A história do trabalho é o processo de evolução das formas de trabalho no decorrer da história. A partir do surgimento das primeiras civilizações humanas, observa-se um processo em que o trabalho esteve ligado, diretamente, a uma perspectiva coletiva e amparada na subsistência.
A revolução industrial transformou o mundo do trabalho, introduzindo formas produtivas ligadas à tecnologia e ao uso de maquinários na produção. Esse processo culminou na divisão social do trabalho e nas relações produtivas modernas.
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O trabalho, na concepção de Karl Marx, assume o meio ou a ação pela qual o ser humano produz a sua própria existência. Nesse sentido, pode-se evidenciar que estabelecer uma história ou origem do trabalho passa por considerar o fim do período de grandes migrações humanas e o surgimento das primeiras cidades. Ao fixarem-se, os seres humanos passaram a desenvolver instrumentos que lhes conferissem formas de reproduzir sua subsistência.
Esse processo, modificado e transformado no decorrer da humanidade, corroborou para o surgimento do trabalho como se conhece na Contemporaneidade. O trabalho, inicialmente ligado à agricultura, se transformou, sobretudo, a partir das Revoluções Industriais, que alteraram não somente as relações de produção, isto é, como os produtos ou bens são produzidos, como também modificou o sentido do trabalho.
Dessa maneira, o trabalho teve origem diretamente na transformação das sociedades humanas, na sua busca pela sobrevivência e na construção de formas de subsistência que lhes conferissem proteção.
Embora, na compreensão sociológica, o trabalho seja uma função ou relação social importante para a transformação da natureza e a produção do sujeito humano, evidencia-se que a palavra “trabalho” tem um sentido distinto do de atividade produtiva.
Dessa forma, verifica-se que “trabalho” tem origem na palavra em latim tripalium, que consistia em um instrumento de tortura que tinha três paus ou varas que se cruzavam como forma de imobilizar as pessoas para que pudessem ser torturadas ou realizar trabalhos forçados.
Nesses termos, o trabalho era compreendido como castigo, como uma consequência da desobediência ou como um processo advindo das guerras. Dessa maneira, pode-se observar, por exemplo, na Idade Antiga, o uso do trabalho forçado como forma de castigo para os grupos derrotados em guerra. Esse processo, por sua vez, contribuiu para a construção de um entendimento do trabalho como castigo, como uma forma de obrigação ou coerção.
Todavia, o sentido do “trabalho” modificou-se substancialmente ao longo da história, incorporando novas concepções e sofrendo transformações que não apenas incluem em sua classificação atividades (por exemplo, o trabalho intelectual) como abrange também outras atividades físicas realizadas no contexto da produção.
Estabelecer uma classificação dos tipos de trabalho não é uma tarefa simples, isso porque, na Contemporaneidade, pode-se evidenciar tipos de trabalho que se inter-relacionam. Desse modo, pode-se estabelecer uma diferenciação com base em três grandes categorias, que reúnem diferentes formas de trabalho.
A evolução do trabalho na história acompanha o desenvolvimento das sociedades e comunidades humanas. Dessa forma, pode-se evidenciar que, nas comunidades primitivas, o trabalho era voltado, sobretudo, para a coletividade e objetivava, principalmente, a sobrevivência. Esse processo, por sua vez, contribuiu para a construção de formas de trabalho como, por exemplo, a agricultura, a pesca, o trabalho com o ferro e a madeira.
Posteriormente, pôde-se evidenciar que o desenvolvimento da agricultura favoreceu significativamente as mudanças nas formas de trabalho. Se nas sociedades primitivas o trabalho estava ligado a uma lógica coletiva e amparada na sobrevivência da comunidade, com as civilizações antigas, o trabalho passa por transformações, dando origem à divisão do trabalho e à escravidão.
Na Idade Média, com o surgimento do sistema feudal, pôde-se observar que o trabalho estava diretamente associado a um modelo servil. Esse processo implicava uma relação em que os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais em troca de proteção e a possibilidade de cultivarem parte desses territórios para garantir a sua própria subsistência. Assim, no sistema feudal, os trabalhadores deveriam entregar parte da produção para os senhores feudais, além de prestar serviços obrigatórios sem remuneração.
Com o final do sistema feudal e o advento do capitalismo, verifica-se que os sentidos do trabalho também se modificam. Nesse sentido, a Revolução Industrial transformou significativamente o trabalho. Se no sistema social anterior, isto é, o feudalismo, o trabalho era eminentemente servil, com o capitalismo o trabalho se tornou assalariado, mecanizado e além de fortemente urbanizado.
No capitalismo (sistema esse em que estamos inseridos na Contemporaneidade), o trabalho passou a ser amparado por formas de regulação e controle que visam evitar práticas que coloquem em risco a vida e a saúde dos trabalhadores. Além disso, evidencia-se o surgimento do trabalho intelectual, que estabelece formas mais flexíveis de trabalho.
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O trabalho no Brasil, diferentemente de outros contextos, dispõe de singularidades que marcam não apenas a história do trabalho nacional, mas reverberam ainda na Contemporaneidade. Dessa maneira, evidencia-se que, por sua característica colonial, o Brasil teve como base econômica e de mão de obra o trabalho escravizado, imposto sobretudo a grupos indígenas e, principalmente, africanos.
Durante o período colonial, o trabalho escravizado — que era a base da economia — voltava-se para a produção agrícola, como o plantio de café, cana-de-açúcar e outras matérias-primas. Esse trabalho, embora majoritariamente ligado ao ambiente rural, não dispunha de direitos ou formas de regulação jurídica. Os trabalhadores eram submetidos a jornadas exaustivas, a castigos físicos e, principalmente, à hierarquia de seus senhores.
Após a abolição da escravidão, em 1888, as relações de trabalho alteram-se significativamente. Dessa maneira, com a emergência das teorias racialistas e de branqueamento social, o Brasil passou a incentivar a imigração europeia como forma de substituir ou ocupar os postos de trabalho antes dos escravizados.
Esse processo culminou, por sua vez, em uma marginalização das populações antes escravizadas, que passaram a ocupar postos de trabalho informais, precarizados ou subvalorizados.
No final do século XIX e início do século XX, o Brasil passou por um intenso movimento de industrialização. Esse fenômeno deu início a um processo de êxodo rural, ou seja, uma mobilização de trabalhadores para as grandes cidades em busca de emprego ou melhores condições de vida e de trabalho.
Com o crescimento das cidades, sobretudo por conta da industrialização, houve um acirramento dos conflitos sociais, o que favoreceu o surgimento de movimentos de trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho.
A atuação desses movimentos foi importante, principalmente, para o surgimento de regulações e legislações sobre o trabalho, com o objetivo de garantir condições dignas de trabalho. Nesse sentido, podemos observar, por exemplo, a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que constitui um marco na proteção do trabalho e do trabalhador no Brasil.
Promulgada em 1943 pelo então presidente Getúlio Vargas, essa legislação criou não somente um conjunto de direitos para a proteção do trabalho, como também estabeleceu formas de regulação como fundamento para o exercício do trabalho livre e do bem-estar do trabalhador.
Mais recentemente, em 2017, o Brasil enfrentou uma reforma nas legislações trabalhistas, tendo como principal objetivo acomodar às novas relações de trabalho essas legislações. Embora a reforma tenha apresentado formas de regular essas relações, esse processo resultou, por outro lado, na flexibilização do direito do trabalho, permitindo, por exemplo, a livre negociação entre trabalhadores e empregadores, sancionando o trabalho intermitente e ampliando as formas de terceirização do trabalho.
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Na medida em que a sociedade se transforma e ocorrem fenômenos que impactam a vida social, o trabalho também se modifica. Se nas sociedades primitivas o trabalho estava ligado, sobretudo, a uma prática coletiva, voltada para a subsistência, e a propriedade era eminentemente comum, verifica-se na Contemporaneidade que esse processo alterou-se significativamente.
Recentemente, tem-se observado, principalmente com o avanço da tecnologia, o surgimento do trabalho mediado por aplicativos. Esse processo modificou profundamente as relações de trabalho, favorecendo a construção de um quadro em que, muitas vezes, os trabalhadores são precarizados, submetidos a jornadas exaustivas e de baixa remuneração.
As mudanças que ocorrem no seio da sociedade afetam significativamente as relações de trabalho, impondo sobre elas novas relações e modos que podem não somente criar campos, como o trabalho mediado por aplicativo, como também demandar esforços regulatórios de modo a garantir condições dignas de trabalho.
Desse modo, observa-se que o trabalho se transforma na medida em que a sociedade evolui. Diante disso, pode-se observar que a sociedade e o trabalho são indissociáveis e se produzem mutuamente.
Questão 1
(Uema) Considere o texto a seguir:
“Podem-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por tudo o que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à frente é a própria consequência de sua organização corporal. Ao produzirem seus meios de existência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material.”
MARX, K., ENGELS, F. A ideologia alemã. In: CASTRO, C. Textos básicos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p.12-3
Podemos inferir que para, Marx e Engels, o trabalho é
a) produção ontológica que humaniza o homem ao modificar a natureza e a si próprio.
b) produção física voltada à reprodução de suas necessidades individuais.
c) condição alienada nas sociedades antes e depois do capitalismo.
d) ação humana voltada para fins econômicos, independentemente do modo de produção.
e) fundamento que igualiza homens e animais como atividade racional.
Resposta: Letra “A”. O trabalho para Marx e Engels é a base para a construção da sociedade. De acordo com os autores, o homem se diferencia de outros animais pela possibilidade de transformação da natureza. Assim, ao modificar a natureza, o homem também se modifica.
Questão 2
(Enem 2021) “É certo que também o animal produz. Constrói para si um ninho, casas, como as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas produz unicamente o que necessita imediatamente para si ou sua prole; produz unicamente por força de uma necessidade física imediata, enquanto o homem produz inclusive livre da necessidade física e só produz realmente liberado dela; o animal produz somente a si mesmo, enquanto o homem reproduz para natureza inteira”.
QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002 (adaptado).
Na perspectiva do texto, o trabalho humano se diferencia da produção de outros animais em razão da:
a) presença de atividade criativa.
b) realização de práticas imitativas.
c) busca de sobrevivência individual.
d) modificação de paisagens naturais
e) existência de organização coletiva.
Resposta: Letra “A”. Na concepção de Karl Marx, o que difere o ser humano e outros animais é a capacidade de transformação da natureza. A atividade criativa permite ao ser humano desenvolver novos produtos e serviços por meio da transformação da natureza.
Fontes
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 9ª edição. São Paulo: Brasilense, 2012.
GUIMARÃES, Sergio; SILVA, Elaine. A “reforma” trabalhista brasileira em questão: reflexões contemporâneas em contexto de precarização social do trabalho. Farol-Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 7, n. 18, 2020.
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Lígia; OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Editora UFMG, 2001
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/sociologia/o-trabalho-futuro.htm