Boia-fria: o que é, características, origem, resumo - Brasil Escola

Boia-fria

Boia-fria é um trabalhador autônomo e temporário que desempenha serviços braçais no meio rural, mais especificamente o corte e a colheita durante o período da safra agrícola.

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Boia-fria é o trabalhador braçal do campo. Ele trabalha comumente no período da safra realizando o corte ou a colheita na lavoura, sendo essa uma ocupação temporária e de caráter informal. Os boias-frias habitam em cidades e acordam muito cedo para se deslocarem até a zona rural para desempenharem suas funções. Eles levam consigo uma marmita com o almoço pronto, a qual acaba sendo comida fria quando chega a hora do seu breve intervalo, de onde surgiu a sua denominação. As jornadas de trabalho são longas e exaustivas e oferece uma série de riscos ao trabalhador. Com a mecanização do campo, o trabalho do boia-fria tem se tornado cada vez mais escasso, embora não inexistente.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre boia-fria

  • Boia-fria é o trabalhador braçal que atua de forma temporária em lavouras durante o período da safra (corte e colheita).

  • Por sair muito cedo de casa, já com seu almoço (a boia, em linguagem popular) pronto, e comer a refeição fria durante a sua pausa, recebeu o apelido de boia-fria.

  • São trabalhadores informais, sem nenhum tipo de vínculo empregatício. Trabalham em jornadas exaustivas sob o Sol quente e no calor, muitas vezes sem instrumentos seguros.

  • É comum que eles realizem, todos os dias, a migração pendular entre a cidade e a zona rural.

  • O trabalho dos boias-frias é cíclico, dependente das safras. É, ainda, um tipo de trabalho temporário pelo mesmo motivo.

  • A mecanização do campo tem tornado os boias-frias cada vez menos presentes nas lavouras, embora eles ainda existam.

  • O boia-fria surgiu a partir da segunda metade do século XX como fruto da modernização do campo, da conquista de direitos pelos trabalhadores rurais registrados e da expansão do agronegócio e das grandes propriedades de terra.

  • Todos esses fatores listados acima causaram êxodo rural e, consequentemente, a reinserção dessas pessoas no mercado de trabalho.

O que é boia-fria?

Boia-fria em seu contexto de trabalho.[imagem_principal]
Os boias-frias são trabalhadores braçais do campo que atuam principalmente no período de safra.

Boia-fria é o nome dado ao trabalhador rural que atua de forma temporária em lavouras agrícolas e desempenha a atividade braçal. A denominação de boia-fria tem relação com o modo de trabalho e com as jornadas enfrentadas por esse tipo de trabalhador: os boias-frias acordam muito cedo para se deslocarem até o meio rural, saindo de casa antes mesmo de o Sol nascer. Por causa disso, levam a sua refeição para o almoço já pronta para o consumo. Depois de uma longa manhã de trabalho, eles fazem a sua pausa e consomem a comida, chamada de boia no jargão popular, fria, já que não há um local onde ela possa ser requentada. Vem daí o nome boia-fria.

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Características dos boias-frias

Os boias-frias são os trabalhadores braçais do campo. A sua atuação acontece principalmente na época da safra, quando se faz necessária a contratação de mão de obra temporária para a colheita ou para o corte, destacando-se o papel dos boias-frias no corte da cana-de-açúcar no interior do estado de São Paulo. Por serem trabalhadores temporários, os boias-frias não são registrados na maioria das ocasiões, e isso deixa-os desprotegidos das leis trabalhistas brasileiras. Como veremos adiante, tal aspecto torna-se um risco para a saúde dessas pessoas por causa da forma como eles devem trabalhar. Além disso, os boias-frias são trabalhadores autônomos.

A maior parcela dos boias-frias apresenta baixo nível de qualificação profissional e, também, baixa escolaridade, o que dificulta a sua recolocação profissional em meio ao avanço da mecanização e da automação de processos nas cadeias produtivas agrícolas. Em alguns casos, a busca pelo trabalho no campo é derivada do processo de êxodo rural.

Os boias-frias realizam diariamente, durante seu período de trabalho, um tipo de migração muito particular que é denominado de migração pendular. Isso significa que eles deixam o local onde moram, a cidade, e deslocam-se para a lavoura, no meio rural, para desempenharem a sua função. Ao final do dia, retornam para suas residências, retomando essa rotina na manhã seguinte. Existem trabalhadores que habitam temporariamente nas terras onde trabalham. Nesse caso, eles não se enquadram na categoria dos boias-frias.

Como é o trabalho de boia-fria?

Boia-fria realizando trabalho braçal.
O trabalho do boia-fria é extenuante pelas longas jornadas, pelas condições em que trabalham e, ainda, pelo esforço que desempenham. [2]

Anteriormente falamos sobre o boia-fria ser o trabalhador que exerce o trabalho braçal no campo. Com isso, o trabalho de boia-fria é pesado e exaustivo. Apesar de começar durante as primeiras horas da manhã, a função é prolongada para durante o dia, e por isso os boias-frias trabalham, comumente, sob o Sol forte e diante de um calor que aumenta com o passar das horas. A maior parte deles tenta proteger-se com blusas de manga comprida e com bonés reforçados e que cobrem quase todo o rosto, mas, ainda assim, o período de exposição e o esforço tornam o trabalho extenuante.

Nem sempre os boias-frias têm acesso a instrumentos de boa qualidade para desempenharem sua função, o que aumenta a periculosidade desse tipo de trabalho. Considerando apenas o trabalho, descartando as condições a que o boia-fria é submetido, essa já é uma ocupação que apresenta riscos ao indivíduo. Desse modo, não são incomuns os acidentes de trabalho. Por ser autônomo, ou seja, por não ter nenhum tipo de vínculo empregatício, tais ocorrências não recebem a devida atenção, e não existe obrigatoriedade da parte do empregador. É, com isso, um trabalho precarizado e que oferece baixa segurança e alto risco.

As jornadas de trabalho de um boia-fria são bastante longas e duram cerca de dez horas ou mais. O intervalo que eles têm para fazerem a sua refeição é muito curto e desproporcional em relação ao tipo de trabalho e ao esforço que é realizado: cerca de trinta minutos. Não bastasse isso, a remuneração que é dada aos boias-frias é baixa. Lembrando, ainda, que é um trabalho cíclico, dependente da safra. Como tal, torna-se temporário.

Boia-fria ainda existe?

Sim, os boias-frias ainda existem. No entanto, essa é uma ocupação cada vez mais rara. A quantidade de boias-frias trabalhando nas lavouras tem diminuído de forma consistente desde a década de 1990, período em que houve a intensificação do processo de mecanização do campo.

A introdução de maquinários agrícolas no meio rural brasileiro começou a partir da década de 1970, quando a Revolução Verde dava seus sinais no país. Sua difusão e sua popularização entre os produtores rurais, entretanto, aconteceram principalmente depois da década de 1980, com a internacionalização da economia nacional, o aumento da demanda por produtos agropecuários e a forte presença do agronegócio no setor primário. Assim, a modernização tecnológica da produção agrícola é o principal fator que tem causado o menor emprego de boias-frias no campo.

Máquina agrícola no campo, exemplo de equipamento que tem substituído o trabalho do boia-fria.
As máquinas agrícolas têm substituído o trabalho do boia-fria.

Existe uma parcela de trabalhadores rurais que receberam treinamento e qualificação para que pudessem ocupar diferentes postos, tornando-se quase aliados da tecnologia. Outra parcela, em contrapartida, acabou perdendo espaço para a automação, que tem como objetivo o aumento da produtividade e, por conseguinte, dos lucros obtidos a partir da lavoura.

Tem acontecido, também, um processo de migração de boias-frias entre diferentes zonas rurais de cidades vizinhas à sua cidade em busca de trabalho durante a safra. Aqueles que não conseguem procuram recolocação em empregos na cidade, o que também impõe dificuldade pela baixa qualificação.

Acesse também: O que foi a Revolução Verde?

Origem dos boias-frias

Há muitas análises que fazem o comparativo entre o trabalho do boia-fria com o trabalho forçado que era desempenhado pelos escravizados no período do Brasil Colônia. Da maneira como conhecemos hoje, entretanto, o boia-fria surgiu quando pequenos proprietários de terra e trabalhadores rurais passaram a ser expulsos do campo. De um lado, essa expulsão ocorreu por causa da maior proteção jurídica conquistada pelos trabalhadores registrados que atuavam nas lavouras. Por outro lado, ocorreu porque as pequenas e as médias propriedades passaram a ser adquiridas por grandes proprietários de terra no contexto da expansão do agronegócio pelo interior do Brasil.

Os proprietários e os trabalhadores deslocados migraram para a cidade (êxodo rural) e, a partir de então, procuraram colocar-se no mercado de trabalho para garantir o seu sustento. Isso aconteceu a partir da segunda metade do século XX, que é quando surgem os boias-frias.

Importância do boia-fria

O boia-fria atua em uma etapa crucial da produção agrícola, que é a colheita. Seu trabalho acontece na primeira fase de cadeias produtivas complexas que produzem os mais diferentes tipos de mercadorias e bens de consumo, desde alimentos até combustíveis. Então, o boia-fria é muito importante para a produção agrícola e para o funcionamento de um conjunto de sistemas produtivos que se apoiam nessa atividade do setor primário para o fornecimento de matérias-primas. Por causa disso, a sua importância estende-se para a manutenção da economia de uma área, especialmente naquelas que dependem da agricultura, como é o caso de várias cidades brasileiras.

Créditos de imagem

[1] Alf Ribeiro / Shutterstock

[2] Joa Souza / Shutterstock

Fontes

CARVALHO, Cleide. O fim dos boias-frias. Jornal O Globo, 17 ago. 2013. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/o-fim-dos-boias-frias-9595711.

DE MELO RISK, Eloah Nazaré Varjal; TERESO, Mauro José Andrade; ABRAHÃO, Roberto Funes. O perfil do bóia-fria: uma abordagem sócio-antropológica. Cadernos Ceru, v. 21, n. 1, p. 113-128, junho 2010. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/268505779_O_perfil_do_boia-fria_uma_abordagem_socio-antropologica.

FERRAZ JR. Tecnologia tira o boia-fria do campo. Rádio USP, 13 jun. 2013. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/tecnologia-tira-o-boia-fria-do-campo/.

Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.
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GUITARRARA, Paloma. "Boia-fria"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescolav3.elav.tmp.br/geografia/boia-frias.htm. Acesso em 09 de setembro de 2025.
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