Operação Valquíria: quem liderou, por que deu errado

Operação Valquíria

A Operação Valquíria, idealizada e praticada por um grupo de conspiradores da Alemanha, foi um dos importantes planos para assassinar o ditador austro-alemão Adolf Hitler.

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A Operação Valquíria foi um plano que tinha como objetivo primário assassinar Adolf Hitler. Em 20 de julho de 1944, um grupo de conspiradores, formado principalmente por militares da Wehrmacht (Forças Armadas Alemãs), colocou a Operação Valquíria em prática: consistia em um atentado a bomba contra a vida do líder nazista Adolf Hitler, com o intuito de adquirir o poder sobre o Estado e colocar um fim precoce à Segunda Guerra Mundial.

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O principal autor do plano, coronel Claus von Stauffenberg, enfrentou diversos imprevistos na tentativa de assassinato que acabaram por frustrar o atentado e o golpe de Estado. Além da execução de um grande número dos envolvidos no ataque, a Alemanha Nazista passou a estreitar ainda mais a sua violenta política totalitária.

Leia também: Como Hitler morreu?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Operação Valquíria

  • A Operação Valquíria foi um plano organizado por oficiais da Wehrmacht que tinha como objetivo primário assassinar Adolf Hitler.
  • Com a morte de Hitler, os conspiradores poderiam assegurar o Estado para que a Alemanha pudesse se render e encerrar a Segunda Guerra Mundial.
  • Apesar de o círculo de conspiradores ser apoiado por centenas de militares e civis, foi o coronel Claus von Stauffenberg quem se voluntariou para implantar uma bomba próximo a Hitler.
  • Devido a diversas circunstâncias imprevistas, o atentado falhou, levando o coronel Stauffenberg e diversos de seus colegas à execução naquele mesmo dia.
  • Como consequências do plano frustrado, Hitler estreitou ainda mais sua postura radical contra possíveis traidores da Alemanha, dos quais milhares foram condenados, e colocou a SS como principal instituição militar do Reich.
  • A ousadia do plano praticado por Stauffenberg e seus colegas se tornou tema de dezenas de obras da indústria cinematográfica.

 O que foi a Operação Valquíria?

Claus von Stauffenberg (primeiro à esquerda) em visita a Hitler, cinco dias antes da Operação Valquíria.
Claus von Stauffenberg (primeiro à esquerda) em visita a Hitler, cinco dias antes da Operação Valquíria.

A Operação Valquíria, ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial, ficou conhecida um complô organizado por oficiais do Exército Alemão com o objetivo de ludibriar, assassinar e substituir o ditador nazista Adolf Hitler. O planejamento e execução da operação, realizada pelo coronel da Wehrmacht Claus von Stauffenberg, ocorreu, em 20 de julho de 1944, por meio da implantação de uma bomba no quartel general de Hitler em Wolfsschanze, na Prússia Oriental (atual Polônia).

Apesar de a bomba ter explodido, uma série de imprevistos livrou Hitler do assassinato, gerando graves consequências para os envolvidos no plano e, com isso, nas decisões do ditador até o término da guerra na Alemanha.

O coronel Claus von Stauffenberg, que organizou a chamada Operação Valquíria.
O coronel Claus von Stauffenberg, que organizou a chamada Operação Valquíria.

Apesar de a Operação Valquíria ser geralmente referida como um plano para exterminar Hitler, a sua configuração era mais complexa: ela dizia respeito, primeiramente, a um protocolo de emergência que colocaria o Exército de Reserva da Wehrmacht em mobilização nos casos de grave crise interna no governo — mas sem incluir a morte do ditador. Entretanto, esse protocolo foi alterado pelos conspiradores para que, com o atentado induzido, a Alemanha pudesse finalmente se render e, com isso, antecipadamente pôr fim à Segunda Guerra Mundial.

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Por que o nome Operação Valquíria?

O nome “Operação Valquíria” (Unternehmen Walküre) é uma referência à ópera Die Walküre (A Valquíria), composta pelo músico alemão Richard Wagner durante a década de 1850 como parte da quadrilogia mítica O Anel de Nibelungo. A conexão entre o nome da operação e a música tem diversas conotações.

Conforme apontado anteriormente, o nome da operação não foi criação dos conspiradores; ela antecede ao plano e teve a aprovação do próprio ditador austro-alemão, Adolf Hitler. Não se sabe quem nomeou a operação em referência à ópera de Wagner, mas ela foi organizada pelo alto escalão das Forças Armadas Alemãs para conceder poderes ao exército reserva a fim de garantir a manutenção da ordem do Estado diante de crises internas, como tentativas de golpe e insurreições na SS; ou seja, o documento não dizia respeito à morte de Hitler. O nome da operação foi dado em homenagem ao ditador, assíduo admirador de Richard Wagner.

"Valkyrie", pintura de Peter Arbo (1865) que representa uma valquíria.
"Valkyrie", pintura de Peter Arbo (1865) que representa uma valquíria.

Mais precisamente, as “valquírias” eram deusas guerreiras da mitologia nórdica que tinham, por função, conduzir os combatentes mortos em ação para a Valhalla, que servia de morada para aqueles que sucumbiam nas batalhas. Porém a conotação da mitologia contada por Wagner, na interpretação nazista, tinha cunho racista: as valquírias representavam a figuração de protetoras da “raça ariana” propagada pelos nacional-socialistas alemães, além do fato de Wagner ter sido um ávido antissemita que servia de inspiração ideológica a Hitler e ao Partido Nazista.

Os conspiradores que se apropriaram do plano compreendiam que alterar o seu nome poderia facilitar possíveis suspeitas, principalmente entre os membros das instituições de segurança do Reich, como a Gestapo ou a SD. Além disso, muitos dos adeptos ao plano revisado viram no nome uma referência à atitude heroica que salvaria a Alemanha das mãos destrutivas de Hitler.

Leia também: O bunker de Hitler — a última morada do ditador nazista

Objetivos da Operação Valquíria

A Operação Valquíria, modificada para atender aos interesses dos conspiradores antinazistas, tinha os seguintes objetivos:

  • Assassinar Adolf Hitler: O objetivo primário da Operação Valquíria era assassinar Adolf Hitler. O plano de colocar fim à vida do ditador já havia sido discutido dezenas de vezes, mas a dificuldade em praticá-lo levou muitos dos conspiradores a hesitarem ou mesmo desistirem de fazê-lo. Com a obstinação do coronel Claus von Stauffenberg, porém, a moral dos conspiradores foi renovada; na posição de chefe do Estado-Maior do Exército de Reserva, o coronel se voluntariou para executar o atentado pessoalmente.
  • Encerrar a guerra: O objetivo secundário era colocar fim à guerra. Os conspiradores eram, em grande parte, compostos por oficiais da Wehrmacht com sentimentos patrióticos; era comum, na tradição militar alemã, que muitos combatentes lutassem pela honra de servir à nação, sem que necessariamente fossem adeptos à ideologia nacional-socialista (apesar de, ao mesmo tempo, grande parte dela ser tão pró-nazista quanto os membros da SS). Quando Hitler inevitavelmente demonstrou o seu poder destrutivo sobre a Alemanha e sua população, parte dos oficiais decidiu que aquele governo não poderia ir adiante. No entanto, muitos dos apoiadores do complô (entre eles, até mesmo oficiais da SS) se aproveitaram da Operação Valquíria como chance de serem poupados da punição dos Aliados, principalmente dos soviéticos, que, naquele momento, deixavam claro que a Alemanha seria derrotada em pouco tempo.
  • Garantir a prevalência do exército reserva: A garantia de rendição da Alemanha naquela guerra só seria possível se os conspiradores sobrevivessem à morte de Hitler. Para que isso fosse possível, a Operação Valquíria revisada deveria conter a assinatura do próprio ditador. Graças à patente de coronel, Claus von Stauffenberg se encontrava com Hitler com certa frequência. Em uma dessas reuniões, solicitou por uma assinatura de aprovação na revisão das diretrizes apresentadas pela Operação Valquíria. Como essa prática era comum por parte dos oficiais da Wehrmacht, o ditador assinou o documento sem prestar atenção nas alterações que legitimavam um golpe de Estado. Mais exatamente, o documento aprovava o uso do exército reserva em casos de emergência, como a morte do Führer, para admitir a liderança do Estado, impedindo qualquer tentativa legítima de instituições rivais a Wehrmacht, como a SS, de assumirem os cargos de privilégio que pudessem dar continuidade à guerra.

Como foi a Operação Valquíria?

→ Antecedentes

A Operação Valquíria, como plano de assassinar Hitler, originou-se de uma profunda frustração adquirida pelo coronel Claus von Stauffenberg perante o governo totalitário alemão. Outrora adepto do nazismo, experiências traumáticas fizeram com que Stauffenberg compreendesse a importância de impedir que Hitler governasse; ele testemunhou a violência dos Einsatzgruppen (grupos de extermínio) nas ofensivas do Oeste Europeu, e, na campanha da Tunísia, após um ataque aéreo norte-americano, perdeu o olho esquerdo, a mão direita e dois dedos da mão esquerda, além de presenciar a morte de diversos companheiros de batalha.

O sentimento antinazista, por parte dos oficiais da Wehrmacht, havia sido gravemente abalado por uma sucessão de motivos. Em 1938, um grande complô organizado pelo general Hans Oster, da Abwehr (órgão alemão de espionagem e inteligência), chegou muito perto de derrubar Hitler, mas a dependência que os conspiradores criaram sobre a Inglaterra, então adepta de uma política de apaziguamento com a Alemanha, frustrou a maior oportunidade que tiveram até então em suas carreiras.

No decorrer dos anos, quase 20 tentativas de assassinar Hitler resultaram em consequências insatisfatórias; criou-se até mesmo uma aura mítica ao redor do ditador, que muitos passaram até mesmo a acreditar ser um protegido de forças sobrenaturais malignas.

De maneira cuidadosa, o coronel passou a procurar por outros oficiais antinazistas dentro das Forças Armadas. Ele se encontrou primeiramente com o major-general Henning von Tresckow, que, por sua vez, o introduziu a um círculo de outros conspiradores do alto escalão: entre eles, os generais Ludwig Beck, Friedrich Olbricht e Friedrich Fromm, o coronel Albrecht von Quirnheim e outros líderes militares e civis, como o diplomata Hans Gisevius e o ex-prefeito de Leipzig Carl Goerdeler.

A posição de Stauffenberg como coronel era vantajosa para que ele conseguisse pôr a Operação Valquíria em prática: encontrava-se com Hitler ocasionalmente e não despertava grandes suspeitas, tanto por sua condição debilitada, em decorrência dos ferimentos de combate, quanto por não ocupar a patente de general da Wehrmacht, posição ocupada por oficiais que despertavam desconfiança no ditador. Isso permitiu que o próprio Hitler assinasse a versão modificada da Operação Valquíria sem suspeitar do complô, dando ao exército reserva da Wehrmacht plenos poderes sobre o governo do Reich em potenciais crises de Estado.

Em 20 de julho de 1944, o coronel Stauffenberg foi convocado para uma reunião no Wolfsschanze, quartel general de Hitler ao leste da Prússia. Além da presença do Führer, havia a possibilidade de, ainda, a reunião contar com a figura de outros dois importantes líderes nazistas: Heinrich Himmler e Hermann Göring. A ocasião, para Stauffenberg, mostrava-se inadiável; aquela já era a quarta oportunidade para o atentado em pouco mais de uma semana. Nas reuniões anteriores, o coronel já havia levado as bombas consigo, esperando, sem sucesso, a aprovação dos conspiradores para acionar o plano.

Naquela manhã de julho, Stauffenberg levou consigo duas bombas dentro de uma maleta, cada uma com um quilo de explosivos originários da SOE (órgão de espionagem britânica) repassados a Abwehr com fusíveis de ativação acionados por meio de um alicate. Em teoria, o plano deveria ser executado da seguinte forma: o coronel deveria se certificar da presença de Hitler no local escolhido para a conferência, que geralmente ocorria no bunker blindado do Wolfsschanze. O local era ideal para o cumprimento do objetivo, já que a blindagem potencializaria a explosão e possivelmente mataria mais que o alvo principal.

No decorrer da reunião, o coronel deveria se retirar rapidamente até algum aposento, onde acionaria as bombas; na volta, deixaria a maleta aos pés de Hitler e se retiraria novamente da reunião, dessa vez pela necessidade de atender a uma ligação combinada pelos seus colegas. Na oportunidade, o coronel fugiria por um veículo, a tempo de as bombas cumprirem seu objetivo.

→ Execução e resultados

Ao chegar no Wolfsschanze pela manhã, Stauffenberg se deparou com dois imprevistos: a conferência ocorreria meia hora mais cedo, às 12:30, e seu local seria transferido para um galpão próximo, parcialmente de madeira, em decorrência do excessivo calor de verão. Além disso, os outros líderes nazistas não estavam presentes.

Os imprevistos já foram suficientes para que parte do círculo de conspiradores persistisse na anulação do plano, mas o coronel estava determinado a arriscar; pouco antes da reunião, ele solicitou por um cômodo para trocar de camisa, devido ao calor. Junto de seu ajudante, o tenente Werner von Haeften, Stauffenberg se apressou a preparar os explosivos, mas a constante interrupção por parte dos ajudantes dos oficiais nazistas em demandar a presença do coronel na reunião não permitiu que ambas as bombas fossem ativadas; apenas uma teve seu fusível acionado e colocada de volta à pasta, cortando pela metade o poder explosivo do material.

Mesmo assim, Stauffenberg foi ter com Hitler e os outros nazistas no galpão, onde deixou a pasta com o explosivo próxima a ele, e novamente se retirou do local, a fim de atender à falsa ligação. Mais ou menos às 12:42, o galpão do Wolfsschanze explodiu, transformando sua estrutura em vigas chamuscadas de madeira, fumaça e o sangue de vários oficiais feridos ou mortos.

Durante a fuga em um veículo, Stauffenberg não foi barrado por nenhum guarda, já que explosões aos arredores eram comuns (o Wolfsschanze era cercado por campos minados). Convicto da morte do ditador, ele foi diretamente a Berlim para se encontrar com os chefes aliados do exército reserva.

Reconstituição da sala de reuniões onde a Operação Valquíria ocorreu, no museu polonês do Wolfsschanze.[1]
Reconstituição da sala de reuniões onde a Operação Valquíria ocorreu, no museu polonês do Wolfsschanze.[1]

Mal sabia ele que, embora chamuscado e com as roupas em trapos, Hitler sobrevivera à explosão. Pouco além das 15 horas, uma mensagem via rádio anunciava que o líder supremo estava vivo e absolutamente saudável.

Em meio a um clima de guerra civil, em Berlim, pouco a pouco, os conspiradores foram descobertos: temeroso em ser descoberto, o general Fromm se pôs à frente da caçada de seus colegas, denunciando-os (o que não foi o suficiente para encobertar o seu envolvimento, tendo sido executado por cumplicidade em março de 1945). Stauffenberg, Haeften, Olbricht e Von Quirnheim foram fuzilados naquela mesma noite por ordens de Fromm; Beck e Tresckow cometeram suicídio.

Por que a Operação Valquíria fracassou?

Hitler mostra a Mussolini os escombros da sala em que ocorreu a Operação Valquíria. [imagem_principal]
Hitler mostra a Mussolini os escombros da sala em que ocorreu a Operação Valquíria. [imagem_principal]

O motivo exato da falha na operação é incerto, mas é correto afirmar que seu fracasso ocorreu devido a inúmeros fatores e imprevistos de menor grau.

As razões imediatas foram a transferência do local da reunião para um espaço mais amplo, arejado (com as janelas abertas) e constituído principalmente por madeira, o que tornou a explosão menos impactante, e também o uso de apenas metade do explosivo destinado ao atentado, devido à falta de tempo que Stauffenberg e seu ajudante tiveram para acionar os fusíveis, algo dificultado devido ao adiantamento da conferência em meia hora, além das limitações físicas do coronel, que só tinha uma mão com três dedos.

Os infortúnios não foram o bastante. Após deixar a maleta com o explosivo acionado logo abaixo de Hitler na sala da reunião e se retirar para a fuga, o material foi removido dos pés do alvo por outro oficial presente (possivelmente o coronel Heinz Brant). No momento do impacto, a pesada mesa de madeira ao redor da qual os oficiais se dispunham serviu de escudo para Hitler.

Além disso, houve grande desorganização por parte dos conspiradores, principalmente no que diz respeito ao controle dos meios de comunicação e informação. O principal problema foi no atraso dedicado ao corte das linhas do Wolfsschanze, que disseminaram a informação do atentado a tempo e confirmaram o bem-estar do ditador, algo que abalou os idealizadores do golpe e os tornou hesitantes em aplicar o plano até sua conclusão. Ao mesmo tempo, eles mesmos falharam em anunciar o atentado a tempo para seus aliados estacionados fora da Alemanha. Esses erros levaram muitos conspiradores temerosos com o fracasso a diretamente optarem pela traição dos colegas.

Havia, também, um aspecto psicológico que levou o plano ao fracasso: Stauffenberg foi o conspirador menos hesitante do círculo. A falta de comprometimento com o atentado, por parte de seus colegas antinazistas, provinha da ilusão de que Hitler tinha algum tipo de proteção sobrenatural, até mesmo voltada a “forças do mal”.

Dizia-se que, nas reuniões com o Führer, era comum que os participantes se sentissem hipnotizados por uma aura mística, algo que Stauffenberg contestou como um sentimento de “nada”, convencido de que aquela impressão havia sido moldada apenas pela sucessão de vezes que o ditador havia se livrado da morte.

Consequências da Operação Valquíria

Além da morte imediata de grande parte dos conspiradores, Hitler ordenou que muitas das famílias dos envolvidos fossem enviadas para campos de concentração. Até a derrota da Alemanha, em maio de 1945, cerca de sete mil militares e civis foram aprisionados, torturados e executados sob suspeita de envolvimento com círculos conspiratórios.

Entre as vítimas que apoiaram o atentado, as mais notórias foram o marechal Erwin Rommel, da Wehrmacht, e o almirante Wilhelm Canaris, chefe da Abwehr. Houve casos de sobreviventes que participaram direta ou indiretamente na operação, como o major Von Boeselager, o marechal Von Rundstedt e o capitão Von dem Bussche-Streithorst.

Ainda, os resultados falhos da Operação Valquíria trouxeram consequências em níveis mais profundos: aumentou-se a paranoia de Hitler em relação não apenas a seus oficiais como até mesmo a civis da população alemã; mas também se alimentou o mito de que sua figura era “protegida pela Providência” (desencorajando outros atentados à sua vida).

O episódio fez com que o ditador aumentasse o seu consumo de drogas, prescritas por seu médico particular, Theodor Morell, principalmente a fim de aliviar suas sequelas físicas (estilhaços, queimaduras, comprometimento auditivo) e psicológicas (insônia, gastrite, possível doença de Parkinson). Até os seus últimos dias de vida, Hitler passou a consumir cerca de 50 substâncias e derivados, incluindo metanfetamina, cocaína e morfina.

Consequentemente, Hitler adotou uma postura escatológica de governo: com a iminente derrota da Alemanha, todos deveriam sucumbir junto da nação por terem falhado em defendê-la. Isso significou o fortalecimento da SS, que era ideologicamente nazista e passou a executar sumariamente quaisquer suspeitos de subversão. Os conflitos internos, indiretamente, auxiliaram no avanço das forças aliadas sobre a Europa, acelerando a derrota alemã, mas o excesso de proteção que Hitler passou a adotar sobre si frustrou quaisquer outros grandes planos de derrubá-lo, exceto pela vitória militar.

Até os dias de hoje, Stauffenberg e seus colegas são constantemente lembrados, tanto por civis quanto pela tradição militar alemã, como símbolo de heroísmo e resistência contra o Reich de terror chefiado por Hitler.

Leia também: Cinco fatos sobre a Segunda Guerra Mundial

Filmes sobre a Operação Valquíria

Existem dezenas de filmes que retratam, direta ou indiretamente, a Operação Valquíria. Confira, a seguir, algumas dos principais longa-metragens destinados ao assunto:

  • Operação Valquíria (Valkyrie, versão norte-americana, 2008): a versão hollywoodiana da jornada do coronel Stauffenberg oferece riqueza visual e um elenco renomado, com Tom Cruise no papel do protagonista, além da presença de Carine van Houten (Game of Thrones), Kenneth Branagh (Harry Potter e a Câmara Secreta), Thomas Kretschmann (O Pianista), Terence Stamp (O Colecionador), entre outros.
  • Operação Valquíria (Stauffenberg, versão alemã, 2004): a versão alemã procura ser minuciosamente detalhista com os aspectos técnicos e políticos dos personagens envolvidos no complô. O elenco é formado por atores alemães consagrados, como Sebastian Koch (Ponte dos Espiões) e Ulrich Tukur (A Vida dos Outros).
  • Der 20. Juli (1955): filme em preto e branco produzido pela Alemanha Ocidental. Trata-se de um clássico por ser um dos primeiros filmes a contar a história do coronel Stauffenberg por meio da indústria cultural.
  • Die Stunde der Offiziere (2004): em forma de documentário, o longa-metragem alemão apresenta os principais personagens e o passo-a-passo da operação para assassinar Hitler.
  • A Raposa do Deserto (The Desert Fox: The Story of Rommel, 1951): obra biográfica norte-americana que conta a história do marechal Erwin Rommel, um dos mais brilhantes oficiais alemães da Segunda Guerra Mundial. Apoiador do complô de assassinar Hitler e pôr um fim à guerra, o filme narra a sua carreira militar até o suicídio “concedido” por Hitler.
  • Almirante Canaris (Canaris, 1954): o filme biográfico de origem alemã narra a trajetória do misterioso almirante Wilhelm Canaris, chefe da Abwehr que esteve diretamente ligado ao complô de 20 de julho de 1944.

Créditos da imagem

[1] marketa1982 / Shutterstock

Fontes:

BASSETT, Richard. Almirante Canaris: misterioso espião de Hitler. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

FRANCHINI, A.S.; SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da mitologia nórdica. Porto Alegre: Artes e Ofícios Editora, 2014.

HERNÁNDEZ, Jesús. Operações secretas da Segunda Guerra Mundial: conspirações, agentes secretos, contraespionagem, golpes e sabotagens. São Paulo: Madras, 2012.

_____. Operação Valkíria. São Paulo: Novo Século, 2008.

IMDB. Disponível em <https://www.imdb.com/pt>.

MOORHOUSE, Roger. Quero matar Hitler. São Paulo: Ediouro, 2009.

OHLER, Norman. High Hitler: Como o uso de drogas pelo Führer e pelos nazistas ditou o ritmo do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2020.

VON BOESELAGER, Phillip F. Operação Valquíria: O complô contra Hitler. Rio de Janeiro: Record, 2009.

Escritor do artigo
Escrito por: Cassio Remus de Paula Cássio é doutor em História pela UFPR, mestre e bacharel em História pela UEPG. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia.
Deseja fazer uma citação?
PAULA, Cassio Remus de. "Operação Valquíria"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/historiag/operacao-valquiria-plano-para-matar-hitler.htm. Acesso em 09 de setembro de 2025.
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