Anos 50

Os anos 50 foram uma das décadas mais contraditórias do século XX por suas premissas otimistas e tensões globais preocupantes, como a ameaça nuclear advinda da Guerra Fria.

Imprimir
A+
A-
Escutar texto
Compartilhar
Facebook
X
WhatsApp
Play
Ouça o texto abaixo!
1x

Os anos 50 foram uma das décadas mais transformadoras do século XX, mas, ao mesmo tempo, significou um período de contradições. Por um lado, principalmente no Ocidente, havia promessas de ascensão social, liberdade e rebeldia, mas por outro, um receio pelos avanços da tecnologia de mísseis nucleares pairava sobre o mundo, além de grandes eventos envoltos de violência, desigualdade e injustiça. Mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945, a humanidade enfrentava velhas e novas crises, procurando abrigo tanto no consumismo desenfreado, quanto nas expressões artísticas mais populares da época.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

A década de 1950 foi marcada pela tensão nuclear provocada pela Guerra Fria, pelo estilo de vida consumista promovido pelos Estados Unidos, por mudanças culturais e na moda, como a popularização do rock, da televisão, do uso do jeans e das saias rodadas, e por avanços tecnológicos e científicos, como a comercialização do anticoncepcional e o lançamento dos primeiros satélites, resultantes da disputa entre Estados Unidos e União Soviética.

Também foi nessa década que diversos países africanos e asiáticos conquistaram sua independência. No Brasil, a Petrobras foi fundada e o país foi marcado pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954, seguido por um período de industrialização e modernização promovido por Juscelino Kubitschek.

Leia também: Anos 80 — período em que o mundo viu o fim da Guerra Fria e a ascensão do rei do pop

Tópicos deste artigo

Resumo sobre anos 50

  • Os anos 50 foram marcados por otimismo econômico e rebeldia cultural, mas, ao mesmo tempo, por receios decorrentes da ameaça nuclear devido à Guerra Fria.
  • O mundo se tornou polarizado, influenciado tanto pelo capitalismo (EUA), quanto pelo socialismo (URSS), que serviam de base ideológica para as duas maiores potências mundiais da época.
  • Nos EUA, o american way of life promoveu um estilo de vida baseado no consumismo, apesar de ainda conviver com a desigualdade social e a segregação racial.
  • O rock’n’roll, os bad boys e o new look ditaram a tendência da moda nos anos 50.
  • A indústria cultural teve seu ápice com a “era dourada” nos cinemas, consolidando a fama de ícones como Marilyn Monroe e Marlon Brando.
  • A corrida espacial travada entre URSS e EUA resultou em grandes avanços na tecnologia aeroespacial, como o lançamento do primeiro satélite artificial ao espaço.
  • A década de 1950 significou um boom no consumo de bens domésticos e utilidades para as classes médias, permitindo a aquisição de televisões e carros esportivos.
  • Os protestos contra a segregação racial nos EUA tiveram os seus primeiros impactos positivos.
  • Diversos países da África e da Ásia conquistaram suas independências sobre nações imperialistas da Europa.
  • No Brasil, com o suicídio de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek iniciou um intenso programa de industrialização e modernização do país.
  • Os anos 50 popularizaram invenções, desde o recreativo bambolê até a inovadora pílula anticoncepcional.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Características dos anos 50

A década de 1950 significou um período de profundas transformações sociais, decorrentes do reflexo de eventos históricos que abalaram o mundo, como o final da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria. Observe, a seguir, as características dos principais tópicos que marcaram a identidade dos anos 50.

→ Cultura dos anos 50

O momento pós-guerra da Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945, foi imediatamente consumido por um conflito de proporções potencialmente ainda mais destrutivas: a Guerra Fria (e, como consequência dela, a Guerra do Vietnã). Decorrente desses eventos, a cultura permeada nos anos 50 tornou-se uma mistura complexa, e até mesmo contraditória, fundamentada em otimismo, rebeldia e receio.

No Ocidente, ou mais especificamente, nos Estados Unidos, propagou-se a filosofia do american way of life, ou “estilo de vida americano”, que pressupunha um período de prosperidade baseado no consumismo e na aquisição irrefreável de bens materiais. Esse padrão de vida, inspirado no liberalismo econômico e no livre-arbítrio, propagou-se por grande parte do Ocidente como uma forma de combater, indiretamente, os ideais coletivistas defendidos pela potência rival dos EUA na época, a União Soviética.

Entretanto, apesar da divulgação de um país satisfeito com o progresso material, a promessa ocultava graves problemas, como a desigualdade sociorracial, fundamentada na exclusão das comunidades negras, e a exclusão das mulheres no protagonismo da sociedade, ainda interpretadas, em geral, apenas como figuras responsáveis pela constituição familiar e seus deveres domésticos.

Família tradicional dentro de um carro e a frase do estilo americano dos anos 50 em um cartaz.
“O mais alto padrão de vida: não há estilo como o estilo americano”, diz cartaz que circulava nos EUA desde a década de 1930.

Como resultado, muitos movimentos de rebeldia, disseminados também pela indústria cultural, se contrapuseram ao consumismo e ao conformismo propagados pelo governo norte-americano, embora seus resultados só fossem demonstrados, de fato, na década de 1960. No contexto dos anos 50 ainda prevaleciam valores conservadores como:

  • a família tradicional,
  • a segregação racial,
  • a moral cristã,
  • a censura artística e
  • a negação de direitos às minorias.

Por outro lado, como oposição a esses valores, surgiram movimentos que envolveram desde a ascensão do rock até a popularização das calças jeans entre os mais jovens.

→ Moda dos anos 50

Muito do que já era utilizado pela sociedade na década de 1940 se manteve na moda durante os anos 50, como os ternos para os homens, e os vestidos longos para as mulheres. Mesmo assim, uma parcela da sociedade, aqui no Ocidente, passou a ser influenciada por artistas da época que inspiravam rebeldia e se contrapunham às imposições sociais do terno e gravata.

Galãs bad boys da época, como Marlon Brando e James Dean, ressignificaram as vestes casuais: agora, os homens mais jovens passaram a utilizar calças jeans, material até então utilizado, principalmente, pela classe operária, camponesa ou outros ofícios que requeriam longos períodos de esforço físico. Ou seja, tratava-se de uma estética da classe trabalhadora, e não urbana, mas graças à cultura pop, o jeans se tornou tão popular no Ocidente quanto as vestes mais formais.

Manequins com roupas da moda nos anos 50, figurino do filme “Juventude transviada”. [imagem_principal]
Figurino do filme “Juventude transviada”, de 1955, estrelado por James Dean. Vestido de ampulheta também era tendência.[1]

No entanto, a moda entre as mulheres foi a mais impactada: apesar de muito pouco ter se alterado na estrutura social dos gêneros entre antes e após a guerra — a força de trabalho feminina praticamente voltou aos baixos níveis de execução de antes do conflito, principalmente entre a classe média — certos fenômenos repaginaram o seu modo de se vestir.

Em 1947, o estilista Christian Dior apresentou um tendencioso look “de ampulheta”, que demonstrava cinturas bem-acentuadas, saias rodadas e tecidos que denotavam o reascender da economia no pós-guerra, como o veludo e a seda (apesar de alternativas mais baratas como o nylon e a lycra terem sido altamente procuradas).

Estrelas como Audrey Hepburn, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor também influenciaram a moda ao sugerir liberdade e sensualidade, as mais “ousadas” arriscavam até mesmo o uso de biquínis ou calças, peças consideradas imorais pelas camadas conservadoras do período. Apesar de todas essas possibilidades, o que mais estampa o imaginário retrô sobre a moda dos anos 50 é o notório vestido com estampa de poá, mais popularmente conhecido como “vestido de bolinhas”.

→ Sociedade nos anos 50

Na década de 1950, a geração baby boomer surgiu sob um conturbado contexto mundial: a Guerra Fria. O conflito ameaçava constantemente um mundo recém-saído de outra guerra de grandes proporções, a Segunda Guerra Mundial, e as sociedades do Ocidente, apesar de parcialmente ostentarem estabilidade econômica e otimismo, sofriam de uma incessante ameaça nuclear, cujas populações passaram a viver em uma confusão de inibições e incertezas, tanto pelo conformismo, quanto pelo consumismo.

A sociedade ocidental procurava constantemente reafirmar uma identidade que se diferisse ao máximo dos ideais socialistas propagados pela União Soviética e seus aliados do Oriente, ou seja, na prevalência do indivíduo como ferramenta de consumo e praticante dos valores tradicionais:

  • a família nuclear,
  • o neoliberalismo econômico e
  • a manutenção dos interesses da população masculina, branca, e no mínimo, pertencente à classe média.

Esses preceitos, apesar de serem disseminados nos Estados Unidos, acabaram por ressoar na realidade de muitos países, especialmente nos que possuíam influência norte-americana. Na prática, significava que, sob pretextos de combater a influência soviética, os EUA disseminavam aos países aliados a ideia do american way of life, entretanto, apesar da aparência de uma ascensão social em potencial, a realidade da população estadunidense era bem diferente.

Homem negro usando bebedouro exclusivo durante a segregação racial nos EUA, nos anos 50.
Na imagem, um homem afro-americano usa bebedouro exclusivo para pessoas negras, um retrato da segregação racial nos EUA.

Por lá, a segregação racial, oriunda das Leis de Jim Crow, ainda refletia a escravidão, as mulheres eram induzidas a realizarem apenas tarefas domésticas ou cuidarem dos filhos, enquanto os homens proviam o lar da família, e os bares gays sofriam constantes e violentas batidas policiais em decorrência da ilegalidade, em diversos estados do país, da homossexualidade.

Em contrapartida, questionamentos sobre a sociedade, principalmente entre os mais jovens, mais tarde serviriam de fundamento para os movimentos contraculturais. Com a popularização do rock, parte da juventude passou a demandar soluções para as convenções sociais que emanavam injustiças e desigualdade, o que levou os seus ouvintes a serem assimilados, pelos conservadores, como consumidores de “músicas do diabo”, principalmente devido às origens negras do gênero.

Ao mesmo tempo, uma grande onda de consumo se apoderou dos ocidentais, que se sentiam impelidos a investir em imóveis suburbanos, veículos esportivos, eletrodomésticos e alimentos de fast food.

Vestido de bolinhas, rádio, televisão e carro esportivo, itens que estiveram em alta na sociedade dos anos 50.
Vestido de bolinhas, rádio, televisão e carro esportivo, itens que estiveram em alta na sociedade dos anos 50.

→ TV e cinema nos anos 50

A década de 1950 significou um dos pontos mais altos da indústria cultural e trouxe consigo os “anos dourados” do cinema. Com a popularização dos aparelhos de televisão em diversos lares do mundo, também, houve um acréscimo no consumo de entretenimento audiovisual. Os televisores daquela década eram pesados e caros, mas passaram a adotar transistores de circuito eletrônico em vez de tubos a vácuo (que eram mais caros e espaçosos).

Com o aumento de consumidores do aparelho, nesse contexto, surgiram gêneros de programas que são transmitidos até os dias de hoje, como programas de variedades, sitcoms, noticiários, desenhos animados e telenovelas, sendo a maioria destes, ainda, transmitida em preto e branco.

No cinema, muitos dos produtos da época são atualmente considerados filmes cult. Dos EUA, podemos citar:

  • os suspenses “Um corpo que cai” e “Janela indiscreta”, dirigidos por Alfred Hitchcock;
  • o noir “Crepúsculo dos deuses”, protagonizado por William Holden e Gloria Swanson;
  • o musical “Cantando na chuva”, com Gene Kelly e Debbie Reynolds; e
  • o clássico de guerra “A ponte do Rio Kwai”, também com William Holden.

Entre os atores e atrizes dessa época que mais obtiveram destaque estão:

  • Marlon Brando (“Uma rua chamada Pecado”);
  • James Dean (“Juventude transviada”);
  • Cary Grant (“Ladrão de casaca”);
  • Marilyn Monroe (“Os homens preferem as loiras”);
  • Audrey Hepburn (“Cinderela em Paris”);
  • Elizabeth Taylor (“Assim caminha a humanidade”); e
  • Grace Kelly (“Disque M para matar”).
Marlon Brando e Marilyn Monroe, dois ícones dos anos dourados do cinema na década de 1950.
Marlon Brando e Marilyn Monroe, dois ícones dos anos dourados do cinema na década de 1950.

Apesar de os exemplos acima citarem apenas algumas das produções que fizeram sucesso em Hollywood durante a década de 1950, o período também foi palco para clássicos de outros lugares do mundo, foi o caso de:

  • o japonês “Os sete samurais”, de Akira Kurosawa;
  • o sueco “Morangos silvestres”, de Ingmar Bergman; e
  • o franco-italiano “O salário do medo”, de Henri-Georges Clouzot.

No Brasil, surgiram comédias “chanchadas” como “Carnaval em Marte”, de Watson Macedo, e “Nem Sansão nem Dalila”, de Carlos Manga, além de precursores do Cinema Novo, como “Rio, 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos, e “O grande momento”, de Roberto Santos.

→ Música nos anos 50

A música dos anos 50 trouxe novos gêneros e versões modernas de estilos já explorados em grande escala pela indústria cultural. No Ocidente, o jazz continuou a ser consumido pelas massas, mas passou por reformulações com o surgimento dos crooners, um perfil de cantores românticos com voz aveludada e muitas vezes sussurrada, mas ainda grave (técnica possível na época graças à evolução na tecnologia dos captadores de voz). Os mais notáveis deles foram Frank Sinatra e Tony Bennett.

O jazz também recebeu novas interpretações por meios de subgêneros como o bebop, o cool jazz, o hard bop, entre outros, firmando o renome de músicos como Miles Davis, Thelonious Monk, John Coltrane, Chet Baker e vários outros.

Em meados da década, a grande novidade, por sua vez, foi o rock. Derivado de gêneros afro-americanos como o jazz, o R&B, o blues, entre outros, o rock já havia adquirido fama por meio da performance de artistas negros como Chuck Berry, Little Richard e Fats Domino, mas o estilo chegou até as famílias brancas dos EUA através de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e outros. O soul, ao final da década, apresentou a força da voz como derivado do R&B gospel: nesse gênero, Sam Cooke e Ray Charles se tornaram os artistas mais renomados dos anos 50.

Chuck Berry tocando guitarra, artista do rock nos anos 50.
Chuck Berry, artista do rock nos anos 50.

→ Política nos anos 50 

Conforme apontado anteriormente, a década de 1950 foi bastante conturbada em relação à política mundial. O início da Guerra Fria, na segunda metade da década anterior, havia colocado as maiores potências do mundo à época (Estados Unidos e União Soviética) em um atrito ideológico que resultou em uma constante ameaça nuclear, em decorrência da fabricação massiva de ogivas por ambas as nações beligerantes. Apesar da morte do líder totalitário Josef Stalin, em 1953, o novo secretário-geral da URSS, Nikita Khrushchev, deu continuidade ao conflito ideológico.

Apesar de não terem se confrontado diretamente, a formação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliada aos EUA, e do Pacto de Varsóvia, aliado à URSS, levou as influências ideológicas de ambas as potências — capitalismo e socialismo, respectivamente — a se tornarem pretexto para o financiamento de guerras concentradas pelo mundo. Entre elas, deflagraram-se a Guerra da Coreia, em 1950, e a Guerra do Vietnã, em 1955.

Rosto de Nikita Khrushchev, figura política dos anos 50, na capa de uma revista norte-americana.
Nikita Khrushchev sendo apresentado na capa da revista Time como novo líder da União Soviética, em 1953.

Em Cuba, no ano de 1959, Fidel Castro e Che Guevara derrubaram o governo do ditador Fulgêncio Batista, alterando o curso da Guerra Fria ao alinharem o país com a URSS; anos mais tarde, em 1962, aceitaram a instalação de mísseis nucleares em território cubano como resposta às ogivas preparadas pela OTAN em território turco, acarretando o ápice da tensão nuclear de todo o conflito.

A Guerra Fria também ocasionou, de maneira direta, a independência de diversos países controlados por nações europeias imperialistas: na África, a Líbia (1951) se libertou da Itália, o Sudão (1956) e Gana (1957), do Reino Unido, e Marrocos (1956), Tunísia (1956) e Guiné (1958), da França. Na Ásia, Camboja (1953), Laos (1953) e Vietnã (1954) tornaram-se independentes da França pouco antes de serem assolados com a Guerra do Vietnã; mais tarde, a Malásia (1957) obteve independência sobre o Reino Unido.

No Brasil, no ano de 1954, o presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio a fim de evitar um golpe de Estado, sucedido por vários governantes — Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos — até que Juscelino Kubitschek, em 1956, foi eleito presidente da República.

→ Economia nos anos 50

O término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, preparou os EUA para representarem a nação mais poderosa, economicamente, do Ocidente. A causa foi a própria guerra, já que o país se encontrava distante dos principais palcos de combate e se tornou o principal credor na reconstrução de diversas nações europeias e asiáticas por meio do Plano Marshall, proposto em 1947 e em vigor até 1951, que forneceu cerca de 18 bilhões de dólares a grande parte da Europa Ocidental, servindo também de estratégia para angariar aliados contra a influência soviética.

Como resultado, na década de 1950, os EUA se tornaram um país de prosperidade, para as classes médias, e de elevada cultura de consumo. Nesse período, diversas empresas de eletrodomésticos, construção civil, automóveis, tecnologia bélica, entre outras, ascenderam como megacorporações e contribuíram para o fenômeno da globalização, processo que, mais uma vez, foi incentivado pela Guerra Fria a fim de aumentar a influência do capitalismo pelo mundo.

No Oriente, o Estado da União Soviética passou a controlar os meios de produção voltados à indústria pesada, que recebeu forte investimento, além da urgência da guerra, devido à carência de infraestrutura herdada do período czarista. Em outras palavras, isso significa que, até a data da Revolução Russa, em 1917, e a posterior criação da URSS, em 1922, a Rússia era essencialmente agrária. Com o advento da Guerra Fria, o investimento em indústrias significou um boom na produção de siderúrgicas, metalúrgicas, usinas elétricas, fábricas de maquinários e a produção de armamentos e veículos de combate.

No Brasil, teve destaque a fundação da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico por Getúlio Vargas, e o Plano de Metas elaborado pelo governo JK que, apesar de incentivar a modernização do país nos setores da indústria pesada, energia, vias de transportes e eletrodomésticos, resultou em uma crise inflacionária nos anos seguintes.

Comitiva de Juscelino Kubitschek visitando as obras do Palácio do Congresso Nacional no final dos anos 50.
Juscelino Kubitschek (no centro) visitando a construção do Palácio do Congresso Nacional em Brasília, no final dos anos 50.[1]

→ Ciência e tecnologia nos anos 50

A ciência e a tecnologia avançaram consideravelmente durante os anos 1950. A razão foi a disputa entre EUA e URSS, que passaram a investir cada vez mais em pesquisas aeroespaciais, informática e dispositivos de espionagem e comunicação. A corrida espacial, iniciada em 1957, consistia em uma disputa tecnológica entre as potências beligerantes da Guerra Fria que objetivava conquistas relacionadas ao avanço aeroespacial.

A corrida não era uma mera estratégia de se obter prestígio, já que o domínio da tecnologia de foguetes e mísseis poderia colocar a potência rival em xeque, afinal, ambas passaram a fabricar ogivas nucleares em massa. E não era apenas a tecnologia de foguetes que poderia ser utilizada para fins bélicos. A corrida espacial também demandava amplo domínio nos setores de comunicação e informação, que se tornavam essenciais pelo domínio das influências ideológicas disseminadas pelas duas potências rivais.

Réplica do Sputnik 1, satélite artificial soviético lançado na década de 50.
Réplica do Sputnik 1, satélite artificial soviético lançado na década de 50.

Por isso, nesse contexto, os soviéticos Sputnik 1 e Sputnik 2 foram os primeiros satélites artificiais da história a serem lançados no espaço, em 1957. Em 1958, os EUA fundaram a agência Nasa de pesquisa e exploração espacial. O lançamento do primeiro modelo foi realizado por meio de um ICBM, o soviético R-7 Semyorka, míssil balístico intercontinental adaptado para atender ao propósito da corrida espacial. O ICBM se tornaria, durante a Guerra Fria, a arma mais atemorizante usada para intimidar mutuamente as potências rivais, dado o seu alcance de milhares de quilômetros.

Contudo, os avanços científicos e tecnológicos não foram uma exclusividade do setor aeroespacial. Em 1950, o transistor passou a ser utilizado no lugar das válvulas termiônicas de computadores. Em uma linguagem mais simples, significava que, agora, as máquinas passaram a ter menor custo e se tornaram relativamente menores e mais leves, além de notavelmente mais duráveis. Outro feito notável do período: a programação binária dos computadores de primeira geração evoluiu para comandos textuais. Nessa década, destacaram-se diversos computadores da segunda geração para fins diversos, como o UNIVAC I (1951), o TX-0 “Tixo” (1956) e o DEC PDP-1 (1959).

Os avanços e descobertas nas áreas médicas e biológicas foram igualmente impactantes:

  • em 1953, um grupo de cientistas, em sua maioria britânicos, descobriu a estrutura de dupla hélice do DNA, dando início a novas pesquisas nas áreas da genética e medicina;
  • em 1955, o médico norte-americano Jonas Salk desenvolveu a vacina contra a poliomielite;
  • pela primeira vez, em 1954, um transplante de órgão foi bem-sucedido entre gêmeos idênticos;
  • em 1957, a pílula anticoncepcional (ainda em forma de medicamento de regulador menstrual) passou a ser comercializada, incentivando a segunda onda do movimento feminista, na década seguinte, que ressignificou o papel das mulheres na sociedade;
  • ao final da década, o iproniazida e a imipramina revolucionaram a indústria farmacêutica ao servirem de primeiros medicamentos modernos no tratamento para a depressão.

Também datam dessa década muitos aparelhos domésticos como a geladeira com congelador embutido, o fogão elétrico, a máquina de lavar automática, as panelas antiaderentes e os modelos residenciais de ar-condicionado.

Veja também: Anos de chumbo — período de grande censura vivido nos anos 60 e 70, no Brasil

Anos 50 no Brasil

No Brasil, a industrialização, urbanização e modernização do país trouxeram novas interpretações culturais de sociedade. Enquanto o samba refletia as realidades das comunidades negras, especialmente no Rio de Janeiro, a bossa-nova surgia como uma releitura do gênero à indústria musical no exterior, em grande parte, excluindo a herança cultural construída pelas comunidades afro-brasileiras. Por outro lado, o Carnaval carioca foi consolidado com a popularização dos grandes desfiles e marchinhas reconhecidas até hoje (como os clássicos “Cabeleira do Zezé” e “Mamãe eu quero”).

No âmbito estético, a modernização do país resultou em obras inovadoras da arquitetura (como os prédios projetados por Oscar Niemeyer) e das artes plásticas (como as pinturas neorrealistas de Candido Portinari); houve também a ascensão do que viria a se tornar o Cinema Novo, com obras como “Rio, 40 Graus” e “O grande momento”; nos cinemas, popularizaram-se as comédias “chanchadas”. Nos lares, a primeira rede nacional de televisão, a TV Tupi, estreou no ano de 1950.

No âmbito político, os anos 50 no Brasil foram bem conturbados, principalmente devido ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954, que resultou em uma grande instabilidade politica (em apenas dois anos, três sucessores exerceram o cargo de presidente da República). Em 1956, teve início a gestão de Juscelino Kubitschek, que anunciou os “50 anos em 5” de seu Plano de Metas, e que trouxe consigo uma crise inflacionária que refletiria especialmente na década seguinte. Datam também dessa década, a fundação de grandes estatais como a Petrobras, a Eletrobras e o BNDE (atual BNDES), todas planejadas por Vargas.

Multidão no funeral de Getúlio Vargas, momento marcante da década de 1950 no Brasil.
Multidão acompanhando o funeral do presidente Getúlio Vargas, momento de grande instabilidade política no Brasil. [2]

Principais acontecimentos dos anos 50

Em ordem cronológica, entre os principais acontecimentos dos anos 50, destacam-se:

  • Início da Guerra da Coreia (1950), que perdurou até 1953;
  • Inauguração da TV Tupi (1950), primeira rede nacional de televisão brasileira;
  • Morte do líder soviético Josef Stalin (1953), sucedido por Nikita Khrushchev;
  • Início da Revolução Cubana (1953), que chegaria ao fim apenas em 1959;
  • Criação da empresa estatal brasileira de petróleo Petrobras (1953);
  • Descoberta da estrutura do DNA (1953);
  • Término da Guerra da Indochina (1954), que resultou na divisão do Vietnã em norte e sul;
  • Suicídio do presidente brasileiro Getúlio Vargas (1954);
  • Início da Guerra do Vietnã (1955), novamente em terreno indochinês, que só terminaria em 1975, com a derrota dos EUA;
  • Desenvolvimento da vacina contra a poliomielite (1955);
  • Criação do Pacto de Varsóvia (1955), bloco de Estados socialistas liderados pela URSS;
  • Primeiros boicotes aos ônibus de Montgomery (1955), liderados por Martin Luther King Jr., em decorrência da prisão de Rosa Parks, que se recusou a ceder lugar a um homem branco em uma unidade de transporte público segregada;
  • Início da Era JK no Brasil (1956);
  • Lançamento do primeiro satélite artificial em órbita, o soviético Sputnik 1 (1957);
  • Comercialização do regulador menstrual Enovid (1957), convertido em anticoncepcional em 1960;
  • Criação da agência espacial norte-americana Nasa (1958).

Saiba mais: Construção de Brasília — um marco da modernização do Brasil nos anos 50

Curiosidades sobre os anos 50

  • Apesar de o rock ter se tornado popular por meio de músicos afro-americanos, o estilo só se consolidou, de fato, com a ascensão de Elvis Presley, em 1954.
  • No ano de 1958, foram realizados os primeiros estudos teóricos envolvendo a tecnologia laser, sigla para Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation (Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação), por cientistas norte-americanos.
  • Datam da década de 50 diversas animações clássicas que são assistidas até os dias de hoje, como os títulos da Disney “A Dama e o Vagabundo”, “Peter Pan” e “Cinderela”.
  • Também foram transmitidos os últimos episódios do Tom & Jerry “clássico”, produzidos por William Hanna e Joseph Barbera de 1940 a 1958, quando do fechamento do setor de cartoons da Metro-Goldwin-Mayer (MGM), o que significou, por outro lado, a ascensão do estúdio Hannah-Barbera.
  • A pílula anticoncepcional não surgiu como um método contraceptivo, mas como um regulador menstrual, quando passou a ser comercializada em 1957.
  • O primeiro restaurante McDonald’s como franquia foi inaugurado em 1955 nos EUA, preconizando o conceito de fast food, apesar de a unidade precursora ter sido fundada em 1940.
  • Em 1959, a assinatura do Tratado da Antártida passou a permitir o usufruto do continente de maneira pacífica e colaborativa por parte dos países adeptos.
  • Ao final da década, popularizou-se o bambolê, brinquedo e aparato polêmico à época por muitos o considerarem vulgar e “hipnótico demais”.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Acervo Arquivo Nacional

[3] Acervo Arquivo Nacional

Fontes

ARBEX JÚNIOR, José. Guerra Fria: Terror de Estado, política e cultura. São Paulo: Editora Moderna, 1997.

BEZERRA, V.A. Jazz: história, estilos..., 2001. Ejazz. Disponível em https://www.hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Bezerra-Jazz-historia_estilos.pdf

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Década de 50, s.d. Disponível em https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/visitantes/panorama-das-decadas/decada-de-50

CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da Rebeldia: a juventude em questão. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

CROUZET, Maurice. A época contemporânea. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, v.7, 1974.

FOLHA ONLINE. Anos 50: Cronologia histórica, s.d. Disponível em http://almanaque.folha.uol.com.br/cronologia_50.htm

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

NOSSO SÉCULO: 1945/1960. Memória fotográfica do Brasil no século 20. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

O LIVRO DO CINEMA. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2017.

VLK. 1950: A era de ouro da moda, 2021. Disponível em: https://revistavlk.com.br/historia-da-moda-dos-anos-50

Escritor do artigo
Escrito por: Cassio Remus de Paula Cássio é doutor em História pela UFPR, mestre e bacharel em História pela UEPG. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia.
Deseja fazer uma citação?
PAULA, Cassio Remus de. "Anos 50"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/historiag/anos-50.htm. Acesso em 30 de outubro de 2025.
Copiar

Artigos Relacionados


Corrida espacial

Clique aqui e saiba mais sobre a corrida espacial, seu contexto e seus principais acontecimentos, como o lançamento do primeiro satélite em órbita, o Sputnik.

Crise dos mísseis de Cuba

Clique para saber mais detalhes a respeito da crise dos mísseis de Cuba. Entenda o contexto histórico desse acontecimento, como se iniciou e qual foi o seu desfecho.

Governo Juscelino Kubitschek

Clique aqui, conheça as características do governo Juscelino Kubitschek e saiba quais foram os principais acontecimentos desse período da história do Brasil.

Guerra Fria

Entenda o que foi a Guerra Fria. Conheça suas causas e os conflitos que ocorreram durante a Guerra Fria. Veja como foi a corrida armamentista e a espacial.

Guerra da Coreia

O que você sabe sobre a Guerra da Coreia? Clique no link para entender as causas e consequências desse conflito entre as duas Coreias (Norte e Sul) que foi iniciado em junho de 1950 e que foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria.

História da televisão

Acesse o texto para conhecer mais sobre a história da televisão. Entenda como surgiu, como foi sua popularização e como chegou ao Brasil.

Indústria cultural

Entenda o que é a indústria cultural. Aprenda suas características e suas consequências para a sociedade. Saiba como surgiu no Brasil.

Rock

Clique aqui e saiba detalhes sobre o gênero musical rock. Conheça sua origem e sua história. Descubra quais são seus principais estilos, artistas e músicas.

Segregação racial

Entenda um pouco mais sobre segregação racial com base em três exemplos históricos: EUA, África do Sul e Brasil. Saiba quais são as consequências dessa prática.

União Soviética

Acesse e saiba mais detalhes sobre a história da União Soviética, país que existiu entre 1922 e 1991. Conheça a formação e os principais acontecimentos desse país.