O Mapa da Fome é uma ferramenta desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para mapear os casos de subnutrição e insegurança alimentar no mundo. Trata-se de um sistema de monitoramento importante para o maior conhecimento acerca de como a escassez de alimentos afeta diferentes territórios, o que auxilia na elaboração de planos de ação para o combate desse que é um dos principais problemas sociais da atualidade, que é a fome.
Atualmente, entre 638 e 720 milhões de pessoas estão no Mapa da Fome, a maioria das quais vive em países da África. Para ser incluso nesse sistema, pelo menos 2,5% da população do país deve estar com prevalência de subnutrição. O Brasil atingiu essa meta novamente no ano de 2025, quando, pela segunda vez, saiu do Mapa da Fome. A primeira vez que o país deixou essa condição foi em 2014. Dentre os fatores que contribuíram para esse feito estão a redução da pobreza no país, a queda do desemprego e as políticas de incentivo à agricultura familiar
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O Mapa da Fome é um sistema de monitoramento global desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), uma agência da ONU, para identificar os diferentes níveis de segurança alimentar nos países, e ao mesmo tempo acompanhar a sua variação ao longo dos anos. Essa ferramenta providencia dois diferentes tipos de informação:
Portanto, o Mapa da Fome evidencia quais são os países cuja população está em situação de insegurança alimentar grave e em subnutrição. Além do mapa da FAO, existe também um outro Mapa da Fome desenvolvido pelo Programa Alimentar Mundial (WFP), também um órgão das Nações Unidas, lançado no ano de 2001 e que reporta a insuficiência do consumo de comida em todo o mundo.
No Mapa da Fome da WFP, uma série de informações é combinada para monitorar e melhor expressar a magnitude do problema da escassez de alimentos em determinadas áreas do planeta, como tamanho da população, clima, ocorrência de conflitos, riscos presentes e informações nutricionais. Diferente do mapa da FAO, entretanto, a WFP cobre 94 países e territórios. No presente texto, tratamos dos dados fornecidos através do Mapa da Fome da FAO.
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Conforme o novo relatório da ONU divulgado em 2025, referente ao triênio 2022-2024, entre 638 e 720 milhões de pessoas enfrentaram a fome no período em questão, o que representa entre 7,8% e 8,8% da população mundial. Fica no continente africano a maior parcela dessa população faminta.
De acordo com o relatório, 20,2% da população da África foi afetada pela fome, o que representa mais de 306 milhões de pessoas. A Ásia e a América Latina são outras regiões que concentram elevado número de países no Mapa da Fome. Com isso, podemos afirmar que a maior parte dos países presentes no Mapa da Fome são economias emergentes e subdesenvolvidas.
São incluídos no Mapa da Fome da FAO os países que têm pelo menos 2,5% de sua população convivendo com falta de acesso a alimentos de uma maneira que se torna prejudicial para o desenvolvimento de suas atividades diárias, não conseguindo manter uma vida saudável. Esse valor indica, nesse sentido, a Prevalência de Subnutrição (PoU, na sigla em inglês), que foi criada pela FAO e é utilizada como critério para a composição do Mapa da Fome.
Alguns dos países que aparecem no Mapa da Fome e que têm mais de 40% da sua população em condição de subnutrição, de acordo com dados da FAO para 2025, são:
Dentre os países com mais de 30% da população subnutrida e, portanto, passando fome, podemos citar:
Note que, na lista que apresentamos acima, existem países que obtiveram melhores índices em 2025 e, por isso, passaram de um estágio superior a 40% de fome em seu território para um estágio inferior. Esse foi o caso de Madagascar, que hoje tem 39,5% da sua população em condição de subnutrição, apresentando, portanto, uma melhora sutil. A República Centro-Africana, por sua vez, é um país que teve 40% de seus habitantes nessa condição em 2023. No novo relatório publicado em 2025, a subnutrição em seu território caiu para 29,8%.
Não, o Brasil não está mais no Mapa da Fome. Entretanto, em diferentes momentos de sua história, o país esteve listado nesse indicador. Não obstante a promoção de um conjunto de ações contra a fome no país, uma parcela significativa da população vivia em situação de insegurança alimentar e de fome no território brasileiro entre a década de 1990 e o início dos anos 2000. Além de questões históricas e estruturais responsáveis pelas desigualdades sociais, as políticas econômicas do período contribuíram para o aprofundamento desse problema.
O Brasil apareceu no Mapa da Fome da FAO entre 2002 e 2013, período esse em que surgiram políticas públicas de cunho social voltadas para a diminuição da insegurança alimentar no país. As medidas de transferência de renda para a população mais pobre foram, nesse sentido, de extrema importância para que as pessoas voltassem a ter acesso a uma alimentação saudável e segura, juntamente com programas de incentivo à agricultura familiar e o restabelecimento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), criado em 1993 e suspenso dois anos depois.
Diante da ação do Estado, que, além das medidas anteriores estabeleceu também o Programa Fome Zero, e da melhora na qualidade de vida da população, com aumento do salário mínimo e maior oferta de alimentos, o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014. À época, a FAO estabelecia como limite a parcela de 5% da população vivendo com a falta de alimentos para incluir um país nessa ferramenta, e o Brasil conseguiu bater essa meta.
A ministra do Desenvolvimento Social à época afirmou que ainda restava 1,7% da população brasileira passando fome no país em 2014. Esse dado representou uma queda de 82% entre 2002 e 2013. Com isso, o país conseguiu atingir um dos Objetivos do Milênio estabelecidos pela ONU no ano 2000, que era a erradicação da fome.
O Brasil esteve fora do Mapa da Fome entre 2014 e 2018, retornando no ano de 2019. A retomada da fome no país está diretamente ligada ao aumento da pobreza e da extrema pobreza nesse intervalo de tempo, tendo o Brasil permanecido no mapa da FAO até 2025. Enquanto em 2022 cerca de 8% da população brasileira passava fome, esse percentual caiu para 1,2% um ano mais tarde. Com isso, 14,7 milhões de pessoas deixaram de conviver com a escassez de alimentos em 2023.
Lembremos que a subnutrição é o indicador primordial para a inclusão ou não de um país no Mapa da Fome. A população brasileira subnutrida era de 4,2% no ano de 2022, e caiu para 2,8% em 2023. Em um novo relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, foi constatado que é menor do que 2,5% o percentual da população brasileira que está em situação de insegurança alimentar grave e subnutrição. Portanto, pela segunda vez, o Brasil saiu do Mapa da Fome.
Diversos fatores contribuíram para a melhora nos indicadores referentes à fome no Brasil, sendo um deles a recriação do Consea, que havia sido extinto em 2019. A diminuição da pobreza e o aumento da renda média da população brasileira, resultado da sua melhor distribuição proporcionada por programas de transferência e pela queda do desemprego nos últimos anos, foram essenciais para o maior acesso da população a alimentos.
Outro ponto importante que está por trás da retirada do Brasil do Mapa da Fome foi o conjunto de políticas de apoio à agricultura familiar, principal responsável pela produção de alimentos para o mercado doméstico, e também projetos voltados para a ampliação da oferta de uma alimentação saudável nas escolas.
O Mapa da Fome é uma ferramenta importante que serve para monitorar a intensidade com que a escassez de alimentos impacta a vida da população mundial. Seu uso auxilia os Estados na medida em que fornece dados para que os gestores territoriais possam agir no enfrentamento a esse que é um dos maiores problemas sociais do mundo atual, pensando que o combate à fome é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU.
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A subnutrição e a fome se tornaram um problema crônico quando analisamos o cenário mundial, principalmente considerando os países subdesenvolvidos e as regiões que estão em guerra. A FAO projeta que, caso os fatores agravantes da insegurança alimentar persistam, o Mapa da Fome ainda terá 512.000.000 de pessoas no ano de 2030, conforme relatório lançado em 2025. Desse montante, estima-se que 60% corresponderá a pessoas que vivem em países da África.
Ainda sobre o continente africano, o relatório prevê que 17,6% da sua população estará em uma situação crônica de fome em 2030. Na Ásia e na América Latina e Caribe, em contrapartida, a prevalência de subnutrição deve ficar abaixo de 5% até o ano indicado.
Mesmo que a tendência global seja de queda no total de pessoas subnutridas e com insegurança alimentar grave no ano de 2030, a ONU reforça que cada região do planeta terá um cenário distinto condicionado por conjunturas locais. Como vimos, o continente africano é um dos que apresentarão aumento no número de pessoas convivendo com a fome e a insegurança alimentar.
Há, ainda, a preocupação acerca da situação dos habitantes da Faixa de Gaza, principalmente, e também da Cisjordânia, ambas áreas que integram o território da Palestina. Nas palavras do secretário-geral da ONU, a Palestina enfrenta uma “catástrofe humanitária de proporções épicas”, |1| o que é resultante do agravamento da fome e a imposição de restrições do acesso de ajuda humanitária. Outro conflito em andamento é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem afetado a distribuição de determinados tipos de alimentos.
Todos esses fatores afetam as projeções da fome no mundo para os próximos anos e certamente adiarão o cumprimento das metas da Agenda 2030, que tem como um de seus objetivos a erradicação da fome. Para além das guerras, fenômenos naturais como o El Niño e o La Niña em conjunto com as alterações no clima global, que provocam secas severas, inundações e ondas de calor sem precedentes, ocasionam a perda de lavouras. Como consequência, temos a escassez de alimentos e o aumento no preço daqueles que chegam até o mercado, aprofundando ainda mais o problema da insegurança alimentar no mundo.
Notas
|1| UN. In Gaza, mounting evidence of famine and widespread starvation. UN News, 29 jul. 2025. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2025/07/1165517.
Fontes
FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2025 – Addressing high food price inflation for food security and nutrition. Roma, Itália: FAO, 2025. Disponível em: https://openknowledge.fao.org/items/ec3dbd70-164c-483d-9fa2-2346284d67c8.
MDS. Brasil sai do Mapa da Fome da ONU: conquista histórica reflete políticas públicas eficazes. Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, 28 jul. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/mds/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-social/brasil-sai-do-mapa-da-fome-da-onu-conquista-historica-reflete-politicas-publicas-eficazes.
RESENDE, Thiago. Brasil sai novamente do Mapa da Fome, segundo relatório da ONU. G1, 28 jul. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/07/28/brasil-sai-novamente-do-mapa-da-fome-segundo-relatorio-da-onu.ghtml.
VEIGA, Edison. Como o Brasil oscilou no Mapa da Fome no século 21. BBC News Brasil, 29 jul. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz71wqy7p39o.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/geografia/mapa-da-fome.htm