A Guiana Francesa é um território francês localizado na América do Sul, fazendo fronteira com o Suriname e com o Brasil. É classificada, atualmente, como uma coletividade territorial da França, o que garantiu maior autonomia para a gestão territorial. A Guiana Francesa apresenta clima equatorial e relevo planáltico, estando inserida na Amazônia. Sua população de 269 mil habitantes vive principalmente em cidades como Caiena, que desempenha a função de capital do território. Tendo uma economia emergente, o turismo, a pesca e a extração de madeira são as principais atividades desenvolvidas no território, além das receitas arrecadadas por meio do Centro Espacial da Guiana.
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A Guiana Francesa é classificada como uma coletividade territorial única francesa, portanto ela pertence à França.
A Guiana Francesa, oficialmente denominada Guiana, é um território francês que fica localizado na América do Sul. Por essa razão, é compreendida como sendo um território ultramarino. Situada na parcela setentrional do subcontinente, a Guiana Francesa fica no Hemisfério Norte do planeta Terra. Ela faz divisa com apenas dois países: Suriname, a oeste, e Brasil, ao sul e ao leste. Ao norte o território guianês é banhado pelo Oceano Atlântico.
O território da Guiana Francesa fica em uma área de baixa latitude, próxima da Linha do Equador. Por essa razão, apresenta clima equatorial, marcado pelo calor e pela elevada umidade. As temperaturas médias no território chegam a 26 ºC, enquanto o volume anual de chuvas é de 2.000 mm na maioria das regiões, podendo atingir mais de 2.800 mm nas áreas mais próximas da costa.
Parte do Escudo das Guianas, a Guiana Francesa está inserida em uma das regiões com geologia mais antiga da América do Sul. As formas de relevo predominantes no território são, por isso, a planície costeira e os planaltos interiores. A maioria dos terrenos fica em uma cota altimétrica média inferior a 200 metros. O ponto de maior altitude da Guiana Francesa fica no Monte Bellevue, no centro-oeste do território, 831 metros acima do nível do mar.
A Guiana Francesa está integralmente inserida na Amazônia. Portanto, a sua vegetação é formada pela floresta equatorial densa e com elevada biodiversidade. Por causa da sua baixa densidade demográfica, uma ampla parte dessa vegetação se mantém preservada no território. Além das florestas, a costa da Guiana Francesa é caracterizada pela presença de pântanos e mangues.
O clima chuvoso e o relevo da Guiana Francesa favoreceram o desenvolvimento de uma densa rede hidrográfica formada por rios como o Oiapoque e Maroni, que desempenham a função de fronteira natural entre o Brasil e o Suriname, respectivamente. Outros importantes rios da Guiana Francesa são o Mana, Approuague e Caiena. A maioria dos rios da Guiana Francesa correm na direção sul-norte e deságuam no Oceano Atlântico na região norte do território.
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A Guiana Francesa é um dos territórios menos populosos da França, considerando os departamentos continentais europeus e seus principais territórios e coletividades no exterior. O território tem 269.352 habitantes atualmente, com uma densidade demográfica muito baixa que é de 3,22 hab./km². Nota-se, entretanto, que a distribuição da população da Guiana Francesa não se dá de forma homogênea pelo território. Mais de 87% de seus habitantes vive na zona urbana, concentrando-se principalmente no litoral do país, que fica na região norte.
Caiena é a cidade mais populosa da Guiana Francesa. A capital conta atualmente com 61.550 habitantes, o que corresponde a cerca de 23% da população total daquele território. Matoury e Saint-Laurent-du-Maroni são, respectivamente, a segunda e a terceira maior cidade da Guiana Francesa, ambas com mais de 24 mil habitantes. As cidades têm apresentado rápida expansão no território, acompanhando o crescimento populacional de 2,7% ao ano segundo a ONU.
A Guiana Francesa é uma economia emergente, tendo um Produto Interno Bruto (PIB) atual de 3,8 bilhões de euros. O setor terciário, que é composto pelos serviços e pelo comércio, é o mais significativo da economia guineense. Uma parcela de quase de 25% do PIB da Guiana Francesa, e que integra os serviços que são executados no território, é oriunda das atividades do Centro Espacial da Guiana, localizado na cidade de Kourou e em operação desde 1968. Esse centro é utilizado principalmente pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), agência espacial francesa.
A extração e comercialização de madeira é outra importante atividade econômica do país, uma das principais do setor primário junto da pesca. A agricultura é concentrada em áreas próximas da costa e do curso de grandes rios, e sua prática é voltada aos comércios locais e à subsistência. Por causa disso, os principais cultivos são aqueles de arroz, banana e mandioca. Existem, também, plantios comerciais cujo produto é destinado à exportação, tendo como principal destino à França. A indústria da Guiana Francesa é voltada para os setores madeireiro e alimentício, além da produção de cimento.
O turismo é uma das principais atividades econômicas na Guiana Francesa. Dados da ONU indicam que mais de 100 mil pessoas visitam o território todos os anos, número esse que foi atingido nos últimos cinco anos e tem apresentado sólido crescimento.
A costa atlântica permite o acesso a diversas praias, como é o caso da praia de Rémire-Montjoly, a mais visitada da Guiana Francesa. A rica biodiversidade do território pode ser observada de perto por meio de trilhas e passeios ao ar livre, além de expedições a barco através de rios como o Maroni ou ainda a visita a grutas e quedas d’água. Na Guiana Francesa, é possível também visitar lugares históricos que recontam a sua história colonial, além de tours guiados pelo Centro Espacial da Guiana e comunidades tradicionais.
Não obstante a densidade da rede hidrográfica da Guiana Francesa, uma parcela significativa de sua população não tem acesso à água potável. As estimativas são de que cerca de 40.000 pessoas não são atendidas pela rede pública do território, sendo esse o seu principal problema infraestrutural. O tratamento de esgoto também é um serviço de saneamento básico deficitário, tendo as suas principais unidades centralizadas em áreas como a capital, Caiena, e as cidades localizadas imediatamente próximas a ela.
A eletricidade no território é gerada principalmente por meio de fontes limpas. Pouco mais de 70% de sua matriz energética é formada pela hidroeletricidade, que sozinha é responsável por 61,2% da eletricidade da Guiana Francesa, e pela energia solar e da biomassa. A parcela restante é proveniente das usinas termelétricas que se utilizam de combustíveis fósseis para a geração de energia.
Como sendo parte do território da França, o governo da Guiana Francesa segue a Constituição francesa. Além disso, tem como chefe de Estado o presidente da república francês. Desde 2015, o poder legislativo local é desempenhado pela Assembleia da Guiana, que é parte da Coletividade Territorial da Guiana. Esse órgão é o principal responsável pela governança local e recebeu a aprovação do governo francês para atuar de maneira autônoma no território sul-americano.
O nome oficial da Guiana Francesa é Guiana, ou Guyane, no francês. Ele é derivado das línguas aruaques faladas pelos povos nativos sul-americanos e significa “terra de muitas águas”. O acréscimo “Francesa” no nome desse território aconteceu como forma de diferenciá-lo do país Guiana, do qual é separado fisicamente pela presença Suriname.
A cultura da Guiana Francesa exibe influências provenientes das culturas indígena, europeia, sobretudo francesa, e também africanas. A língua oficial do território é o francês, mas ela não é a única falada pelos seus habitantes. Na realidade, o crioulo é a principal língua da Guiana Francesa, e reflete a fusão entre as expressões culturais originárias de países africanos e da França. As religiões do território são predominantemente católica e animista, tendo o segundo grupo uma forte presença das crenças dos povos indígenas que habitavam e habitam a região.
Na paisagem cultural da Guiana Francesa, é possível identificar elementos provenientes da França, sobretudo na sua arquitetura. Muitas formas presentes são, ainda, um resquício do período colonial. Manifestações como datas festivas são muito comuns na Guiana Francesa, sendo o Carnaval uma das mais populares. Desfiles são realizados em todo o território, e neles é possível observar uma variedade de fantasias, máscaras e cores aliadas às músicas de influência caribenha. Além desse, celebrações como o Maroon Festival reforçam o legado das comunidades tradicionais, no caso a população africana escravizada no período colonial, na cultura da Guiana Francesa.
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A Guiana Francesa e os demais territórios situados no norte da América do Sul já eram habitados há mais de sete mil anos antes do presente. No caso específico guianês, as áreas que mostraram maior concentração de pessoas são aquelas no entorno do rio Oiapoque, que faz fronteira com o Brasil. Os primeiros europeus começaram a chegar à região no começo do século XVI, com assentamentos se formando em Caiena. Apesar dos franceses terem aportado no mesmo período, o Tratado de Tordesilhas impediu que a colonização fosse realizada em um primeiro momento.
Os franceses fizeram uma nova tentativa de estabelecimento em meados do século XVII, mas saíram derrotados de confrontos diretos com os nativos. A colonização pela França acabou se concretizando a partir de 1664. Com o uso de mão de obra escravizada trazida à força do continente africano, a economia da Guiana Francesa era baseada na produção de açúcar e pimenta. Em meados do século XIX, as Ilhas da Salvação se tornaram colônias penais. A Ilha do Diabo era conhecida por abrigar principalmente presos políticos. As prisões foram desativadas somente em 1951.
A Guiana Francesa se tornou oficialmente um departamento de além-mar da França no ano de 1946. Pouco tempo mais tarde teve início a construção do Centro Espacial da Guiana, que foi importante para a recuperação da economia francesa após a Segunda Guerra Mundial. A base tinha uma localização que era considerada estratégica pelo fato de estar situada muito próximo da Linha do Equador. Diferentemente da economia francesa, entretanto, a economia da Guiana Francesa passou por um período de crise marcado pela elevada taxa de desemprego, o que desencadeou protestos pelo território contra a administração europeia.
Em 2010, foi realizado um referendo na Guiana Francesa e também na Martinica, ilha que também pertence ao território francês, a respeito da sua autonomia territorial e da sua mudança de status, deixando de ser um departamento da França. Na região sul-americana, aproximadamente 70% dos votantes se posicionou contra a mudança de status, não obstante a parcela total de pessoas que participaram tenha sido de 48% da população.|2| No mesmo ano, foi aprovada a formação de um único órgão para a gestão territorial da Guiana Francesa, que é a Assembleia da Guiana Francesa.
Também em 2010 houve uma mudança significativa no status da Guiana Francesa: ainda sendo parte da França, ela deixou de ser um departamento de além-mar. Com maior autonomia, a Guiana Francesa passou a ser classificada como uma coletividade territorial única. O status entrou oficialmente em vigor cinco anos mais tarde, em 2015.
Notas
|1| GLOBAL FOREST WATCH. Guiana Francesa. Disponível em: https://www.globalforestwatch.org/dashboards/country/GUF/.
|2| NEWS WIRES. French Guiana, Martinique vote against more autonomy. France 24, 11 jan. 2010. Disponível em: https://www.france24.com/en/20100111-french-guiana-martinique-vote-against-more-autonomy.
Créditos das imagens
Fontes
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NOBILE, Rodrigo. Guiana Francesa. Portal Contemporâneo da América Latina e Caribe, [08 jun. 2017]. Disponível em: https://sites.usp.br/portalatinoamericano/espanol-guayana-francesa.
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Fonte: Brasil Escola - https://brasilescolav3.elav.tmp.br/geografia/guiana-francesa.htm