gabriel e PINHONI, Marina. Censo 2022: veja quais são os municípios mais amarelos, brancos, indígenas, pardos e pretos do Brasil. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/censo/noticia/2023/12/22/censo-2022-veja-quais-sao-os-municipios-mais-amarelos-brancos-indigenas-pardos-e-pretos-do-brasil.ghtml

IBGE. Resistência & integração : 100 anos de imigração japonesa no Brasil / IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

Kasato Maru, o navio que trouxe as primeiras famílias japonesas para o Brasil
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Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.
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SILVA, Daniel Neves. "Imigração japonesa para o Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/japao/centenario-imigracao-japonesa-no-brasil.htm. Acesso em 30 de outubro de 2025.
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