A história da língua portuguesa tem início nos idiomas pré-românicos falados na Península Ibérica, que foram influenciados pelo domínio romano a partir do século III a.C. O hibridismo linguístico do lugar resultou no desenvolvimento do latim vulgar ibérico que, após a dissolução do Império Romano, foi influenciado pelas línguas árabes e germânicas.
Com as incursões da Reconquista ibérica pelos reinos cristãos sobre os muçulmanos no século IX, o galego-português passou a se tornar a língua comum ao noroeste da península, mas só começou a ser utilizado como idioma oficial de um Estado após a independência do Condado Portucalense sobre os reinos de Leão e Castela.
Com a consolidação do Reino de Portugal, no século XII, a língua portuguesa se tornou a primeira a ser utilizada oficialmente em um Estado, e evoluiu em diversos dialetos pelo mundo a partir das Grandes Navegações executadas a partir do século XV.
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A língua portuguesa surgiu como dialeto latino na região noroeste da Península Ibérica por volta do século XII, apesar de suas origens remontarem ao século III a.C. O latim, ou língua latina, atualmente considerado extinto, foi o idioma oficial da cidade de Roma e, posteriormente, do Império Romano até o seu fim, no século V d.C. A expansão territorial do império por praticamente toda a Europa resultou em diversos hibridismos linguísticos influenciados pelo latim, o que significava que, mesmo após séculos da extinção do domínio romano, os dialetos evoluíram para idiomas próprios.
As diferentes línguas originadas do latim se formaram conforme a influência de idiomas pré-latinos estabelecidos pela Europa, como os celtibéricos e os lusitanos. Doravante, utilizava-se a expressão romanice parabolare para se referir a todas as línguas que se referiam ao idioma romano, mas sem se ater exclusivamente à fala latina, e tampouco “bárbara” (ou seja, conforme a designação dos romanos, tudo o que não fosse ligado à sua própria cultura).
Entre tais idiomas, na Península Ibérica, surgiram o português, o galego, o catalão e o castelhano (atual espanhol), além de outros que se desenvolveram por todo o continente europeu, como o francês, o romeno e o italiano — este, o que mais se aproximou da língua extinta. A abrangente área europeia influenciada pela língua românica, ou romântica, é convencionalmente referenciada como România.
A língua portuguesa, semelhante à forma como conhecemos, surgiu por volta do século XII, mas as suas origens são muito mais antigas que isso. Antes mesmo da expansão romana abranger a Península Ibérica entre os séculos III a.C. e V d.C., parte da região era ocupada por povos celtibéricos (híbridos de celtas e ibéricos), lusitanos e galaicos; mas, mesmo após a dissolução do Império Romano, houve incursões germânicas e árabes que tornaram características as línguas faladas na península.
A hibridização linguística oriunda das influências latina, céltica, germânica e árabe — resultantes da invasão muçulmana da península no ano de 711, que expulsou os visigodos — tornou o idioma da região exclusivo em toda a extensão românica. No século IX, os reinos cristãos iniciaram as missões de Reconquista da Península Ibérica, que só terminariam no século XV após a retomada da região de Granada.
No início da Reconquista, em 868, Vímara Peres, do Reino de Galícia (ou Galizia, de onde se originou o povo galego), reconquistou dos mouros muçulmanos a atual região portuguesa entre os rios Minho e Douro, fundando o Condado Portucalense, então parte do Reino de Leão. A influência galega refletiu diretamente na língua falada pelos povos noroeste-ibéricos, consolidando-se a língua galego-portuguesa.
Em 1139, o conde D. Afonso Henriques adquiriu a independência de Portucalense, fundando o Reino de Portugal, o que resultou no surgimento da língua portuguesa como idioma oficial de uma nação, cujos primeiros registros seriam encontrados em documentos do século XII, como cartas oficiais e poesias de trovadorismo.
A formação do reino, diretamente, consolidou a língua portuguesa como parte da identidade daquela região e promoveu uma padronização de sua escrita. Por outro lado, a Galícia deixou de utilizar o idioma devido à influência do castelhano trazido pela incursão do Reino de Castela.
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Apesar de haver diferentes formas de se dividir a história da língua portuguesa, pode-se apresentar sua divisão conforme os seguintes períodos:
O início da formação do que viria a ser a língua portuguesa surgiu no século III a.C., quando o Império Romano conquistou a Península Ibérica. Nessa porção do continente europeu, havia a fixação de povos indo-europeus célticos, que disseminaram dialetos celtibéricos, lusitanos e galaicos, sobressalientes às práticas linguísticas de povos originários (como os ibéricos). Com a disseminação da língua latina na península, passou-se a praticar o latim vulgar, que tinha como base linguística o idioma dos romanos, mas recebeu a influência dos dialetos locais.
Devido à fusão da língua latina com os idiomas locais, o fenômeno linguístico ficou conhecido como romanização: após a queda de Roma, no século V, diversas línguas passaram a adquirir características próprias, formando novos idiomas como o italiano, o romeno, o castelhano e o francês. Na Península Ibérica, o latim vulgar sofreu alterações únicas, ainda que não profundas, devido à influência advinda dos povos germânicos, no século V, e dos árabes, no século VIII.
Apesar de as influências germânica e árabe não transformarem profundamente o latim vulgar praticado na Península Ibérica, a partir do século IX, as incursões da Reconquista cristã sobre o local resultaram na criação de novos idiomas. Um deles provinha dos galegos, do Reino de Galícia, ou Galizia, a noroeste da região; sua incursão pela costa oeste contra os mouros muçulmanos angariou ao conquistador Vímara Peres a formação do Condado de Portucalense, que apesar de sua relativa independência, respondia ao Reino de Leão, e mais tarde, ao poderoso Reino de Leão e Castela.
Enquanto Leão e Castela absorveram o território galego, substituindo o idioma da Galícia pelo castelhano, a língua falada no Condado Portucalense se manteve. Por isso, no século XII, quando Portugal conquistou sua independência sobre o reino, persistiu como o único Estado a falar o que ficou conhecido como português arcaico, ainda sob influência do galego.
Agora como um Estado independente, o Reino de Portugal passou a utilizar a língua local como oficial, foi quando surgiram os primeiros documentos escritos em português, como a Notícia de Fiadores, de 1171 (que registrava um acordo de fiadores) e o Testamento de Afonso, de 1214 (documento emitido pelo rei D. Afonso II). Difundiram-se também as primeiras obras de poesia que marcaram o trovadorismo português.
O período do Português Médio abrange, não de maneira aleatória, as Grandes Navegações: o idioma se disseminou por territórios ultramarinos, como na África (Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe), na Ásia (Timor-Leste, Índia) e na América (Brasil), devido às incursões portuguesas em busca de riquezas.
Com a invenção da prensa móvel por Johannes Gutenberg, no século XV, a língua portuguesa passou por uma padronização da escrita e passou também a ser replicada nas colônias lusitanas. Desse recorte temporal, tem destaque a primeira obra de gramática portuguesa (“Gramática da Língua Portuguesa”, de 1536), publicada por Fernão de Oliveira.
A partir do século XVI, aplicaram-se novas regras de vocabulário, fonética, ortografia, gramática, entre outras, que tornaram o idioma mais semelhante ao modelo contemporâneo (várias contrações, o uso frequente de vogais anasaladas, consoantes mudas etc.), principalmente em Portugal. A primeira obra a significar o início do padrão clássico foi “Os Lusíadas” (1572), de Luís de Camões.
Apesar de representar mudanças menos perceptíveis em relação aos períodos anteriores, o advento do português moderno trouxe mudanças na sintaxe, léxico, gramática e fonética, principalmente, assinalando-se o primeiro dicionário de língua portuguesa em 1789. Sua escrita foi simplificada e o modelo formal passou a ser menos frequente (o “vocês”, por exemplo, prevaleceu sobre o “vós”), e ao mesmo tempo, muitas palavras passaram a receber significados múltiplos. O período passou a dividir a língua em duas grandes variantes:
A história da língua portuguesa no Brasil remete ao período do Português Médio, ou seja, de quando os portugueses invadiram e colonizaram o nosso país em 1500. O choque cultural entre povos nativos e os portugueses também refletiu no idioma, já que os indígenas falavam a língua do tronco tupi-guarani.
Apesar da prevalência de dois nichos linguísticos diferentes no contexto do Brasil Colonial, até a metade do século XVIII, utilizou-se a “língua geral”: um híbrido de português com tupi usado pelos missionários jesuítas (ou seja, da Companhia de Jesus) para catequizar os indígenas.
Entretanto, na segunda metade daquele século, o Marquês de Pombal, primeiro-secretário de Estado português, iniciou uma série de reformas — as Reformas Pombalinas — que tinham como objetivo estabelecer novas regras em território brasileiro que se adequassem aos interesses administrativos da Coroa de Portugal. Entre as medidas estipuladas, proibiu-se o uso das línguas indígenas na educação dos nativos, o que significava que os indígenas passaram a aprender o idioma português de maneira forçada.
Uma das consequências foi o déficit de evidências que, atualmente, impossibilita a compreensão das características da “língua geral” utilizada entre os nativos e os jesuítas nas missões coloniais. Instaurada agora como única língua oficial brasileira, no ano de 1822, momento em que Brasil se tornou independente de Portugal, o português se tornou também o idioma nacional.
O português brasileiro moderno, nesse contexto, já se diferenciava da língua utilizada pelos lusitanos na Europa devido às fortes influências de outras línguas, como o brasileiro nativo tupi-guarani (e o macro-jê em menores proporções), os idiomas africanos bantos e iorubás e as falas trazidas pelas ondas de imigrantes que, desde o século XIX, incluíam italianos, poloneses, alemães, japoneses, sírio-libaneses, entre outros. Como consequência, a língua portuguesa no Brasil possui a mesma estrutura gramatical da lusitana, mas é enriquecida pela multiculturalidade de diversos povos nativos, africanos, europeus e asiáticos.
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1. (FUNATEC) Aponte a alternativa que descreve corretamente a formação histórica da língua portuguesa:
a) A língua portuguesa se originou exclusivamente do latim vulgar.
b) A língua portuguesa é uma derivação direta do grego antigo.
c) A língua portuguesa evoluiu diretamente do latim clássico.
d) A língua portuguesa se formou a partir da mistura de latim vulgar com línguas germânicas e árabes.
Resposta: D. A língua portuguesa é resultante da romanização, ou seja, provém do latim vulgar e da influência de idiomas tanto germânicos quanto árabes, e não do latim clássico (utilizado pelos romanos), e muito menos do grego (que se trata de um idioma distante do latim).
2. Qual das opções abaixo é a correta sobre a principal consequência das Reformas Pombalinas na língua portuguesa falada no Brasil?
a) A proibição do tupi-guarani e a imposição da língua portuguesa como oficial do país.
b) A padronização nacional da língua portuguesa como híbrida das falas lusitana e tupi-guarani.
c) A obrigatoriedade na indução de outras línguas estrangeiras, exceto a castelhana.
d) A permissão de se utilizar o tupi-guarani como segunda língua oficial da colônia.
e) O estímulo ao intercâmbio linguístico e cultural entre os catequizadores e os nativos das missões jesuíticas.
Resposta: A. Com a expulsão dos jesuítas no Brasil, a língua originária tupi-guarani bem como a “língua geral” passaram a ter suas práticas proibidas por todo o território colonial.
Créditos das imagens
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[2] Wikimedia Commons (reprodução)
[3] Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
BANZA, Ana P.; GONÇALVES, Maria F. Roteiro de História da Língua Portuguesa. Évora: Universidade de Évora, 2018.
CASTRO, Ivo. Curso de História da Língua Portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1991.
IDA, Manuel S.A. Gramática história da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2001.
TARALLO, Fernando. Tempos Linguísticos: itinerário histórico da língua portuguesa. São Paulo: Editora Ática, 1994.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. Bela Vista: WMF Martins Fontes, 2007.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/gramatica/historia-lingua-portuguesa-no-mundo.htm