Zilda Arns foi uma médica, sanitarista, intelectual e filantropa brasileira fundadora da Pastoral da Criança, uma das principais entidades responsáveis pela redução da taxa de mortalidade infantil no Brasil, além do Estado.
Nascida em Santa Catarina, foi filha de uma grande família de descendentes de alemães, que contou ainda com outro famoso personagem da história do Brasil, Paulo Evaristo Arns. Formada em medicina, especializou-se em pediatria e sanitarismo. Desde a faculdade, passou a trabalhar junto das populações mais carentes, prestando assistência a crianças, idosos e suas famílias.
É um ícone na luta pela qualidade de vida de crianças e idosos, na luta contra a mortalidade infantil e na defesa da saúde pública gratuita. As duas pastorais fundadas por Zilda Arns atuam atualmente em todos os estados do Brasil, em diversos países do mundo e são modelos para diversos projetos sociais desenvolvidos em todo o globo.
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Zilda Arns nasceu em 25 de agosto de 1934, no município catarinense de Forquilhinha, localizado no leste do estado. Foi a 12ª filha dos 13 filhos do casal Gabriel Arns e Helene Steiner, ambos descendentes de alemães. Um de seus irmãos mais velhos foi Dom Paulo Evaristo Arns, famoso cardeal brasileiro. Outros quatro irmãos de Zilda também foram sacerdotes católicos — três freiras e um frade da Ordem dos Franciscanos.
Em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, em 2001, Zilda Arns afirmou que passou a infância na área rural de Forquilhinha, onde trabalhou desde a primeira infância na propriedade da família, alimentando os animais, ordenhando as vacas, participando da semeadura e da colheita.
Zilda afirmou ainda que seus pais, além do catolicismo, valorizavam muito a educação dos filhos e que todos eles acabaram se formando no ensino superior. Para custear a educação dos filhos, os pais de Zilda passaram a vender lotes da propriedade da família, até que a terra não foi mais suficiente para sustentá-los, forçando a família a migrar para a cidade.
Na juventude de Zilda, a família Arns se fixou na cidade de Curitiba, onde os irmãos mais velhos passaram a trabalhar para ajudar a família. O terreno da casa da família estava dividido em três partes: uma, onde ficava a casa; outra, dedicada ao cultivo e criação de galinhas; e a terceira, dedicada ao esporte, com um campo onde a família praticava vôlei e futebol. Zilda, durante a juventude, foi jogadora de vôlei e ganhou três campeonatos paranaenses consecutivos.
Aos 15 anos, decidiu ser médica, ao contrário da vontade do pai, que queria que a filha fosse professora, mas ela decidiu pela medicina pensando em trabalhar nos rincões do Brasil, junto dos mais necessitados.
Zilda cursou medicina na Universidade do Paraná, sendo uma das primeiras mulheres a se formarem nesse curso no estado. Ela se especializou em pediatria e medicina sanitária.
Zilda Arbs se casou com Aloísio Bruno Neumann, na época professor, em 26 de dezembro de 1959, e com ele teve seis filhos, sendo que um deles faleceu dias após o parto. Aloísio se tornou diretor da Faculdade de Administração e Economia do Bom Jesus na década de 1970.
Aloísio Neumann faleceu de forma trágica em 1978, quando teve um enfarto no mar ao tentar salvar uma criança que se afogava. Na época o mais velho dos cinco filhos do casal tinha apenas 14 anos de idade.
Zilda Arns faleceu no dia 12 de janeiro de 2010, aos 75 anos. Ela estava no Haiti, ajudando na implementação de projetos da Pastoral da Criança, quando faleceu no terremoto de 7,7 graus na escala Richter que atingiu o Haiti naquele dia.
No momento do terremoto, Zilda Arns estava em uma igreja discursando para membros da Igreja Católica. A estrutura do edifício não suportou o terremoto e desmoronou em apenas alguns segundos, levando à morte a maioria das pessoas que estavam no prédio. O terremoto do Haiti de 2010 deixou aproximadamente 200 mil pessoas mortas e mais de 1,5 milhão desabrigadas.
Zilda Arns optou pela medicina para ajudar os mais vulneráveis, sobretudo as crianças pobres, por esse motivo ela se especializou em pediatria e medicina sanitária.
Em 1983, após receber convite do irmão Paulo Evaristo Arns, Zilda fundou a Pastoral da Criança, com o objetivo de reduzir a mortalidade infantil no Brasil. No início da década de 1980, a taxa de mortalidade infantil em nosso país era de 84, ou seja, em média 84 crianças de cada grupo de mil nascidas faleciam antes de completar um ano de idade.|1|
A Pastoral da Criança desenvolveu seu primeiro projeto piloto no município de Florestópolis, no interior do Paraná. Outro importante personagem na fundação da Pastoral da Criança e no início dos seus trabalhos foi Dom José Majella Delgado, então arcebispo de Londrina.
Com apoio da Igreja Católica e de voluntários, a Pastoral da Criança promoveu a doação de alimentos; a construção de hortas comunitárias; cursos sobre saúde; tratamento de água, controle da natalidade; além da construção de sistemas de coleta de esgoto e da formação de líderes comunitários, responsáveis pela coordenação do projeto em suas comunidades.
Segundo dados da Pastoral da Criança, a taxa de mortalidade infantil caiu de 127 para 28 em apenas um ano após o início do projeto. Após o sucesso, a Pastoral da Criança passou a atuar em quase todo o território nacional e atualmente atua também em diversos países.
Em 2004, Zilda Arns foi uma das fundadoras da Pastoral da Pessoa Idosa, entidade que tem por objetivo melhorar a qualidade de vida da população idosa do nosso país. Segundo dados da própria pastoral, atualmente são assistidos em todo o país mais de cem mil idosos.
Zilda Arns é um ícone mundial na luta contra a mortalidade infantil, na defesa da saúde pública e na luta por justiça social. Suas ideias, que se tornaram realidade por meio da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, foram importantes para a redução da mortalidade infantil no Brasil e pela melhora da qualidade de vida da pessoa idosa.
O projeto desenvolvido pela Pastoral da Criança, baseado na doação de alimentos; no estímulo à geração de renda e à produção de alimentos; na criação de rede de água tratada e de coleta de esgoto; e na educação das famílias, é hoje replicado em diversas partes do Brasil e do mundo, salvando vidas de milhões de crianças ao longo das últimas quatro décadas.
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Durante a vida e postumamente, Zilda Arns recebeu diversos prêmios e homenagens no Brasil e no mundo. A seguir lista com os principais deles.
Notas
|1| Szwarcwald, Célia Landmann; Castilho, Euclides Ayres de. Estimativas da mortalidade infantil no Brasil, década de oitenta: proposta de procedimento metodológico. Artigos Originais • Rev. Saúde Pública 29 (6) • Dez 1995. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/xjgBQvLqYYSH7BJ3fzNB6MB/.
Crédito de imagem
[1] Wilson Dias / Agência Brasil / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
Rodrigues, Ernesto. Zilda Arns: uma biografia. Editora Anfiteatro. Brasília, 2019.
Rodrigues, Ernesto. Zilda Arns. Editora Rocco, 2020.
Szwarcwald, Célia Landmann; Castilho, Euclides Ayres de. Estimativas da mortalidade infantil no Brasil, década de oitenta: proposta de procedimento metodológico. Artigos Originais • Rev. Saúde Pública 29 (6) • Dez 1995. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/xjgBQvLqYYSH7BJ3fzNB6MB/.
Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/biografia/zilda-arns.htm