Cidades-esponja são cidades que foram projetadas para absorver um maior volume de águas pluviais. Esse conceito urbanístico foi criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu (1963-2025) e implementado pela primeira vez no Parque Científico de Zhongguancun, em Pequim. Hoje as cidades-esponja são parte do planejamento urbano do país e têm ganhado cada vez mais espaço em todo o mundo. A composição das cidades-esponja é feita a partir de infraestruturas como telhados verdes, parques alagáveis, jardins de chuva e outras intervenções no meio urbano que absorvem, armazenam e purificam a água.
Além de aumentar a resiliência das cidades em um período marcado pelas mudanças climáticas, as cidades-esponja amenizam os efeitos das ilhas de calor, melhoram a qualidade do ar e garantem maior bem-estar para a população que vive nos centros urbanos.
Leia também: Problemas ambientais que atingem o espaço das cidades
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre cidades-esponja
- 2 - O que são cidades-esponja?
- 3 - Elementos das cidades-esponja
- 4 - Como funcionam as cidades-esponja?
- 5 - Objetivos das cidades-esponja
- 6 - Benefícios das cidades-esponja
- 7 - Cidades-esponja no Brasil
- 8 - Quem criou as cidades-esponja?
Resumo sobre cidades-esponja
- Cidades-esponja são um projeto urbanístico que consiste na ampliação da capacidade de absorção, armazenamento e purificação de água em áreas urbanizadas.
- O conceito de cidade-esponja foi criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu (1963-2025).
- São elementos das cidades-esponja: telhados verdes, parques alagáveis, jardins de chuva, pavimentos permeáveis e praças-piscina.
- As cidades-esponja funcionam a partir da aborção de um maior volume de água das chuvas pelo espaço urbano com o auxílio da infraestrutura especializada.
- Essa água é posteriormente usada na limpeza pública, lançada de forma controlada em mananciais ou devolvida à atmosfera pelo processo natural de evapotranspiração.
- O objetivo das cidades-esponja é aumentar a resiliência das cidades para o enfrentamento de condições adversas em meio às mudanças climáticas.
- Além de impedir fenômenos como alagamentos e inundações, as cidades-esponja amenizam ilhas de calor, melhoram a qualidade do ar e conferem maior bem-estar à população.
- Não há cidades-esponja no Brasil. Entretanto, existem espaços com projetos urbanísticos semelhantes àqueles que integram o conjunto de infraestrutura das cidades-esponja.
O que são cidades-esponja?
Cidades-esponja são um projeto urbanístico alinhado com o conceito de cidade sustentável caracterizado pela ampliação das áreas verdes e infraestruturas necessárias para captação de água nas cidades. De forma simplificada, uma cidade-esponja é uma cidade sensível à água|1|. Esse projeto tem como principal função aumentar a absorção, o armazenamento e a purificação de água no espaço urbano a fim de diminuir a ocorrência de alagamentos, aumentar a disponibilidade hídrica e melhorar o microclima das cidades.
O conceito de cidades-esponja surgiu na China no começo dos anos 2000, muito embora o projeto para o manejo do sistema de captação hídrica no meio urbano tenha sido desenvolvido ainda em meados da década de 1990.
Sua primeira aplicação aconteceu no Parque Científico de Zhongguancun, localizado no Distrito de Changping, em Pequim, e considerado o principal polo tecnológico do país. A partir de então, o projeto se expandiu para diversos campus universitários e, em 2013, passou a ser discutido nacionalmente em caráter estratégico um ano após a capital chinesa enfrentar a sua pior chuva em mais de seis décadas. Com isso, pode-se afirmar que a China foi o país pioneiro na implementação das cidades-esponja, que se tornaram parte dos planos urbanísticos oficiais a partir do ano de 2014.
Hoje em dia, contudo, Auckland, na Nova Zelândia, é considerada a cidade mais “esponjosa” do mundo, com 50% de cobertura verde que absorve aproximadamente 35% da água que chega até o solo na forma de precipitação.
Elementos das cidades-esponja
As cidades-esponja são constituídas a partir da integração de infraestrutura verde, ou sustentável, que são instrumentos responsáveis pela absorção e armazenamento de água. A vegetação é, sem dúvidas, um dos elementos mais importantes nesse tipo de projeto urbanístico, mas a sua presença está atrelada a outros recursos que auxiliam na execução das diferentes tarefas que são previstas nas cidades-esponja. Com isso, são estruturas presentes nas cidades-esponja:
- Telhados verdes ou coberturas verdes: descritos como o coração das cidades-esponja, são construídos a partir da instalação de jardins na cobertura de residências e edifícios, o que promove a maior retenção de água. Eles diminuem o volume de água que chega até bueiros e bocas de lobo e aumentarem a evapotranspiração no ambiente urbano. Tem-se, com isso, a diminuição de alagamentos, a melhora na qualidade do ar e o controle da temperatura nas cidades.
- Parques alagáveis: são áreas projetadas para conterem o excesso de água das chuvas. Com isso, esses parques têm a capacidade de armazenar e escoar, posteriormente, todo o volume hídrico que foi acumulado durante o período chuvoso. Por causa disso, uma parte dela fica inutilizável temporariamente. Os parques alagáveis são vistos como uma alternativa aos piscinões, visto que servem também para o lazer da população.
- Jardins de chuva: pequenas áreas plantadas com gramíneas ou árvores que dão flores, instaladas comumente em depressões no terreno, que auxiliam na retenção e na purificação da água das chuvas. Esses jardins costumam adornar a entrada de edifícios de forma a absorver a água que cai pelas fachadas ou telhados, impedindo a sua chegada até o asfalto. Os jardins de chuva de maior dimensão recebem o nome de instalações de biorretenção.
- Pavimento permeável: as cidades têm como característica o asfaltamento impermeável, um dos responsáveis por fenômenos como o alagamento. O uso de pavimento permeável permite a maior infiltração de água no solo, gerando menor acúmulo na superfície e, portanto, reduz a probabilidade de represamento em ruas e avenidas.
- Praças-piscina: o funcionamento das praças-piscina é semelhante aos parques alagáveis. São amplas áreas de lazer construídas com a dupla função de recreação para os moradores, com a presença de quadras e espaços de descanso, assim como o armazenamento de água durante o período chuvoso. Dessa forma, as praças-piscina são importantes para controlar o excesso de água e evitar o seu represamento sobre as ruas, evitando fenômenos como os alagamentos no meio urbano. O principal exemplo desse tipo de infraestrutura é a praça-piscina de Benthemplein, localizada em Roterdã, nos Países Baixos.
Além dessas, existem outras estruturas que podem ser incorporadas ao espaço urbano para aumentar a permeabilidade e a absorção de água:
- canteiros pluviais;
- fachadas verdes;
- lagos pluviais;
- parques lineares (construídos nas margens de mananciais);
- biovaletas.
Leia também: O que causam as enchentes?
Como funcionam as cidades-esponja?
As cidades-esponja funcionam a partir da implementação da infraestrutura específica que conhecemos acima, que torna o espaço urbano mais sensível à presença de água. Isso significa que, a partir do uso integrado de diferentes tipos de recursos, a cidade consegue fazer a absorção de um maior volume de água pluvial (das chuvas). Assim, o excesso de água que normalmente ficaria acumulado sobre o pavimento impermeável, alagando ruas e avenidas, tem um outro destino: ele fica armazenado em grandes reservatórios artificiais, próprios para essa finalidade, ou são reincorporados ao solo e à natureza.
Passado o período chuvoso, a água que ficou retida em piscinas, lagos ou bacias artificiais é liberada de maneira controlada nos mananciais ou utilizada para a limpeza de espaços públicos e para a irrigação. Além disso, uma parte retorna para a atmosfera por meio do processo natural de evapotranspiração.
Objetivos das cidades-esponja
As cidades-esponja foram criadas com o objetivo de aumentar a resiliência das cidades em um contexto de mudanças climáticas por meio da ampliação da sua capacidade de absorver e armazenar a água das chuvas. Dessa maneira, esse modelo surge como uma solução inovadora e sustentável para o manejo das águas pluviais no espaço urbano.
Benefícios das cidades-esponja
- Reduzem a ocorrência de eventos como os alagamentos e as enchentes.
- Amenizam as ilhas de calor, já que a maior presença de vegetação e de corpos hídricos construídos artificialmente controlam a temperatura no meio urbano.
- Melhoram o regime hídrico nas cidades, principalmente por fornecer maior aporte de umidade para a atmosfera e contribuir positivamente para o ciclo da água nesses espaços.
- Com o restabelecimento do ciclo hidrológico no meio urbano, as cidades-esponja auxiliam na purificação natural da água.
- Melhoria na qualidade do ar das cidades por meio da filtragem que acontece pela vegetação adicional.
- Garante maior qualidade de vida e bem-estar para a população que vive nas cidades, tanto pela purificação do ar e da água quanto através da abertura de novos espaços públicos de lazer e recreação.
- Torna as cidades resilientes às mudanças climáticas, que têm suscitado a ocorrência cada vez mais frequente de chuvas muito intensas e volumosas, ondas de calor e secas severas.
- Cria novos hábitats no meio urbano, aumentando o potencial para abrigar diferentes formas de vida animal.
Cidades-esponja no Brasil
Algumas cidades brasileiras já apresentam recursos que são observados nas cidades-esponja. Contudo, mesmo essas áreas urbanas ainda não estão totalmente adaptadas ao modelo de cidade verde e não podem ser consideradas, de fato, uma cidade-esponja.
Em Curitiba, no estado do Paraná, o Parque Barigui apresenta um lago cuja principal função é reter o excesso de água proveniente das cheias do rio Barigui. Existem outros parques curitibanos com essa mesma função.
No Rio Grande do Sul, municípios que circundam a Lagoa dos Patos apresentam campos úmidos que auxiliam a reter a água excedente da laguna. O estado, aliás, se tornou o centro das discussões sobre a implementação de infraestrutura verde nas cidades após a tragédia que aconteceu em maio de 2024, quando chuvas sem precedentes atingiram o Sul do Brasil e causaram cheias históricas. Cerca de 95% das cidades gaúchas foram afetadas por enchentes, e 600 mil pessoas ficaram desabrigadas.
A transformação das cidades brasileiras em áreas mais sensíveis à água depende de inúmeros fatores, sendo um deles a própria infraestrutura urbana presente no país. A maior parte das cidades do Brasil tem algum tipo de problema relacionado com a precariedade das redes de abastecimento, inúmeros assentamentos informais e climas distintos, conforme pontuou o próprio criador do conceito de cidades-esponja em entrevista ao Brasil Escola.|2|
Devido a isso, elas exigem um plano urbanístico que seja adaptado aos aspectos do seu próprio tecido urbano, aliado com o clima e o bioma local. Com isso, além da garantia de eficácia da infraestrutura verde, a cobertura vegetal consegue cumprir adequadamente o seu papel ecológico.
Quem criou as cidades-esponja?
O conceito de cidades-esponja foi criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu (1963-2025), que atuou como consultor do governo chinês, professor na Universidade de Pequim e diretor e fundador da empresa Turenscape, que tem se dedicado à implementação de infraestrutura verde e azul em cidades de diferentes partes do mundo.
Créditos da imagem
Notas
|1| REDAÇÃO. Cidades-esponja na China e no resto do mundo: saiba onde essas metrópoles inteligentes já existem. National Geographic, 28 mai. 2024. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2024/05/cidades-esponja-na-china-e-no-resto-do-mundo-saiba-onde-essas-metropoles-inteligentes-ja-existem.
|2| VECHI, Tiago. Cidades-esponja e o combate às inundações no Brasil. Brasil Escola, 05 jul. 2024. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/noticias/cidades-esponja-e-o-combate-as-inundacoes-no-brasil/3131666.html.
Fontes
DE URBANISTEN. Watersquare Benthemplein. De Urbanisten, [s.d.]. Disponível em: https://www.urbanisten.nl/work/benthemplein.
EVANS, Kate. The 'spongy' cities of the future. BBC, 23 ago. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20220823-how-auckland-worlds-most-spongy-city-tackles-floods.
GUIMARÃES, Ligia. Os modelos "cidades-esponja" que já existem no Brasil. DW, 13 jun. 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/os-modelos-cidades-esponja-que-j%C3%A1-existem-no-brasil/a-69353578.
JONES, Frances. Como as cidades-esponja podem ajudar a prevenir enchentes. Revista Pesquisa FAPESP, 25 jun. 2024. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/como-as-cidades-esponja-podem-ajudar-a-prevenir-enchentes-nas-cidades/.
REDAÇÃO; DW. O que é um 'parque alagável', que salvou Dinamarca de 'chuva do milênio'. UOL Notícias, 08 mai. 2024. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/05/08/o-que-sao-parques-alagaveis.htm.
REDAÇÃO. O que são cidades-esponja, conceito criado por arquiteto chinês morto em acidente aéreo no Pantanal. G1, 24 set. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/09/24/o-que-sao-cidades-esponja-conceito-criado-por-arquiteto-chines-morto-em-acidente-aereo-no-pantanal.ghtml.
TURENSCAPE. Sponge city: Theory and practice by Kongjian Yu and his team. Turenscape, [s.d.]. Disponível em: https://www.turenscape.com/topic/en/spongecity/index.html.