A Revolta da Vacina foi um levante popular que aconteceu entre os dias 10 e 16 de novembro 1904, sendo motivada pela insatisfação da população com a campanha de vacinação obrigatória estabelecida pelo governo federal contra a varíola. Essa campanha de vacinação foi proposta pelo chefe da Diretoria-Geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz.
A insatisfação da população carioca foi gerada pela falta de informação a respeito da importância da vacinação e aconteceu em um momento de agitação no Rio de Janeiro, resultado das reformas conduzidas na cidade por Rodrigues Alves e Pereira Passos. Durante a revolta popular, houve uma tentativa malsucedida de golpe militar contra o presidente Rodrigues Alves.
Leia mais: História da vacina — iniciou-se com a crianção da vacina contra varíola
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Revolta da Vacina
- 2 - Videoaula sobre revoltas da Vacina, Chibata e Contestado
- 3 - O que foi a Revolta da Vacina?
- 4 - Quais foram as causas da Revolta da Vacina?
- 5 - Por que o povo se revoltou contra a vacina?
- 6 - Líderes da Revolta da Vacina
- 7 - Oswaldo Cruz e a Revolta da Vacina
- 8 - Desfecho da Revolta da Vacina
- 9 - Quanto tempo durou a Revolta da Vacina?
- 10 - Consequências da Revolta da Vacina
- 11 - Contexto histórico da Revolta da Vacina
Resumo sobre Revolta da Vacina
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A Revolta da Vacina foi uma revolta popular que ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904.
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Essa revolta foi motivada pela insatisfação da população com a campanha de vacinação obrigatória contra varíola.
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A vacinação foi proposta por Oswaldo Cruz, médico sanitarista que combatia epidemias na capital.
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A população ficou insatisfeita com a truculência da campanha e por estar mal-informada.
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Durante a revolta popular, houve uma tentativa de golpe militar contra o presidente Rodrigues Alves.
Videoaula sobre revoltas da Vacina, Chibata e Contestado
O que foi a Revolta da Vacina?
A Revolta da Vacina foi uma revolta popular que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. Essa revolta da população se deu contra a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, proposta por Oswaldo Cruz, e que foi implantada pelo governo brasileiro como forma de combater a proliferação dessa doença.
A revolta também manifestou a insatisfação da população com a postura autoritária do governo contra a população mais pobre do Rio de Janeiro durante reformas urbanas que aconteciam. Essa dupla insatisfação com a postura autoritária dos governantes gerou uma revolta que causou uma grande destruição na capital.
Durante a revolta popular, um grupo de militares tentou realizar um golpe militar para derrubar o presidente da ocasião, Rodrigues Alves. Essa tentativa de golpe fracassou e a fúria popular foi contida dias depois.
Quais foram as causas da Revolta da Vacina?
As causas da Revolta da Vacina passam diretamente por dois acontecimentos importantes do Rio de Janeiro naquele período: a reforma para modernização da cidade e a campanha sanitária promovida por Oswaldo Cruz.
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Rodrigues Alves e a reforma do Rio de Janeiro

A ideia de reforma do Rio de Janeiro ganhou força com Rodrigues Alves, presidente eleito em 1902. Ele prometeu realizar a reforma da capital, inspirando-se no exemplo da reforma de Paris. Para isso, ele nomeou Francisco Pereira Passos como prefeito do Rio de Janeiro.
A reforma do Rio de Janeiro foi concentrada na região central, local que possuía ruas estreitas e grande concentração populacional por conta dos cortiços, construções residenciais que abrigavam milhares de pessoas. Esses locais eram habitados exclusivamente por pobres, incluindo ex-escravizados e seus descendentes.
Esse empreendimento colocou em prática todo o autoritarismo do presidente e do prefeito. Dezenas de prédios foram demolidos para que novas avenidas fossem construídas assim como novos prédios, como o Theatro Municipal. A prefeitura também fez exigências que afetaram comerciantes e usou a polícia para reprimir manifestações culturais, como as festas de Carnaval.
A reforma arquitetônica do Rio de Janeiro forçou os moradores pobres do centro a se mudarem para locais mais precários na região, mas muitos ainda foram obrigados a se mudar para os morros da cidade. Junto da reforma arquitetônica, a cidade passou por uma grande operação sanitarista que ficou a cargo da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) e seu chefe, o sanitarista Oswaldo Cruz.
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Campanha sanitarista de Oswaldo Cruz
Quando Oswaldo Cruz foi nomeado para lidar com os problemas sanitários do Rio de Janeiro, três doenças foram eleitas os alvos principais: febre amarela, varíola e peste bubônica. Para a febre amarela, a DGSP realizou a formação de brigadas de mata-mosquitos, que tinham como função passar de residência em residência atrás de focos do mosquito responsável pela transmissão da doença.
Os mata-mosquitos adentravam casas à força atrás dos focos e para fazer a higienização. Eles também poderiam exigir a reforma de uma construção, assim como sua interdição. Por fim, os mata-mosquitos ainda levavam todos os doentes para hospitais localizados em Caju (bairro no Rio de Janeiro) e Niterói. Os que contraíam doenças contagiosas mais graves, como a varíola, eram levados para outros hospitais.
Para combater a peste bubônica, foi iniciada uma campanha de extermínio de ratos no Rio de Janeiro. A população foi incentivada a capturar e entregar os ratos para a DGSP e, em troca, receberia uma compensação financeira. Logo, muitos moradores fizeram criadores de ratos para garantir uma renda extra.
No caso da varíola, a campanha foi bem controversa e desagradou à população, levando-a a se rebelar. Oswaldo Cruz propôs a vacinação obrigatória contra a varíola, e a população, insatisfeita com isso, foi às ruas.
Leia mais: Quais foram as revoltas da Primeira República (1889-1930)?
Por que o povo se revoltou contra a vacina?

A população do Rio de Janeiro se rebelou contra a vacinação porque a campanha realizada pelo governo federal foi conduzida de maneira autoritária, uma vez que a vacinação era obrigatória. Além disso, a população desconhecia os benefícios da vacinação e o governo brasileiro não promoveu nenhuma campanha para orientar a população sobre a importância de se vacinar.
O desconhecimento sobre a importância da vacina abriu espaço para que informações falsas sobre a vacinação circulassem entre a população. A oposição à vacinação foi tão grande que chegou a ser formada uma Liga Contra a Vacinação Obrigatória.
Líderes da Revolta da Vacina
Não houve um líder conhecido da Revolta da Vacina, mas os historiadores apontam que nomes como Lauro Sodré, general Silvestre Travassos e Barbosa Lima tentaram se apossar da revolta popular com o objetivo de dar a ela um cunho político e conduzir um golpe militar que derrubaria o presidente Rodrigues Alves.
Oswaldo Cruz e a Revolta da Vacina

Oswaldo Cruz foi médico sanitarista, sendo uma das figuras mais importantes no combate às epidemias em nosso país no começo do século XX. Em 1903, ele assumiu a Diretoria-Geral de Saúde Pública com o objetivo de combater algumas epidemias que assolavam a capital do Brasil, em especial febre amarela, peste bubônica e varíola.
Para esta última, ele propôs a campanha de vacinação como forma de reduzir a proliferação da doença, sendo que a obrigatoriedade da vacinação foi estabelecida em 31 de outubro de 1904. Depois da divulgação por jornais da obrigatoriedade da vacinação, a revolta se espalhou, forçando o sanitarista a acabar com a obrigatoriedade em 16 de novembro. Se quiser saber mais sobre o famoso médico brasileiro, leia nosso texto.
Desfecho da Revolta da Vacina
A Revolta da Vacina se encerrou por conta da repressão do governo ao levante. No dia 16 de novembro de 1904, o governo decretou estado de sítio, ampliando os meios de repressão aos manifestantes. A tentativa de golpe militar que se conduziu durante a Revolta da Vacina também fracassou. Houve ainda atos isolados de insatisfação no Rio de Janeiro até o dia 20 e centenas de pessoas foram presas durante esse revolta.
Quanto tempo durou a Revolta da Vacina?
A Revolta da Vacina se iniciou no dia 10 de novembro e se encerrou em 16 de novembro, quando o governo estabeleceu estado de sítio. Entretanto, os historiadores apontam que houve pequenos focos de insatisfação popular até o dia 20 de novembro.
Consequências da Revolta da Vacina
O presidente Rodrigues Alves mobilizou o Exército para conter a situação, e só depois do decreto do estado de sítio, no dia 16, a situação ficou sob controle. No meio dos protestos, militares insatisfeitos, sob a liderança do marechal Hermes da Fonseca, tentaram realizar um golpe contra o presidente. Ele chegou a cogitar fugir, mas permaneceu na capital, e os golpistas foram derrotados.
O saldo da Revolta da Vacina foi de:
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31 mortos;
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110 feridos;
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945 presos;
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461 degredados para o Acre.
Além disso, houve uma significativa destruição material na cidade do Rio de Janeiro. A campanha de vacinação não conseguiu erradicar a varíola naquele momento. Isso porque, com o fim da obrigatoriedade, a cobertura vacinal não foi suficiente. Em 1908, um novo surto de varíola atingiu o Rio de Janeiro, acometendo 6500 pessoas, e daí então é que a vacinação contra a doença ganhou força na cidade.
Contexto histórico da Revolta da Vacina
No começo do século XX, o Rio de Janeiro era a capital e a maior cidade do Brasil. A cidade tinha passado por eventos significativos nas últimas décadas, como a Proclamação da República e a Revolta da Armada. No ano de 1904, mais um desses eventos significativos marcou essa cidade.
Nesse período, o Rio de Janeiro tinha por volta de 800 mil habitantes e a fama de ser uma cidade onde as pessoas padeciam de diferentes doenças. O crescimento desordenado e a grande circulação de pessoas, somados à falta de estrutura da cidade e saneamento precário, fizeram com que diferentes epidemias se espalhassem por lá todos os anos.
Doenças como varíola, tuberculose, malária, febre amarela, cólera, entre outras, espalhavam-se facilmente, causando a morte de milhares de pessoas anualmente. Inúmeros dados estatísticos comprovam isso.|1|
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Em 1850-51, 1/3 da cidade contraiu febre amarela (90 mil dos 270 mil habitantes). Desses, mais de quatro mil morreram.
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Em 1873, 3659 pessoas morreram de febre amarela, e, em 1876, 3476 pessoas morreram pela mesma doença.
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Em 1891, mais de 11 mil pessoas morreram de diferentes doenças: febre amarela, varíola, tuberculose e malária.
A medicina da época mostrou-se incapaz de solucionar o problema das doenças que tanto afetavam a capital do Brasil. Muitos médicos cogitavam que o grande número de epidemias no Rio de Janeiro tinha relação com os miasmas, os odores pútridos que circulavam pelos ares da cidade. Os médicos culpavam os pântanos como emissores dos miasmas e falavam que os morros os impediam de se dissiparem.
Além disso, muitos médicos falavam que a aglomeração de pobres na região central e os seus “maus hábitos” contribuíam para deixar aquela região da cidade como uma das mais castigadas pelas doenças. Assim, muitas áreas pantanosas no Rio de Janeiro foram aterradas e a ideia de expulsar os pobres do centro do Rio de Janeiro ganhou força.
Nota
|1| BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Brasil Republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 215-272.
Fontes
BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Brasil Republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 215-272.
CARVALHO, José Murilo de. O povo contra a vacina. In.: FIGUEIREDO, Luciano (org.). História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 352-358.