Não lugar é um recorte do espaço caracterizado pela sua utilidade e transitoriedade. Não há, em um não lugar, elementos capazes de gerar vínculo ou sensação de pertencimento, ainda que ele seja compartilhado e ocupado pelos indivíduos. São espaços funcionais e formados por estruturas padronizadas, o que faz com que eles sejam facilmente identificados em qualquer parte do mundo. A função deles é principalmente o consumo, o comércio e o trânsito de pessoas. Então, os aeroportos, as estações de trem ou metrô e os shopping centers podem ser considerados não lugares.
O conceito de não lugar foi elaborado pelo etnólogo e antropólogo francês Marc Augé (1935-2023), que definiu o não lugar como sendo um produto da supermodernidade expressa pela aceleração do tempo, da individualização de referências e da superação das distâncias e barreiras por meio da modernização das comunicações.
Leia também: O que é espaço geográfico?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre não lugar
- 2 - O que é um não lugar?
- 3 - Características do não lugar
- 4 - Exemplos de não lugar
- 5 - Lugar e não lugar na geografia
- 6 - Origem do conceito de não lugar
Resumo sobre não lugar
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Não lugar é um recorte do espaço caracterizado pela transitoriedade e pela ausência de elementos capazes de gerar vínculos ou sensação de pertencimento.
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Tem diversas funções, sendo as principais delas o consumo, o comércio, a troca de informações e o trânsito de pessoas. São, portanto, úteis aos indivíduos.
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Os não lugares não são únicos, e suas estruturas físicas são padronizadas, o que torna fácil a identificação desse tipo de espaço em qualquer lugar do mundo.
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Aeroportos, estações de trem, estações de metrô, shopping centers, restaurantes de redes de fast food e hotéis são exemplos de não lugar.
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O não lugar é o oposto do lugar da geografia. O lugar é o espaço da vivência do indivíduo, sendo repleto de significados e identidade.
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O conceito foi desenvolvido pelo etnólogo francês Marc Augé (1935-2023). Ele associa o não lugar à supermodernidade que é característica do período em que vivemos.
O que é um não lugar?
Um não lugar é um recorte do espaço geográfico que, apesar de ocupado pela sociedade, é desprovido de elementos responsáveis pela geração de vínculos ou da sensação de pertencimento.
Um não lugar é, então, um espaço funcional|1| e dotado de estruturas padronizadas, o que faz com que eles não sejam únicos. Apesar de guardarem importância para os indivíduos por causa disso, a vida se reproduz sobre os não lugares de forma passageira, e as relações estabelecidas neles são efêmeras.
Características do não lugar
O não lugar é dinâmico. Seu dinamismo é proveniente das variadas funções que ele assume, sendo a principal delas o consumo. Além do consumo, os não lugares são destinados às trocas de informações, ao comércio, à comunicação, às conexões, aos percursos diários e ao trânsito de pessoas.
Os não lugares têm, sim, um significado e uma utilidade para a população que passa por eles, ou mesmo que depende deles, no seu dia a dia. Entretanto, não são criados vínculos de longa duração, nem com as demais pessoas que compartilham daquele espaço, tampouco com as formas e as estruturas nele presentes. A transitoriedade é, por isso, um aspecto marcante dos não lugares.
Por falar nas estruturas dos não lugares, elas são padronizadas. Isso significa que um edifício ou um elemento físico qualquer que compõe a paisagem de um não lugar no interior do Brasil, por exemplo, é muito semelhante àqueles que observamos em uma grande cidade do continente europeu. Da mesma maneira, suas funções são equivalentes. Há, portanto, homogeneidade nos não lugares, o que os torna de fácil reconhecimento, independentemente do idioma falado localmente ou do tipo de território em que ele está inserido. Até mesmo por isso é que eles podem ser descritos como funcionais.
Ninguém deveria habitar um não lugar, ao menos não por um longo período de tempo. Eles são, novamente, espaços de passagem, de não permanência. O tempo e as ações que acontecem nos não lugares são, portanto, rápidos. Esse é um motivo que garante a manutenção do anonimato daqueles que passam pelos não lugares. Com exceção dos breves contatos que acontecem nesses espaços, não é necessário que um indivíduo saiba quem é o outro, ou o que ele faz fora daquele não lugar.
Exemplos de não lugar
Os não lugares são marcados pela funcionalidade e pelo dinamismo. Por isso, são exemplos de não lugar:
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shopping center;
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rodoviárias;
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aeroportos;
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estações ferroviárias e metroviárias;
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hotéis;
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feiras;
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supermercados;
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restaurantes de redes de fast food;
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postos de gasolina;
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estacionamentos.
Compare a lista acima com a citação abaixo em que o etnólogo Marc Augé define quais são os não lugares:
Os não lugares são tanto as instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e dos bens (vias rápidas, nós de acesso, aeroportos) como os próprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongado onde são arrebanhados os refugiados do planeta. |2|
Lugar e não lugar na geografia
Lugar é uma das categorias de análise da geografia e representa o menor recorte do espaço geográfico. Um lugar é definido como o espaço de vivência do indivíduo, sendo ele delimitado a partir da memória, do afeto e das experiências. Uma rua de uma cidade pode ser um lugar, assim como uma praça, uma quadra de esportes ou a própria cidade. Esses espaços são vivenciados e percebidos de forma diferente por todas as pessoas que fazem uso dele, ou que habitam na sua área física. É um local de permanência e de relações que apresentam significado, mesmo que nem sempre sejam duradouras.
Tomemos um bairro como exemplo. Ele é um lugar diferente para cada uma das pessoas que habitam ou habitaram nele, já que as vivências são individuais. Quando pedimos para os moradores descreverem o bairro, eles vão descrevê-lo da forma como sentem e presenciam o espaço.
Perceba que o lugar é o oposto do não lugar. Apesar de o segundo conceito pertencer ao campo da antropologia, a geografia, enquanto ciência multidisciplinar, pode fazer uso da mesma definição que vimos anteriormente para a análise do espaço geográfico. Inclusive, o contexto de surgimento do não lugar está atrelado ao período técnico em que estamos inseridos, marcado pela globalização econômica e pela padronização do consumo.
Leia também: Conceitos da Geografia — território, região, paisagem, lugar
Origem do conceito de não lugar
O conceito de não lugar foi criado pelo antropólogo e etnólogo francês Marc Augé (1935-2023) e apresentado em sua obra Não lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade que data de 1992.
Na visão de Augé, os não lugares são o produto da supermodernidade, um período que é marcado por diferentes formas de excesso:
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a superabundância factual, que representa a aceleração do tempo com que os fatos históricos acontecem no mundo moderno;
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a superabundância espacial, aliada com a globalização do espaço, que denota a aproximação dos lugares e a superação de barreiras proporcionadas pelos meios de comunicação;
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a individualização das referências, um atributo que reflete à tendência de individualizar conceitos e explicações seguindo as próprias análises e entendimentos.
O não lugar seria, portanto, uma síntese desses elementos, já que ele não cria vínculos permanentes, é baseado no trânsito, na rapidez e no dinamismo das trocas de informações, do consumo e das demais relações efêmeras que são realizadas através desse recorte espacial. Além disso, não lugares estão presentes e são reconhecíveis em todo o mundo por causa da sua padronização, o que é típico da atual fase da mundialização.
Créditos da imagem
Notas
|1| SCHNEIDER, Luiz Carlos. Lugar e não lugar: espaços da complexidade. Ágora, [S. l.], v. 17, n. 1, p. 65–74, 2015.Disponível em: https://seer.unisc.br/index.php/agora/article/view/5311.
|2| AUGÉ, Marc. Não lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Lisboa: 90 Graus Editora, 2005, 101p.
Fontes:
AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Lisboa: 90 Graus Editora, 2005, 101p.
DA SILVA, A. N. Lugares e não-lugares organizacionais. Revista Multiface Online, [S. l.], v. 1, p. 12–15, 2014. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/multiface/article/view/2541.
RODRIGUES, Janelize. Os “não-lugares” e as ressignificações dos espaços públicos. Observatório do Espaço Público, 16 nov. 2020. Disponível em: https://www.observatoriodoespacopublico.com/post/n%C3%A3o-lugares-ressignifica%C3%A7%C3%B5es-dos-espa%C3%A7os-p%C3%Bablicos.
SÁ, Teresa. Lugares e não lugares em Marc Augé. Tempo social, v. 26, p. 209-229, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/sDhTTskCGVGDyqwRTyLnWPm/.
SCHNEIDER, Luiz Carlos. Lugar e não-lugar: espaços da complexidade. Ágora, [S. l.], v. 17, n. 1, p. 65–74, 2015.Disponível em: https://seer.unisc.br/index.php/agora/article/view/5311.