A evasão escolar é o fenômeno em que os estudantes abandonam a escola antes do período regular para a formação. Esse é um problema que possui repercussões sérias no Brasil e no mundo, atingindo cerca de 251 milhões de crianças e de adolescentes. A evasão escolar tem causas diversas, e seus efeitos repercutem nos mais diversos espectros da vida destes estudantes, tanto no âmbito das relações de trabalho quanto no acesso a serviços e a direitos.
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A evasão escolar é um fenômeno que atinge estudantes em todo o mundo e que pode ser compreendido como o abandono da escola antes de sua conclusão. Esse fenômeno pode ocorrer em qualquer fase do ensino e atinge indivíduos de diferentes idades.
A evasão escolar tem causas diversas, que podem aparecer de forma integrada. Desse modo, pode-se observar que ela pode estar associada a aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Com base nisso, pode-se destacar, principalmente, os seguintes aspectos:
O abandono da formação educacional antes de sua conclusão tem efeitos diversos na vida dos estudantes. Nesse sentido, pode-se observar, no primeiro momento, que a evasão contribui para uma ausência de capacidades intelectuais e práticas que acompanharão a vida dos indivíduos. Isso porque determinados conteúdos assumem uma exigência para a vida social, como o uso de operações matemáticas básicas, o manejo correto e formal da língua e a capacidade de exercer o pensamento lógico-racional.
A ausência desses conhecimentos, por sua vez, tem a capacidade de impactar em diversos aspectos da vida desses indivíduos, como no âmbito profissional. Ao não possuírem a capacidade de operacionalizar a língua ou realizar operações matemáticas, estes acabam ocupando postos de trabalho mais precários e com menor remuneração.
Além disso, no âmbito das relações sociais cotidianas, a ausência de conhecimentos fornecidos pela educação contribui para dificuldades de comunicação, de acesso a tecnologias e de aplicação de conhecimentos matemáticos. Esse processo dificulta a vida dos indivíduos e são barreiras que impedem o acesso a direitos e a serviços, como, por exemplo, o uso da internet, a realização de compras, o acesso a serviços públicos e a resolução de problemas.
Diante disso, ao abandonarem a educação, os indivíduos são inseridos em um contexto de maior precariedade, uma vez que estes conhecimentos são importantes para os mais diversos aspectos da vida em sociedade. Desse modo, destaca-se que a evasão escolar constitui um problema não apenas de natureza pessoal ou individual, mas também estabelece interfaces com a coletividade, uma vez que estes indivíduos, ao não possuírem os conhecimentos necessários, enfrentam barreiras adicionais para acessar direitos e serviços públicos.
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De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no “Relatório de Monitoramento Global da Educação”, embora tenha ocorrido um aumento na escolarização de crianças e jovens em todo o mundo, destaca-se que a evasão escolar ainda constitui um problema. Nesse contexto, verifica-se que 251 milhões de crianças e jovens encontram-se ausentes dos espaços escolares. Esse problema torna-se ainda mais agravante quando se observa que, em países emergentes ou em desenvolvimento, 33% das crianças e jovens estão fora da escola.
Com base nisso, observa-se que a evasão escolar no mundo atinge, principalmente, países emergentes e em desenvolvimento, sendo mais expressivo em países do continente africano, que conta, segundo dados do relatório, com 50% das crianças e dos jovens fora do ambiente escolar. Concomitantemente, verifica-se que, em países com renda alta, o número de indivíduos em idade escolar fora da escola compreende apenas 3% da população, o que permite estabelecer uma relação direta entre a permanência dos indivíduos na escola e a renda da população.
Diante disso, pode-se aferir que, em países com maior concentração de renda per capta, a evasão escolar é considerada um problema controlado, uma vez que esses indivíduos dispõem de oportunidades educacionais diversificadas e de ambientes com infraestrutura adequada, e as desigualdades de renda não exigem que estes procurem oportunidades de remuneração como forma de subsistência. Esse processo é sintomático em países europeus e nos Estados Unidos.
A evasão escolar no Brasil apresenta um conjunto de características particulares e que estão relacionadas às especificidades regionais. Desse modo, pode-se destacar que a estrutura e a infraestrutura educacionais têm desempenhado um aspecto que contribui para a evasão escolar. Isso porque a construção de uma educação pautada em um processo de ensino-aprendizado focado no estudante apenas como um agente receptor do conhecimento pode desencadear a perda de interesse por parte dos estudantes.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista da infraestrutura, destaca-se que a ausência de equipamentos tecnológicos e de laboratórios e a presença de estruturas com salas de aula precárias, sem manutenção ou condições de receber os estudantes, também são apontados como fatores que contribuem para a evasão escolar.
No entanto, pode-se evidenciar que, embora essas questões sejam partilhadas por regiões distintas do país, em estados que possuem renda per capita baixa, as taxas de evasão escolar tendem a ser maiores do que em estados com a renda per capita mais alta. Esse processo pode ser observado, sobretudo, em estados das regiões Norte e Nordeste.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora a educação pública tenha se expandido consideravelmente e reduzido o número de evasões, a evasão escolar ainda é um problema persistente. De acordo com dados do Censo da Educação, publicado em 2023, cerca de 400 mil crianças e jovens, entre 6 e 14 anos, não estavam frequentando a escola em 2023.
A evasão escolar é acentuada no ensino médio, em que 63,7% dos estudantes não completaram este nível de ensino. Entre as causas apontadas, 53,5% afirma que o abandono ocorreu em virtude de responsabilidades de trabalho e de questões familiares, como a gravidez, que ocupa 32,6% dos motivos.
Além disso, pode-se observar que a pandemia de covid-19 contribuiu para o aumento da evasão escolar. Desse modo, destaca-se que as medidas de distanciamento social, a necessidade da educação mediada pela tecnologia e a ausência de interações presenciais contribuíram para que muitas estudantes abandonassem a escola, por motivos como a ausência de equipamentos que permitissem o acompanhamento síncrono e assíncrono das aulas, o desânimo e as incertezas quanto ao aprendizado ou a falta de perspectivas em relação ao futuro.
O combate à evasão escolar é um processo que exige a participação de diversos agentes sociais, políticos e instituições. Desse modo, torna-se necessário não apenas garantir que estes estudantes permaneçam na escola, mas também garantir que estes disponham de condições de permanência. Nesse sentido, pode-se destacar, no primeiro momento, a necessidade de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da estrutura educacional, o aprimoramento curricular, a formação e a valorização de professores. Concomitantemente, ainda no âmbito das políticas públicas, destaca-se a necessidade de investimentos na infraestrutura educacional, de aprimoramento tecnológico e de fornecimento de condições adequadas para o ensino.
Além disso, pode-se destacar que políticas de assistência social, como, por exemplo, o Bolsa Família, contribuem significativamente para o combate à evasão escolar. Esse processo acontece, sobretudo, porque exige que crianças e jovens estejam devidamente matriculados e com frequência superior a 75% para que tenham acesso aos repasses. Ao mesmo tempo, destaca-se programas como o Pé-de-Meia, que atua, sobretudo, no repasse financeiro a estudantes para que não precisem abandonar a escola para ingressar no mercado de trabalho.
Por fim, pode-se destacar a necessidade de construção de mecanismos que permitam uma maior integração entre a sociedade e a escola, de forma participativa e colaborativa. Esse processo pode contribuir, principalmente, para a identificação das causas da evasão e para o estabelecimento de uma atuação conjunta, de modo que seja possível reduzir estes casos.
Fontes
ESTEVES, Henrique Rosario Carvalho et al. Evasão escolar no ensino superior: uma revisão literária entre os anos de 2014 a 2020. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, p. e21310313210-e21310313210, 2021.
FERREIRA, Sergio Guimarães; RIBEIRO, Giovanna; TAFNER, Paulo. Abandono e evasão escolar no Brasil. Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, p. 1-40, 2022.
IBGE. Síntese de indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2024. IBGE, 2024. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9221-sintese-de-indicadores-sociais.html.
UNESCO. Relatório de Monitoramento Global da Educação 2024. São Paulo, UNESCO, 2024. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000391406.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/educacao/evasao-escolar.htm